terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 77 - Por Luiz Domingues

O nosso próximo compromisso foi em um estabelecimento localizado no outro extremo da cidade de São Paulo. Se no sábado anterior nós havíamos visitado os confins da zona leste da megalópole paulistana, desta feita a zona sul em sua extremidade aguardara-nos. 

Marcado para o feriado de 15 de novembro, em plena quarta-feira, eis que eu fui o primeiro a chegar e verificar alguns aspectos interessantes. Primeiro, apesar de tratar-se de um bairro simples de periferia, a Vila Arriete, um bairro próximo ao autódromo de Interlagos, mostrou-se bem estruturado, principalmente ao se levar em conta que a casa localizava-se na Avenida Nossa Senhora do Sabará, ou seja, uma importante via da região, com forte comércio. 

E o segundo ponto, foi a hospitalidade com a qual eu fui recebido, bem ao estilo da nossa experiência na zona leste, quando do show anterior, quando a simpatia da parte dos mandatários da casa, era sempre um padrão infalível.

Na primeira foto, o palco a ser montado e na segunda, a banda flagrada poucos segundos antes de iniciar a apresentação. Os Kurandeiros na Hamburgueria Rock Beer de São Paulo, em 15 de novembro de 2017. Clicks: Luiz Domingues (foto 1) e Lara Pap (foto 2)
  
E o terceiro ponto, interessante, a "Hamburgueria Rock Beer" mostrou-se um espaço muito interessante em sua decoração, embora a observar um espaço físico diminuto, em tese. Sendo uma lanchonete de pequeno porte, a solução que os seus dirigentes acharam para fornecerem um espaço aos artistas apresentarem-se, foi alugar o galpão vizinho e assim, tal espaço tornou-se um mini palco voltado para a calçada, mas a manter toda a preocupação em decorar como se fosse uma coxia de teatro, ao se anexar cortinas, incluso, portanto, a garantir um élan para os artistas poderem atuar com dignidade.

Da esquerda para a direita: Kim Kehl, com Carlinhos Machado ao fundo e Luiz Domingues no canto direito. Os Kurandeiros na Hamburgueria Rock & Beer de São Paulo, em 15 de novembro de 2017. Click, acervo e cortesia de Renata Ferraz

Mas também inevitável, por ter sido um show com a calçada como elemento muito próximo de nós, apesar de haverem muitas mesinhas ocupadas por pessoas interessadas na nossa apresentação, inevitavelmente também revelou-se uma oportunidade bizarra para contatos nada usuais. 

Como por exemplo a grande incidência de senhorinhas a passarem assustadas pela calçada, com aquele monte de cabeludos e sobretudo pelo som em alto volume. Isso sem esquecer-me da presença de mendigos bem embriagados e inconvenientes, cachorros vira-latas a cata de comida, mais curiosos de plantão, além de contar com o movimento intenso da avenida e mesmo que tenha sido um dia de feriado, esta mostrara-se bem frenética, a provocar-me a imaginação sobre o quanto seria maior tal intensidade em um dia útil comum.

Da perspectiva de uma mesa próxima, a banda a atuar em um conceito surreal enquanto teatro montado na rua, praticamente. Os Kurandeiros na Hamburgueria Rock & Beer de São Paulo, em 15 de novembro de 2017. Click, acervo e cortesia de Taty Pacheco
 
A decoração da casa se mostrou bem Rocker, mas também a usar e abusar de motivações macabras, a evocarem-se os filmes de terror, principalmente os mais modernos e não necessariamente os clássicos dos estúdios de outrora, como a Universal Pictures, Hammer etc. Bem, nada contra, mas essa foi a realidade ali, com muitos palhaços macabros e filmes dessa natureza, centrados no terror contemporâneo ao estilo "sadismo & tortura", a serem exibidos ininterruptamente pelo monitor interno da casa. 

E uma boa nova também, o som mecânico da casa esteve ligado diretamente na programação da Webradio Stay Rock Brazil, uma emissora onde mantínhamos amigos leais e por isso mesmo, eu gostei de verificar igualmente a postura de lealdade da casa para com essa simpática emissora. Como único senão, a programação, ao menos naquele horário de fim de tarde, privilegiou o Heavy-Metal, portanto um fator a incomodar-me, particularmente (paciência).

Começamos a nossa apresentação e a receptividade das pessoas foi excepcional. Houve uma enorme quantidade de mesas sobre a calçada, inteiramente tomadas por clientes do estabelecimento e invariavelmente a prestarem atenção e a apreciarem a nossa performance, o que foi gratificante, não resta dúvida. Um único senão nessa apresentação, não foi por culpa nossa, tampouco da casa, mas sim por iniciativa de um inconveniente vizinho. 

Ao lado da casa, funcionava um salão rústico de dança, dedicado ao dito "forró". Não parecia apropriado para apresentações ao vivo, mas sim a fazer uso de som mecânico, unicamente. Ora, incomodado com a atmosfera "Rock" de seu vizinho/concorrente, o seu proprietário colocou um equipamento Hi Fi a todo volume, no afã de competir e chamar a atenção para si. Contudo, tal ato só atrapalhou um pouco o nosso áudio, pois enquanto a hamburgueria fervilhou com pessoas do início ao fim, tal salão amargou um movimento na marca zero %, o que despertou a minha atenção para uma reflexão interessante, pois denotou um fenômeno às avessas do que se espera para uma circunstância dessa, visto que através de um bairro simples e periférico, o normal seria um salão com tal apelo popularesco estar lotado e uma casa de Rock, com bem menos contingente, mas na prática revelou-se o contrário. 

No intervalo entre a segunda e a terceira entrada, a programação da Webradio Stay Rock Brazil amenizou um pouco o seu ímpeto Heavy-Metal e foi quando em meio a Rocks mais amenos, eu ouvi uma versão da Patrulha do Espaço para a canção dos Mutantes, "Ando Meio Desligado" e que não consta de nenhum disco oficial, de minha ex-banda, certamente. 

Por tratar-se de um bootleg ao vivo, não sei responder de onde extraíram esse track e de qual show seria, mas foi muito interessante saber que incluíram na programação uma versão ao vivo e rara, protagonizada pela minha formação "Chorophágica". E como soou bem! Eu fiquei até impressionado pelo áudio pela sua qualidade. E mais uma curiosidade, eu não havia percebido do que tratava-se, e só prestei atenção porque fui advertido pelo Carlinhos Machado que exortou-me a prestar atenção no que a emissora estava a executar naquele instante...    

Ao final, houve um surpreendente assédio com pessoas a nos abordar para pedir autógrafos e muitas delas a nos falarem sobre bandas por onde todos nós componentes d'Os Kurandeiros, havíamos passado em épocas pregressas, o que foi emocionante até, ao demonstrar que o apelo sobre a nossa banda era mais forte do que o imaginamos em nossa própria avaliação no cotidiano. 

Fomos tratados com extrema gentileza pela dona do estabelecimento, a simpaticíssima Cleide, que além disso, era uma promoter toda caracterizada dentro da proposta visual e temática da casa e esta detinha um atributo a mais de ordem pessoal: por ser chef versada em alta gastronomia e sommelier, todos os pratos da casa mostravam-se requintados e com uma impressionante identidade visual, também coadunada com a temática "Halloween" da casa, portanto, um atrativo a mais, não restou dúvida.

No dia seguinte, nós fomos para o outro extremo da cidade, na zona norte, rumo à terceira apresentação a ser cumprida na mini temporada de novembro que estávamos a realizar no Santa Sede Rock Bar. 

Desta feita, com um público significativamente maior do que a edição anterior, foi bem animada a apresentação e sob um calor muito intenso, a mostrar-nos que o mês de novembro estava enfim a se apresentar na sua temperatura normal, com a primavera a caminhar celeremente para o verão tórrido e típico da terra tupiniquim. 

Bem, após mais de três horas de uma apresentação a la "Grateful Dead" (pelo aspecto da larga extensão do espetáculo), sob forte calor e somado ao cansaço acumulado pela apresentação igualmente longa da noite anterior, não sei sobre a percepção de meus colegas, mas eu apenas posso afirmar que cheguei muito cansado, literalmente, em casa. Não sem antes passar por duas blitz policiais ainda a evadir-me da zona norte, mas sem problemas, creio que os policiais viram os meus cabelos grisalhos e o semblante de cansaço e deduziram que eu não precisava ser avaliado em sua abordagem e assim dispensaram-me de uma canseira a mais.

Mais três momentos d'Os Kurandeiros no Santa Sede Rock Bar: Carlinhos Machado a ajustar sua bateria (foto 1), o palco já quase pronto (foto 2), e a banda já em ação na noite de 16 de novembro de 2017. Fotos 1: acervo e cortesia de Carlinhos Machado com click de Cleber Lessa. Foto 2: Click de Luiz Domingues. 3) Click; acervo e cortesia de Cleber Lessa 

Uma boa nova ocorrida nessa semana, nós recebemos o anúncio de nossa produtora, Lara Pap a dar conta de que havia esgotado-se a primeira tiragem do EP "Seja Feliz", e que já estava encomendada na fábrica, uma nova edição. Ora, em meio a uma época onde comprar discos já estava completamente fora do esquadro da equação do show business em voga, uma notícia assim foi mais do que alvissareira, ao poder até ser classificada como exótica...
Fez tanto sucesso a obra da artesã, Pat Freire, com as suas molduras personalizadas a utilizar "cards" promocionais d'Os Kurandeiros, que tornou-se uma peça disponibilizada para a venda, no merchandising oficial da banda. Novembro de 2017
 
E mais uma nova interessante no campo do merchandising da banda: a artista plástica e artesã, Pat Freire, havia feito uma montagem com cartões promocionais d'Os Kurandeiros e composto assim um quadrinho emoldurado de parede, sob encomenda para a amiga da banda, Regina de Fátima Galassi. Pois essa obra até então exclusiva, agradou tanto que ela produziu mais algumas peças e assim, sob uma parceria com a banda, este passou a ser um item colecionável a mais para os fãs e disponível para a venda no site e na loja física presente sempre durante os nossos shows.
Próximo compromisso da nossa banda: a quarta edição da mini temporada no Santa Sede Rock Bar, em 23 de novembro de 2017.

Continua...

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