quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 66 - Por Luiz Domingues

Entramos em junho de 2017, com uma boa agenda e animados com a recente resenha publicada em uma revista impressa tradicional, a cotar bem o nosso último álbum lançado. 

Logo no primeiro dia do mês, voltamos ao ambiente bom da "Rockers Self Garage", onde havíamos apresentado-nos ao final de maio e gostado da experiência ali, em fazer-se show de Rock cercado por motos.

Flagrantes da apresentação d'Os Kurandeiros no Rockers Self Garage, de São Paulo, em 1º de junho de 2017. 1ª e 5ª foto de Lara Pap e as demais de Regina de Fátima Galassi
"Baby I'm a Want You" (David Gates / Bread), no Rockers Self Garage de São Paulo, em 1º de junho de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=eHVSdDkRIis

"Silver Train" (trecho..."Oh Yeah"...) (The Rolling Stones), no Rockers Self Garage, de São Paulo em 1º de junho de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=VMZh511prxs

"Cold Turkey" (trecho - soundcheck) (John Lennon), no Rockers Self Garage, de São Paulo em 1º de junho de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=XrbiOOsToTk

"Convocação para o show + "Cold Turkey" (trecho - soundcheck) (John Lennon), no Rockers Self Garage, de São Paulo, em 1º de junho de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=f4mEOdaEpso   

Mais clicks a retratar a passagem d'Os Kurandeiros pela Rockers Self Garage de São Paulo, em 1º de junho de 2017. Fotos de Regina de Fátima Galassi
 
Desta feita, mais enturmados com os proprietários, foi ainda mais prazeroso, pelas conversas que ali foram travadas e por ter ocorrido em um dia útil, por isso mesmo tenha atraído um grande contingente de espectadores, só que apesar disso, foi bem estimulante a apresentação ao ponto de que dali já sairmos com uma nova data marcada, ainda para o mesmo mês.

Uma semana depois e nós fomos tocar em uma casa nova onde jamais havíamos ido anteriormente, localizada no longínquo bairro da Granja Viana, quase na divisa entre os municípios de São Paulo e Cotia, portanto sendo necessário fazer uso de uma autoestrada como a se usar o caminho mais direto. 

Para quem não conhece São Paulo e as cidades que cercam a capital bandeirante e que juntas formam a região metropolitana (e monstruosa pelo tamanho), da Grande São Paulo, eu digo que a Granja Viana, por ser limítrofe na divisa com Cotia, é bastante longe, e por ter essa distância toda, mantém também uma característica quase como pequena cidade interiorana, com a sua vida própria e quem ali mora, se não precisar sair de lá obrigatoriamente, dificilmente arrisca-se a procurar outros bairros de São Paulo, para nada, dada a distância e o cansaço em ter que usar uma autoestrada muito congestionada, normalmente. 

Tanta foi a nossa confusão inicial para situar o local, que no cartaz promocional saiu grafado, como cidade de Cotia, no endereço, mas ali ainda era território do município de São Paulo. 

Outra característica desse bairro, por ter muitos condomínios fechados, há uma forte predominância de moradores pertencentes a classes sociais mais avantajadas, portanto, abundam as mansões situadas (ou sitiadas, ao se falar concretamente), nessas condições fortificadas, a se mostrarem como verdadeiros burgos medievais, amplamente cercados e vigiados.

Na primeira foto do pré-show, dá para ver um pedacinho da vitrine da loja de calçados, e na segunda, o meu baixo em meio ao bucólico jardim do mini Boulevard externo onde apresentamo-nos através da "Cervejaria da Granja", no bairro Granja Viana de São Paulo, em 8 de junho de 2017. Fotos de Lara Pap (a primeira) e Regina de Fátima Galassi (segunda)
 
Lá fomos nós então, e o objetivo foi apresentarmo-nos em uma casa denominada: "Cervejaria da Granja". Assim que eu adentrei a avenida onde tal estabelecimento encontrava-se, logo notei a existência de diversos restaurantes e casas noturnas estabelecidos em sua longa extensão, a comprovar a impressão que eu deduzira, assim que recebi a comunicação sobre o show estar marcado, ou seja, de que haveria de ser um ambiente a atender a jovem burguesia do bairro, naturalmente. 

E assim que eu avistei o estabelecimento, notei a presença do Carlinhos Machado já ali instalado a conversar com os garçons e o gerente da casa. Todavia, logo que arrumei uma vaga para estacionar e fui descarregar o meu equipamento, fui surpreendido pela resposta que o gerente forneceu-me sobre onde se localizaria o palco, quando este apontou-me para a vitrine de uma loja de sapatos, ao lado da cervejaria. 

Sob um primeiro instante, fiquei atônito, mas logo percebi que a casa na verdade não tinha um grande espaço interno e toda a movimentação acontecia em um pequeno Boulevard externo, onde também houve a presença de um restaurante, a tal loja de sapatos femininos, e uma pequena loja de alimentos orgânicos. Tudo muito bem arrumado e bem cuidado pelo aspecto do paisagismo, é bem verdade, mas a ideia foi essa, tocar naquele canto ao ar livre, de costas para a loja de calçados.

Flagrantes da apresentação d'Os Kurandeiros na "Cervejaria da Granja" em 8 de junho de 2017. Clicks de Regina de Fátima Galassi

Bem, banda sem reservas, isso em nada abalou a nossa motivação, embora a falta de estrutura (principalmente no tocante à questão do suporte de energia disponível ali ser totalmente inadequado e passível de cancelamento sumário da apresentação, até, por falta de condições), nós só prosseguimos por que o Kim levou consigo o seu mini PA e uma pequena usina energética que tratou de dar suporte à todas as demandas elétricas da banda, portanto, uma outra banda que não tenha condições de providenciar tal estrutura móvel, simplesmente não tem condições de ali apresentar-se e cancela o show, simplesmente.

Entre plantas e sapatos, Os Kurandeiros a emitirem o seu recado na noite de outono na "Cervejaria da Granja", em 8 de junho de 2017. Clicks de Regina de Fátima Galassi

Porém, a despeito dessa dificuldade estrutural, a apresentação foi gratificante por alguns aspectos e desalentadora em outros, mas a parte mais infeliz não deveu-se a nenhuma postura errada da parte da casa, tampouco nossa, mas da reação blasé de uma turma ali presente como plateia e de alguns ébrios mais proeminentes que chegaram a portar-se inconvenientes para conosco, por insistirem em querer pleitear "cantar", como se fôssemos músicos de "Karaokê" a dar suporte para bêbados sem noção massacrarem os ouvidos alheios com a sua desafinação atroz. 

Uma senhora, bastante alterada por sinal, chegou a exaltar-se quando teve o seu pedido nesse sentido rejeitado e hostilizou-nos com bastante empáfia, ao proferir acusações duras, a dar conta de que achara-nos "arrogantes" por estarmos a agir com "soberba" ao não termos cedido-lhe o microfone. 

Bem, acho que nem é necessário gastar o tempo do leitor para explicar a nossa posição nesse caso, não é mesmo?

"Caroline" (Status Quo), na Cervejaria da Granja, em 8 de junho de 2017

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=80tRad6Apo0

Pelo lado agradável, jovens burgueses embriagados a parte, os que respeitaram-nos, demonstraram terem gostado de nossa performance e mais que isso, o dono do estabelecimento, senhor Prado, um anfitrião mega simpático e a sua bela filha, Verena Prado, coproprietária, também gostaram muito. 

O "seu" Prado chegou a deixar de lado o caixa do estabelecimento para apreciar a nossa apresentação, principalmente quando executamos uma série de canções Pop dos anos sessenta e setenta, que empolgaram-no de forma contumaz. Maravilha, tocamos fundo o coração de alguém sensível ali, diferentemente de alguns jovens alcoolizados e norteados pela empáfia. 

Um deles, para nosso azar, abordou-nos ao final e a vangloriar-se em ser advogado e ter acabado de voltar de uma delegacia onde empreendera esforços para relaxar a prisão de um amigo, também presente ali e igualmente um bêbado soberbo como ele, ao término de sua inconveniente abordagem formulou a frase que certamente será o seu epitáfio: -"eu sou folgado, mesmo". 

Creio que a observação do Carlinhos ao responder-lhe: -"deu para percebermos", foi a melhor frase da noite. Não por acaso, já na alta madrugada, enquanto carregávamos os nossos respectivos carros para irmos embora, cerca de vinte desses garotos cantavam em plenos pulmões o hino do clube de coração da maioria ali, e não surpreendi-me nem um pouco com aquela predominância ali manifesta.

Baixista e amigo de longa data d'Os Kurandeiros, Orlando Neto, popular "Landoneto", morador da Granja Viana e responsável pela nossa indicação para esse show
 
Apesar das dificuldades e um certo dissabor nosso com parte do público, a simpatia dos que trataram-nos bem, caso do baixista e amigo de longa data, Orlando Neto, popular, "Landoneto" (que foi o responsável pela indicação de nossa contratação aos donos do estabelecimento e que foi baixista do grupo de Rock, Lírio de Vidro nos anos setenta, ao lado do Kim Kehl), estes igualmente super simpáticos e dos garçons e gerente da casa, fez com que a apresentação tenha valido a pena. 

Foi o tal negócio, os mais humildes são sempre os mais solidários e simpáticos. Já os que colocam-se no mundo a acharem-se soberanos e a tratar todos os demais, como os seus reles subalternos... 

Carlinhos Machado "perdido na selva", como diria o finado Julio Barroso... click de Regina de Fátima Galassi

Aconteceu na Cervejaria da Granja, na Granja Viana, de São Paulo, no dia 8 de junho de 2017. A próxima missão dar-se-ia ainda em junho e em meio a um lugar tradicional na vida d'Os Kurandeiros. E lá fomos nós ao bairro do Tucuruvi, na zona norte de São Paulo, para mais uma prazerosa jornada no Santa Sede Rock Bar, dos amigos Fernando Camacho e Cleber Lessa.

Continua...

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