quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 78 - Por Luiz Domingues

Antes porém do próximo compromisso ao vivo, uma novidade que adveio da parte de terceiros, mas com participação d'Os Kurandeiros, surgiu. Fomos incluídos em uma coletânea, em meio a outras tantas bandas de Rock (com predomínio de artistas comprometidos com a estética do Heavy-Metal, é bem verdade), do circuito underground de São Paulo. 

Foi boa a iniciativa, não restou dúvida, sob uma ação da produtora cultural: "Quem Sabe Faz Autoral", capitaneada por Elizabeth Queiroz, que antigamente era conhecida como "Tibet", cantora da pesada e com uma boa ficha de serviços prestados ao Rock Brasileiro, desde a década de setenta. 

Com produção de áudio de Cesar Santisteban e arte gráfica de Melissa Maia, o disco saiu pelo Selo Rock Brigade Records.

Pois desde meados dos anos dez do novo século, Elizabeth criara com vários apoiadores essa espécie de "ONG" cultural, a visar abrir caminhos para shows com artistas do mundo do Rock underground, oportunidades para divulgação e também a aventurar-se no mercado fonográfico, a lançar coletâneas. 

Tanto foi assim, que este álbum em questão, tratara-se do volume dois, lançado em novembro de 2017, ao caracterizar que já havia sido lançado um volume inicial anteriormente, nos mesmos moldes. 

Com apoio da Webradio Stay Rock Brazil, tal disco apresentou em seu bojo, uma participação maciça de bandas orientadas pelo Heavy-Metal ou Hard-Rock com raízes oitentistas e dos poucos artistas que não rezaram nessa cartilha ali inseridos, estivemos nós e no caso, representados pela canção: "O Filho do Vodu", em track extraído do EP "Seja Feliz", da nossa banda, ou seja, um som considerado mais pesado, ainda que a nossa intenção fora totalmente inspirada nos estilos do Acid-Rock e no Blues-Rock praticado durante as décadas de sessenta e setenta, em tese, mas ao pensar pelo prisma de quem produziu tal coletânea, obviamente sendo a canção de nosso repertório mais próxima do peso pesado dos demais artistas, digamos assim. 

Bem, uma novidade a mais para somar ao bom mês de novembro que estávamos a vivenciar.

Agora sim, comento sobre a quarta investida da banda para cumprir a mini temporada no Santa Sede Rock Bar, em 23 de novembro de 2017. 

Da esquerda para a direita: Kim Kehl com Carlinhos Machado ao fundo na bateria e Luiz Domingues. Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar de São Paulo, em 23 de novembro de 2017. Click, acervo e cortesia: Cleber Lessa  

Em mais uma surpreendente noite fria em pleno avançar da primavera, eis que tocamos então, com absoluta tranquilidade, ao fazermos duas sessões com muitos blues, baladas e Rocks vigorosos. 

Mais uma vez tocamos no palco alternativo e que tornou-se marca registrada dessa mini temporada na casa e posso afirmar que todos gostamos dessa nova disposição, por vários motivos. Da questão da acústica à visibilidade nossa e do público, tudo pareceu ser melhor dessa forma.

Na primeira foto, o tradicional "Walk Solo" de Kim Kehl pelas dependências da casa e pela calçada, em click de Lara Pap. Na segunda foto, da esquerda para a direita, Renata Tavares, Cleber Lessa a segurar em sua mão o CD do "Medusa Trio" e Fernando Tavares. Click: Kelso "Zumbi". Acervo e cortesia: Cleber Lessa. Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar de São Paulo, em 23 de novembro de 2017
 
Recebemos a simpática visita do baixista superb, Fernando Tavares e de sua esposa, a baterista Renata Tavares. E eu fui agraciado com uma cópia do CD recém lançado do grupo "Medusa Trio", do meu amigo, Milton Medusa, guitarrista da pesada e onde Tavares era componente, por ser o baixista da banda na ocasião. 

Ali mesmo na casa, o nosso simpático anfitrião, Cleber Lessa, já tratou de providenciar uma audição, o que foi muito agradável, sem dúvida alguma. Power-Trio instrumental de alto padrão, mas não preso ao mundo do Jazz-Fusion como geralmente espera-se de músicos virtuoses e catedráticos, pela primeira audição, mesmo sem poder prestar a devida atenção, pois conversávamos, já deu para ver que não, tratava-se de uma obra eclética e muito agradável.

Mural a expor a discografia completa d'Os Kurandeiros e disponibilizado em redes sociais da Internet, ao final de novembro de 2017. Produção de Kim Kehl
Dali em diante, o próximo passo foi realizar a quinta edição desse projeto bem sucedido no Santa Sede Rock Bar, a encerrá-lo com chave de ouro, no dia 30 de novembro de 2017. E mesmo que tenha sido uma noite ainda aparentemente fria em termos de temperatura, ao se considerar a época do ano, eis que um bom público compareceu às dependências do Santa Sede Rock Bar nessa noite de 30 de novembro.
Enquadramento sinistro com a banda em ação no dia 30 de novembro de 2017, no Santa Sede Rock Bar de São Paulo. Click de Lara Pap
"Pro Raul" (Kim Kehl/Oswaldo Vecchione) , no Santa Sede Rock Bar, de São Paulo, em 7 de dezembro de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=4oiHSbDnQyU
"A Noite Inteira" (Kim Kehl), no Santa Sede Rock Bar, de São Paulo, em 30 de novembro de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=LIgodSxltvg

"O Filho do Vodu" (Kim Kehl) (trecho - "Walk Solo"), no Santa Sede Rock Bar, de São Paulo, em 30 de novembro de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ij21dYcUmrQ

Fizemos a primeira entrada com bastante incidência de Blues e Rocks internacionais e assim que o set inicial encerrou-se, eu fui cumprimentar vários amigos na plateia, que vieram prestigiar a banda

Foi quando eu recebi a notícia do falecimento de um ente querido. Eu já tinha consciência de que a situação desse meu familiar estava periclitante e caminhava para tal desfecho ao se considerar a idade avançada desse meu tio muito querido e sobretudo pela sua recente internação hospitalar que apontara piora no seu quadro clínico, diariamente pelos boletins médicos emitidos. 

Todavia, claro, mesmo a esperar pelo desfecho inevitável que desenhara-se, a notícia teve o efeito de um soco no estômago e após eu estabelecer alguns contatos telefônicos para saber de maiores informações sobre os procedimentos funerários advindos, o meu ímpeto imediato em querer ir ao necrotério do hospital a fim de dar apoio às minhas primas, não logrou êxito na medida em que fui informado que não liberariam o meu acesso, por uma questão de praxe hospitalar. 

Portanto, mesmo com os companheiros e a própria Lara Pap, nossa produtora, a deixarem-me a vontade para decidir não cumprir a segunda entrada e ir embora, eu notei também que a minha presença em casa não precisava ser imediata, visto que a minha mãe estava bem amparada e apesar de triste pela perda de seu irmão, ela não careceu de minha presença urgente. 

Dessa forma, decidi prosseguir com a apresentação junto aos meus colegas e após uma segunda entrada muito boa, com um set 100% autoral, fui mais cedo para a casa ao não contribuir com a desmontagem do equipamento, assim que a apresentação encerrou-se.

Uma foto que eu mesmo tirei de um detalhe da decoração do Santa Sede Rock Bar, antes do soundcheck iniciar-se. Reduto Hippie, por excelência, eis aí um "Magic Bus" ou "Magical Mystery Tour", bem sessentista. Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar. 30 de novembro de 2017. Click: Luiz Domingues

Eu não costumo incluir aspectos mais pessoais e/ou familiares no texto da minha autobiografia, que desde a sua primeira linha, versa pelo foco na minha carreira musical. Mas inevitavelmente alguns poucos fatos fizeram-se representar ao longo da narrativa, pela necessidade premente em algumas passagens relatadas sobre determinados acontecimentos ao longo da história. 

Feita essa ressalva, eu só quero deixar registrada aqui uma menção nesse aspecto mais pessoal, pois acho pertinente pelo personagem familiar que perdi nesse dia. É fato que esse meu tio que "partiu para uma nova dimensão, digamos assim, bem nesse dia 30 de novembro de 2017, enquanto eu tocava com Os Kurandeiros no palco do Santa Sede, foi um dos poucos familiares que sempre apoiou-me na minha decisão de fomentar uma carreira artística. 

Portanto, deixo aqui no meu relato autobiográfico, a minha homenagem e agradecimento ao meu querido tio, Sérgio Barretto, uma figura incrível e que possuía uma sabedoria mastodôntica em sua bagagem pessoal, um grau de bondade raro para os padrões normais da humanidade tão egoísta em essência e um nível de cultura geral avantajada ao ponto de eu haver nutrido uma declarada admiração por sua pessoa, desde a minha tenra infância. 

Fã de música clássica, Jazz e Blues, ele sempre incentivou-me, mesmo quando muitas vozes da família tomaram sentido oposto a criticar-me, velada ou abertamente por tal tomada de posição de minha parte. 

Ele chegou a ajudar-me, na medida do possível, quando tentou intermediar um contato com um artista que esteve com certa proeminência no mainstream da música brasileira, durante os anos oitenta e que por absoluta coincidência, esse meu tio o conhecia desde a sua infância, pelo fato de ser amigo de seus pais. 

Escritor, com muitos livros publicados, meu tio propôs-me em outra ocasião, também nos anos oitenta, que eu musicasse um libreto por ele concebido para ser texto base para uma ópera. Por seu gosto pessoal, ele desejara o formato musical tradicional do gênero, mas ficaria contente se sua história fosse utilizada com uma roupagem ao estilo de uma "Ópera-Rock", igualmente. Não deu certo, mas o tema por ele proposto e criado, foi bom (mais que isso, ótimo, eu diria) e futuramente eu planejo montar uma "crônica da autobiografia" para revelar essa passagem com maiores detalhes. 

Enfim, a conexão dele com o meu sonho Rocker sempre foi sincera no sentido de sua torcida pelo meu êxito, sem cair no julgamento e nos preconceitos inerentes que estigmatizam o Rock dentro do imaginário geral e incauto na média observada no meio social. 

E assim ele procedeu com entusiasmo, desde que eu iniciei os meus primeiros esforços nesse sentido e portanto, deixo aqui meu agradecimento por seu apoio, incondicional. 

Um dia nos reencontraremos, tio Sérgio, eu tenho certeza, quando eu voltarei a proceder da forma com a qual sempre portei-me a vida inteira, quando estive consigo: ouvi-lo com atenção! 

Pois diante de uma pessoa sábia, a melhor coisa a ser feita é manter-se calado e absorver ao máximo o que ela tem a ensinar e invariavelmente trata-se de uma pérola de sabedoria que é gentilmente compartilhada com o seu interlocutor. Sou um afortunado por ter tido tal oportunidade em minha existência. Namastê!

De volta ao cerne do capítulo, a mini temporada no Santa Sede Rock Bar fora tão boa, com cinco quintas de novembro vitoriosas, que uma proposta surgiu: um show extra logo no começo de dezembro... 

Continua...

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