segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 46 - Por Luiz Domingues

No mês de novembro, nos apresentamos novamente no Santa Sede Rock Bar, desta feita com a presença do tecladista superb, Nelson Ferraresso. 

                                   Fotos: Bolívia & Cátia

Um ótimo público compareceu à casa da zona norte de São Paulo e tivemos momentos de muita euforia pela onda certeira que imprimimos no repertório e nessa caso, o mérito foi todo do Kim, o responsável pelas escolhas na base do total improviso. 

Quando entrei na formação d'Os Kurandeiros em 2011, achei que dificilmente acostumar-me-ia a tocar em uma banda que nunca ensaiava ou formulava um set list prévio. A vida toda eu subi ao palco a saber o que ia tocar, nota por nota, ainda que sempre me desse ao luxo de ter uma boa margem de improvisação ao meu dispor.

                                   Fotos: Bolívia & Cátia

Mais que isso, achava inconcebível não ter no palco uma cópia do set list perto de cada membro da banda e me acostumei a olhar na lista para saber sobre a próxima música, qual seria, mesmo ainda a tocar a anterior. Contudo, culminei em me acostumar com tal dinâmica e nesse dia no Santa Sede, não deu tempo para respirar tamanha a sequência feliz que o Kurandeiro-Mor fez ali na base do improviso como de costume.
                                  Foto: Bolívia & Cátia

Foi um show bastante animado, toquei a usar a camiseta da Stay Rock Brazil, pois eu sabia que muitas pessoas ligadas à equipe dessa estação apareceriam e eu (e os demais, também, é claro), estava contente com a nossa participação no programa: "Live on the Rocks" que recentemente houvera ido ao ar com sucesso e quis lhes retribuir a gentileza.
                                   Foto: Rogério Utrila

Exótico na medida em que raramente, para não dizer nunca, eu uso camiseta, é portanto algo digno de nota.
Com o amigo, João Pirovic, músico, fotógrafo e radialista na Webradio Rock Nation. Foto: Bolívia & Cátia

Pessoas ligadas à produção de uma emissora webradio coirmã, a Rock Nation também compareceram, mas sem nenhuma chance de haver um mal-estar, pois até tirei foto com amigos a usarem camisetas das duas webradios e diferentemente da política e do futebol, ali não existem conflitos, muito pelo contrário, a amizade e a paixão pelo Rock movem todos na mesma direção.
                                   Foto: Regininha Oliver

Noite de 13 de novembro de 2015, bem animada para Os Kurandeiros. No dia seguinte, o clima foi tão bom quanto, porém bem mais ameno, pelo menos no início da noite. 

Nos apresentamos em uma casa mais fechada no universo do Blues, chamada:"The Boss", na Vila Madalena, bairro super boêmio da zona oeste de São Paulo. 

Mais uma vez acompanhados de Nelson Ferraresso, fizemos um milagre acrobático para acomodarmos a banda em formato de quarteto naquele minúsculo palco.

"Hootchie Cootchie Man" em versão cortada, no The Boss, em 14 de novembro de 2015

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=4CdF6i461WY

Casa com bom público e completamente diferente da noite anterior, formado por gente mais velha e muito discreta, nos obrigou a irmos a tocarmos Blues tradicionais até o término da segunda entrada. Já passava da meia noite quando a casa renovou completamente a sua audiência.
"A Galera quer Rock" no The Boss, no dia 14 de novembro de 2015

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=vCI7HwvyUsc 

Com muito mais jovens, arriscamos soltar a mão ao executamos um repertório mais Rocker e apesar do avançar da madrugada, o gerente animou-se e foi a nos pedir para que tocássemos mais e mais...

"Sou Duro" no The Boss, no dia 14 de novembro de 2015

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=lgzTY7s4Ib0 

Bem, não vou negar que gostamos, mas foi extenuante, por que já estávamos na quarta entrada quando por volta das duas horas da manhã encerramos, enfim. Estávamos a tocar desde as 21:30 aproximadamente e os intervalos não passavam de quinze minutos em média. 

Dia 14 de novembro de 2015, uma noite em que se não fôssemos todos músicos experientes, teríamos adquirido muitos calos nas mãos...

Eu e Edgard a aguardarmos o soundcheck de um show d'A Chave do Sol na cidade de Aguaí-SP, em 19 de dezembro de 1985

Por volta dessa mesma época, eu recebi o recado inbox em uma rede social, da parte de um velho personagem que pertencia ao mundo de uma banda onde eu toquei nos anos oitenta: A Chave do Sol. Foi da parte de Edgard Puccinelli Filho, o popular: "Pulgão", mas que também era conhecido nos shows d'A Chave do Sol como: "Edgard, o ET que viera da Planeta "Glapoux". 

Não o via e falava com ele há anos e agora com ele a se inserir no mundo virtual, estava a procurar as amizades do seu passado. Mas não foi apenas para promover reencontros nostálgicos com amigos do passado que ele estava procurando a todos os componentes d'A Chave do Sol, mas tinha em mente um projeto.   

A trabalhar na casa noturna: Madame Satã, Edgard convidou-me a ir lá dar uma olhada, a visar marcar alguma coisa para as bandas onde tocava na atualidade. Mais que isso, falou-me que a casa não era mais o reduto Punk e Pós-Punk que fora fortemente nos anos oitenta, e que queria revitalizar-se com novos shows etc. Além disso, ele falou que havia uma outra casa, ali no bairro do Bexiga, mesmo, chamada: Templo Club, que pertencia ao mesmo dono do Madame Satã, atual, e que tal mandatário desejava revitalizá-la também, talvez ao voltar a promover shows de Rock, ali, de forma regular. 

Bem diante disso, aceitei conversar a respeito e marcamos uma reunião, onde eu chamei o Kim Kehl e a Lara Pap para participarem dessa conversa e eventual inspeção nas duas casas citadas. 

Em um dia de final de novembro de 2015, nos encontramos na porta do Madame Satã e conversamos com Edgard e o seu sócio que eu não reconheci na hora, mas tratava-se de um empreendedor de casas noturnas que eu conhecera vagamente nos anos noventa, chamado: Johnny Dalai, que aliás, havia promovido um show do Pitbulls on Crack em uma casa noturna em 1992, chamada: "Cadeira Elétrica".

Visitamos o Madame Satã e a casa demonstrava estar com a estrutura intacta dos anos oitenta. A se parecer com um verdadeiro calabouço de castelo medieval, era um ambiente e tanto para servir como set de filmagem de filmes de terror, mas também a agradar em cheio ao público gay, com aquele ar interno impregnado de sado-masoquismo no ar. De fato, Edgard e Johhny nos disseram que diferentemente dos anos oitenta, não haviam mais Punkers e Post-Punkers ali, mas a casa se tornara um reduto gay na cidade. Nada contra tocar ali nessas circunstâncias, mas podemos ir ver o Templo Club, por favor?

Fomos a pé para o Templo Club que ficava localizado a poucos quarteirões dali, na rua Treze de maio, em frente à Praça Dom Orione. Tratava-se de um ex-igreja, que já havia sido teatro (nos anos setenta, ali funcionou o "Templo do Rock" e muitas bandas ali se apresentaram), boite, clube, voltou a ser igreja, boite de novo, e nos últimos tempos, estava apenas a ser alugada para a realização de festas particulares. 

Johnny e Edgard estavam a persuadir o dono do Madame Satã para o Templo Club realizar um projeto de shows de Rock com caráter dominical. A casa estava bem suja, carcomida pelo tempo, mas apresentava uma ótima estrutura física para o público, um PA potente e se funcionasse a contento, ótimo para show de Rock e o palco era enorme, quase no padrão de um palco de teatro. Também havia iluminação disponível, ainda que fosse um sistema pensado para boite e não para iluminar espetáculos. 

Foi uma conversa franca e muito simples, para que praticamente acertássemos ali uma parceria para fazermos um experimento a partir do início de 2016: nos moldes parecidos com a que a nossa outra identidade fez no ano de 2014, no Magnólia Villa Bar, onde a Magnólia Blues Band se apresentou toda quarta-feira a atrair um convidado especial a cada semana, a ideia seria agora que Os Kurandeiros tocassem todo domingo no Templo Club, a se anunciar um convidado diferente a cada semana. 

Bem, tudo muito teórico ainda, isso só começou a ser concretizado mesmo a partir de 2016, mas foi ali no fim de 2015, que a conversa inicial foi realizada.

No dia 4 de dezembro de 2015, voltamos ao Melts, a simpática lanchonete do bairro da Liberdade, perto do centro da cidade de São Paulo. Fazia tempo que não tocávamos ali. Tanto que a última vez houvera sido em março, poucos dias antes de eu ser internado e nessa ocasião, o meu estado de saúde foi lastimável nessa apresentação, aliás, ao irmos além, hoje até me arrependo de ter ido, pois corri risco de vida, e não deveria ter forçado. 

É bem verdade que Os Kurandeiros tocaram em maio, sem a minha presença, com o baixista, Sergio Luongo a substituir-me. Mas em meu caso, foi a grande volta, após uma estada ali não muito boa para se recordar. 

Desta feita, após muitos meses, percebemos que o quadro de funcionários havia mudado radicalmente. Haviam apenas dois ou três que conhecíamos, e aquela ultra simpatia generalizada que tanto nos cativara, já não era a mesma. Porém, longe de ser ruim, a nova turma nos tratou bem, mesmo que mais discretamente. 

Desta vez, foi uma apresentação bem mais feliz em meu caso particular, mesmo que nesse dia não tivesse havido interação com a plateia, como era costumeiro ali. Haviam muitas mesas longas, com turmas de estudantes das faculdades do entorno e também turmas de empresas a fazerem festa de confraternização de final de ano, ainda que fosse o início de dezembro apenas e isso é mais comum na segunda quinzena desse mês. 

O barulho que tais turmas faziam era enorme em sua algazarra na troca de presentes, mutuamente e chegou a nos atrapalhar, por incrível que pareça. Foi bizarro, para dizer a verdade. Bem, missão cumprida, ali no Melts, ainda teríamos dois compromissos em 2015...

Continua...

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