quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 35 - Por Luiz Domingues

Com o som acertado e por incrível que pareça em meio a uma situação bizarra de não haver nada além das vozes acoplado ao PA do teatro, agora seria apenas aguardar os três sinais do teatro e começar o espetáculo. 

No camarim, o clima de confraternização entre os Nudes esteve ótimo, a nos dar a confiança de que faríamos um bom show, apesar da condição técnica estranhíssima, já descrita.

Camarim descontraído, só a aguardar o momento para exercer a psicodelia

Quando recebemos o sinal de que as portas se abririam para o público, já estávamos prontos e só restava esperar pelos sinais tradicionais.
          Vista do camarim para o palco do Teatro Parlapatões

Ali, no improviso total, o Ciro teve uma ideia inusitada e que no âmago do trabalho todo amalgamado pela loucura que o permeava naturalmente, seria plausível e impactante. Como o camarim ficava alojado em um patamar acima do palco, bem alto por sinal, o acesso para o palco se fazia por uma escada íngreme e com uma certa periculosidade inclusive, ao fundo, a quebrar um pouco a ideia de um palco italiano tradicional, com saídas laterais de coxias etc.

Na verdade, a coxia ali era bem pequena, a se mostrar praticamente como um pequeno biombo onde os atores podiam aguardar deixa de entrada em cena, mas sem muita margem de invisibilidade. Em suma, um palco para apresentações teatrais cruas, sem muita possibilidade cenotécnica e mais baseada em texto, e na expressividade dos atores. 

Em nosso caso, como o show tinha bastante presença de texto, logicamente que as coxias poderiam auxiliar na ação de entrada e saída de cena, principalmente do Ciro e da Isabela, mas ao mesmo tempo que o espetáculo mantinha essa carga surreal & psicodélica, detinha também o elemento Rock, forte, e nesse caso, nada poderia nos deter, e nem mesmo a ausência de um PA adequado.


                  Nu Descendo a Escada, de Marcel Duchamp

Sobre a ideia extravagante que o Ciro propôs, como é sabido, o nome da banda era: "Nu Descendo a Escada" (tal nome, aliás, era baseado numa pintura assinada por Marcel Duchamp, no ano de 1912), portanto, ao ver a escada íngreme e com a projeção que havíamos programado para passar na hora do show, na própria parede e portanto, com a escada a fazer parte involuntária de tal parede, Ciro de pronto sugeriu que nos despíssemos e entrássemos em cena inteiramente nus para impactar e fazer jus à loucura que permeava o trabalho.
Bem, ninguém ficou chocado ou ultrajado em princípio, mas ali, no calor da iminência de se entrar em cena, ponderamos que seria uma loucura salutar, mas posteriormente seria ridículo fazermos o show inteiro despidos ou igualmente, se nos vestissemos em cena para dar tal prosseguimento.
                                Momentos do soundcheck       

Rimos muito, mas seria exagerado e embaraçoso em um segundo instante, além do que, apesar do teatro ser bastante acostumado a lidar com encenações bem alternativas, com grupos teatrais experimentais etc. e tal, talvez gerasse um problema ali, de ordem extra-teatral.
Bem, descartada a ideia, isso não impediu que a entrada em cena fosse performática, com o Ciro à nossa frente, a descer a escada e a portar um guarda-chuva enorme, que o caracterizara como René Magritte, seguido da banda, também a descermos lentamente, a seguir o padrão e sob as imagens de nuvens a nos transpassar e o áudio de uma chuva com trovões. Tocamos basicamente o set list que havíamos apresentado em abril último, no Sesc de Piracicaba.
Foi um misto dos dois discos solos do Ciro, mais algumas músicas novas, que já foram concebidas como fruto da nova fase da banda e em parceria com Isabela, eu (Luiz), Kim e Carlinhos.

"Evacuando Ideias na Selva do Improvável" + "Praia de Marfim", com Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada, no Teatro Parlapatões em 5 de junho de 2014

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=G3jPO8c76Js  

Logo na primeira música, um sujeito entrou no teatro, e ele veio da rua para invadir o palco, quase a tocar no Ciro, mas os seguranças do teatro estavam no seu encalço e o detiveram rapidamente, para levá-lo para fora. 

Aquilo foi tão rápido que não chegou a nos tirar a concentração, e nem mesmo nos assustou, visto que ele foi rapidamente retirado do palco, mas o público ficou sem entender nada e talvez tenham pensado se tratar de alguma intervenção cênica com atores, para causar impacto, proposital, portanto.

Após o show, comemoramos isso, pois essa intervenção inusitada pode ter reforçado todo o conceito de loucura que caracterizava o show.
Um rápido "teaser" com um trecho da música "Ecos da Tagarelice Mental"

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=H0cuk3OmGJ4 

O show foi filmado pelo irmão de Isabela, Gustavo Johansen e com apoio de Carlos Augusto Nascimento, mas não disponibilizado em versão integral, ao menos por enquanto, ao escrever este trecho em fevereiro de 2016.
Outro breve "teaser", com um trecho da música "Planos" 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=BAtwD4ZnKcI

Apenas alguns trechos estão disponíveis no YouTube, mas espero que um dia tal material seja postado na íntegra. O pós-show foi bastante festivo. Não houve um grande público presente, mas quem ali compareceu foi bastante carinhoso para conosco.
                   Grace Gianoukas & Kim Kehl no pós show

A atriz, Grace Gianoukas, famosa criadora do "Terça Insana", um dos mais famosos espetáculos de Stand Up Comedy do Brasil, compareceu. Ela era amiga de longa data do Kim, pelo fato de ter sido casada com o Abrão, um cantor com o qual o Kim teve uma banda no final dos anos oitenta: Abrão & Os Lincolns.
Foi um ótimo show, pois além da performance ter sido muito boa, ficamos muito surpreendidos sobre como conseguimos fazer um show com um PA tão inadequado e só a suprir as vozes. Claro que tivemos dificuldades inevitáveis nessas condições, principalmente o Carlinhos que guiou-se o show inteiro apenas pelo som dos amplificadores de baixo e guitarra. Mas no cômputo geral, foi bem estimulante a apresentação e agora queríamos uma boa sequência, para firmar bem essa formação da banda.
Continua...

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