terça-feira, 5 de setembro de 2017

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Disco Solo de Rodrigo Hid) - Capítulo 87 - Por Luiz Domingues

Rodrigo Hid com a Patrulha do Espaço em 2004. Foto: Ana Fuccia

Quando a nossa formação da Patrulha do Espaço encerrou-se em 2004, o anúncio oficial foi dado em setembro desse ano, porém, na realidade ainda cumprimos um show no mês subsequente, em outubro. Contudo, o fato é que vivíamos uma fase sob desgaste nítido na relação interna da banda, há meses, pelo menos desde o final de 2003, e assim, Marcello Schevano articulou a criação de uma nova banda em paralelo, que denominar-se-ia: "Carro Bomba" e o Rodrigo Hid começou a projetar a ideia de lançar um álbum solo.

Assim que a Patrulha do Espaço saiu de nossas respectivas vidas, soube que o Rodrigo estava a promover ensaios com o jovem e super promissor baterista da banda, "Quarto Elétrico" (Ivan Scartezini), uma ótima banda por sinal, e que havia sido atração de abertura de alguns shows da Patrulha do Espaço de nossa fase, E ele contou também com o seu baixista, o super talentoso, Thiago Fratuce, que fora um de meus melhores alunos nos anos noventa. A sua ideia inicial seria gravar o álbum em trio e por ele ser um multi-instrumentista, certamente que supriria com galhardia toda a parte de guitarras, teclados, vozes e violões acústicos, portanto a contar com uma cozinha com muita categoria, formada por Ivan Scartezini e Thiago Fratuce, tinha tudo para lançar um álbum incrível, ainda mais se levarmos em conta a obviedade de que ele é um compositor inspiradíssimo, portanto não seria apenas o atrativo da exímia execução da parte dele e de seus convidados, mas sobretudo pela certeza de que haveriam de ser músicas lindas. 

Rodrigo Hid (comigo, Luiz Domingues ao fundo), a atuar com o Pedra, em 2006. Foto: Grace Lagôa

Porém, poucas semanas depois, surgiu o convite da parte do guitarrista, Xando Zupo, para que Rodrigo viesse a integrar a sua nova banda, que estava a ser articulada e com a agravante de que eu mesmo, Luiz Domingues, também estava a participar desse projeto e assim, eu certamente insisti bastante para que ele aderisse a proposta para fazer parte desse novo trabalho, e assim culminou com que ele aceitasse mesmo o desafio e nessa nova configuração, o seu projeto para o lançamento de um disco solo foi engavetado, sine die. 

Cerca de um ano e meio depois disso, o próprio baterista, Ivan Scartezini também agregar-se-ia a essa nova banda, batizada como "Pedra" e tal história está contada em detalhes nos seus respectivos capítulos, alojados em meus Blogs 2 e 3 e igualmente nas páginas do livro impresso, com tal teor: "Quatro Décadas de Rock".

Rodrigo Hid com o Pedra em 2014. Click, acervo e cortesia: Leandro Almeida

Mas o tempo passou, o "Pedra" encerrou a sua carreira, e depois de um ano de inatividade, voltou, e acabou novamente, desta feita definitivamente. E o Rodrigo, desde muito tempo, já havia tornado-se um dos mais requisitados músicos da noite paulistana, ao tocar em bandas cover (como por exemplo o "Rockover", ao lado do excelente guitarrista, Ronaldo Paschoa, ex-Tutti-Frutti; ex-Guilherme Arantes e ex-Rita Lee), além de inúmeros pequenos combos e não obstante o fato dele, por ser eclético ao extremo, montou uma agenda incrível como artista solo, ao realizar espetáculos sob o formato: voz & violão e/ou voz & piano em inúmeras casas noturnas e também ter sido "side man" de artistas importantes da MPB, com teor Folk-Rural, como Chico Teixeira, filho do compositor e cantor/violonista, Renato Teixeira.  

Portanto, com agenda lotada, e ainda que isso seja uma maravilha, ao pensar no aspecto financeiro, demorou, mas finalmente, Rodrigo Hid vislumbrou uma boa oportunidade para desengavetar o seu projeto de lançar um disco solo. 

Para tanto, Rodrigo planejou gravar o seu disco, ao formar vários "times", com músicos amigos que transitaram pela sua carreira até este ponto e foi com muita alegria que eu recebi o seu convite para gravar duas faixas em princípio, e mais feliz ainda fiquei, quando soube que o baterista dessas duas faixas em que gravaria, seria o meu velho e querido amigo, José Luiz Dinola. Ora, que prazer gravar novamente com meu velho colega d'A Chave do Sol, e de certa forma resgatar a frustração de um outro projeto nosso não ter chegado nesse ponto em ter gravado o seu material criado, no caso o "Sidharta" e nesse aspecto, diretamente ligado também ao Rodrigo Hid.

Na sala da técnica do estúdio "A" de gravação do complexo "Orra Meu", o "Sidharta" reunido, dezenove anos depois, com a sua formação clássica. Da esquerda para a direita: José Luiz Dinola, Marcello Schevano, Rodrigo Hid e Luiz Domingues. Nesse instante, o objetivo fora gravar o disco solo de Rodrigo Hid, com Dinola e eu, Domingues, a suprir o suporte instrumental e Schevano a operar e produzir essa gravação. 1° de março de 2017. Acervo e cortesia: Marcello Schevano. Click: Diogo Barreto

Portanto, seria mais que um prazer pela amizade envolvida entre nós três, mas uma espécie de resgate tardio, mas muito bem-vindo, de algo que não conseguimos realizar naquela época, entre 1998 e 1999. 

E para reforçar toda essa incrível teia de conexões entre nós três, houve um quarto elemento que teve tudo a ver conosco e seria o propiciador técnico de tal ação. Refiro-me à Marcello Schevano, que abriu as portas de seu recém inaugurado mega estúdio, e ele próprio prontificava-se a ser o "tape operator" e produtor do álbum. Cabe destacar que quando ele e o seu irmão, Ricardo Schevano, meu ex-aluno, baixista experiente e de alto nível, há anos, montaram o seu estúdio, ambos foram estudar produção de áudio e agora estavam os dois habilitados como técnicos de gravação sob alto padrão de conhecimento. 

E diante de um estúdio maravilhoso que fundaram, com tecnologia de ponta e equipamentos e instrumentos vintage de primeira categoria, qualquer álbum que fosse produzido em seu estabelecimento, tendia a ter qualidade com alto padrão sonoro, portanto, um disco de Rodrigo Hid que traz no bojo a sua qualidade artística altíssima, e produzido nessas condições técnicas sob nível norte-americano ou europeu, só poderia ficar excelente, foi uma dedução lógica.

Reencontro de velhos amigos em jornadas conjuntas e distintas, da esquerda para a direita: Rodrigo Hid, eu, Luiz Domingues e José Luiz Dinola. Primeiro ensaio para a gravação de duas faixas do disco solo de Rodrigo Hid. Estúdio B de gravação do complexo Orra meu. 1º de março de 2017. Acervo e cortesia: Rodrigo Hid. Click: Diogo Barreto

Sobre as canções que o Rodrigo designou-me para gravar junto com o José Luiz Dinola, a minha familiaridade com ambas, fora total. Tratou-se de duas canções que chegaram a ser gravadas pelo Pedra, a fim de figurar no repertório do CD derradeiro da banda, o "Fuzuê", mas que foram descartadas pelo Xando Zupo, por questão de seu gosto pessoal, por julgá-las não adequadas ao bojo do álbum. Sobre essa produção em si, eu descrevi a situação nos capítulos finais do Pedra, basta procurar no arquivo do Blog. Mas o importante é que o Rodrigo estava disposto a regravá-las e eu que aprecio as duas, fiquei muito feliz por ter essa chance de novamente colocar o meu baixo em seus respectivos "tracks" e vê-las enfim, lançadas.

Uma delas chama-se:"Siga o Sol" e trata-se de um Folk-Prog muito bonito, com final em looping emocionante, bem setentista. E a outra peça, que na época tinha o nome provisório anotado como: "Porão" (o Rodrigo pensa em criar uma nova letra e possivelmente ele passará a ter outro título quando for lançada), trata-se de uma canção que ele já planejava gravar em 2004, quando esboçou produzir o seu disco, inicialmente. 

Tal tema ficara por anos a ser sugerido pelo Rodrigo a ser gravado pelo Pedra, mas sempre a esbarrar na resistência do Xando para incluí-la no repertório da nossa banda, e assim, mesmo que a gravamos em fim em 2013, ela não chegou a ser mixada e assim, foi descartado na hora do lançamento do disco do Pedra, "Fuzuê", em 2015, ocorrência que já citei anteriormente nos capítulos sobre o Pedra. 

Nesta nova realidade, por ter mantido o seu arranjo original, a música tem uma introdução muito a ver com o Prog-Rock setentista e uma parte cantada mais Pop, ao lembrar o som de Elton John e para citar um artista brasileiro semelhante, Guilherme Arantes.

A ensaiar com José Luiz Dinola e Rodrigo Hid, para gravar duas faixas no disco solo dele, Hid. Estúdio de gravação B, do complexo "Orra Meu". 1º de março de 2017. Click (selfie), acervo e cortesia: Rodrigo Hid 

Baseamo-nos nas gravações malogradas do Pedra, eu, Luiz e Dinola, para prepararmos as duas canções e alguns ensaios foram marcados para se estabelecer a devida pré-produção dessa gravação. E foi um prazer realizar tais encontros, para efetuar esse trabalho e inevitavelmente termos momentos com nostalgia ao agruparmo-nos os quatro ex-integrantes do Sidharta, e curiosamente, no primeiro ensaio, o Rolando Castello Junior estava presente no estúdio de gravação a participar de uma sessão de decupagem do material gravado nos shows ao vivo, onde também revivemos a nossa formação da Patrulha do Espaço, portanto, sob o mesmo teto, muitos personagens da minha história pessoal na música, em épocas diferentes estiveram ali agrupados, o que foi um momento de alegria pessoal de minha parte, sem dúvida alguma. 

Após três ensaios, a gravação foi marcada e o Dinola sugeriu uma técnica diferente na metodologia de gravação, e manobra essa que já estava habituado a usar nas gravações de sua banda, o "Violeta de Outono" e cujo conceito, o guitarrista, Fábio Golfetti, havia aprendido na Europa, entre suas andanças como membro da banda Prog-Rock, internacional, "Gong". 

Nesse conceito, ao aproveitar-se do fato da tecnologia digital estar muito avançada, ficava mais fácil gravar músicas mais complexas, ao estilo Prog-Rock, que contenham muitas partes, em trechos, e posteriormente a montagem milimétrica de tais frações se mostra perfeita. No caso da música provisoriamente conhecida como: "Porão", tal metodologia facilitou-nos a vida, pois trechos complexos foram gravados separadamente, ao minimizar ao máximo a incidência de erros. Dessa forma, muito rapidamente, o José Luiz Dinola gravou a bateria das duas canções e na mesma tarde, em pouquíssimo tempo, eu já gravei a minha parte, igualmente, com muita tranquilidade.

Ao preparar-me para gravar sob absoluta tranquilidade na sala A do estúdio Orra Meu, com Marcello Schevano na operação. E pela visão da janela, o roadie, Diogo Barreto a fazer ajustes na bateria de José Luiz Dinola, na sala ao lado. Na minha mão, o Fender Precision e no cavalete, o Rickenbacker 4001, gentilmente emprestado por  Ricardo Schevano. 19 de abril de 2017. Click, acervo e cortesia: Rodrigo Hid

Sobre os baixos que usei, levei o meu Fender Precision para gravar o Prog-Rock que torna-se uma canção Pop ao seu final e o Rickenbacker foi usado na canção Folk-Prog, a seguir a mesma intuição que eu tivera por ocasião da gravação das mesmas canções,  mas desta feita para o disco do Pedra. 

Creio ter sido adequado para as duas ocasiões, estou convencido que é o que as músicas pediram. A diferença, em relação à gravação dessas canções anteriormente para o Pedra, foi que eu usei o Rickenbacker do Ricardo (e não o meu, que curiosamente é da mesma cor, só que do modelo 4003 e do ano de 1980), e o dele é um 4001, ano 1973, ou seja, com linha de captação, "toaster". E a amplificação cedida pelo estúdio, com caixa e cabeçote Ampeg, foi absolutamente matadora, com um timbre e peso, fantástico. Ricardo Schevano auxiliou-me muito na produção desse som de baixo, e atesto que saí do estúdio muito satisfeito com a sonoridade dessa captura.

Um pouco antes da sessão de gravação iniciar-se, a conversar com meu velho amigo, José Luiz Dinola. "Um Minuto Além" e sempre reencontramo-nos na mesma "Luz". Gravação do disco solo de Rodrigo Hid, no estúdio Orra Meu de São Paulo. 19 de abril de 2017. Click, acervo e cortesia: Rodrigo Hid

O Marcello operou essa gravação, mas com a devida supervisão de um de seus professores do curso de áudio, e que também opera regularmente ali no estúdio "Orra Meu", André Miskalo. Além de Ricardo, que também habilitou-se teoricamente muito bem e acompanhou tudo de perto. Portanto, Rodrigo cercou-se de técnicos gabaritados e com tal estúdio ultra equipado e moderno, tem tudo para fazer um álbum memorável.

Algumas semanas depois dessa gravação, vi pelas redes sociais que um novo time de músicos convidados por Rodrigo já estava a gravar mais faixas. Tudo absolutamente em família, a outra cozinha convidada, fora formada por Rolando Castello Junior e Nelson Brito, ao dispensar qualquer tipo de apresentação de ambos.

E no início de julho de 2017, eis que eu recebo um novo recado no inbox do Facebook, com o Rodrigo a convocar-me para gravar mais duas faixas, desta feita com o extraordinário baterista, Franklin Paolillo, uma lenda do Rock brasileiro setentista. Uma canção será inédita e a outra, "Sonhos Siderais", uma canção que o Rodrigo compôs para o nosso projeto, Sidharta, portanto, estou muito animado para desengavetar mais uma peça que trabalhamos com tanto carinho naquele projeto realizado ao final dos anos noventa e esta não aproveitada por outra banda, posteriormente, como muitas outras que foram gravadas pela Patrulha do Espaço ou pelo Pedra. 

Dessa maneira, futuramente mais um ou dois capítulos serão escritos a descrever desse trabalho avulso que realizo com o meu velho amigo, Rodrigo Hid, e a envolver diretamente, muitos outros companheiros de inúmeras jornadas de minha carreira. 
A conversar com os irmãos Schevano, Ricardo, em pé e Marcello, sentado próximo à mesa de som. Gravação do disco solo de Rodrigo Hid, no estúdio Orra Meu, de São Paulo. 19 de abril de 2017. Click, acervo e cortesia: Rodrigo Hid

Continua...

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