sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Os Barcos - Por Marcelino Rodriguez


Durante anos, a música "Ships", da trilha da Novela Água Viva, trazia-me a imagem dos barcos da praia de Botafogo. 

E ficava dentro de mim algo me incomodando, como um sonho vago e indefinido. A imagem do ator que pegava o barco e ganhava o mar, deixando tudo para trás, sugeria-me uma fantasia vaga.
 

Um dia, finalmente, nasceu o poema “Os Barcos”.

Acredito que um dos mais inspirados da minha vida, pois sempre que passo pela Praia de Botafogo, até hoje, meu olhar se vai ao longe, sonhando, sonhando.
 

Só que aconteceu o inacreditável: um maldito vírus comeu o poema que, sem dúvida, foi um dos que mais demoraram a tomar forma, posto que muitas, a imensa maioria das minhas composições são instantâneas. Esse poema definitivo, que levou mais de década, perdi-o, como tantas outras coisas que já perdi.  

Não sei se tenho forças para tentar reescrevê-lo.
 

Algumas batalhas na vida eu já desisti por cansaço.
 

De qualquer modo, há uma magia entre eu e os Barcos da Praia de Botafogo, uma espécie de promessa de que um dia serei livre para poder estar ali, eu, os barcos e o infinito mar! 


Crônica extraída do livro "Mais Vazio que o Paraíso"



Marcelino Rodriguez é colunista ocasional do Blog Luiz Domingues 2. Escritor de vasta e consagrada obra, aqui nos traz uma crônica de seu livro "Mais Vazio que o Paraíso, lançado em 2002.

Fala sobre como a imagem de um barco o inspirou a escrever um poema, e como este se perdeu de forma efêmera, lhe trazendo a incerteza sobre ter tal epifania novamente, um dilema para todo artista, certamente.

11 comentários:

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    1. Mas que legal que estabeleceu uma identificação com o texto.

      Muito grato por sua participação, Mônica !

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Há uma magia entre nós e as doces lembranças, que nenhum " vírus " pode destruir.
    Marcelino sempre tocando as emoções!

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    1. Exatamente, e acho que Marcelino deixou tal impressão nas entrelinhas da sua crônica. De fato, uma sutileza típica do fino trato de Marcelino com as palavras.

      Grato por ler e comentar !!

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  4. Muito bonita a crônica. Essas coisas de perder poemas por aqui também já me aconteceu. Sempre um preocupação. A crônica também é importante pelo tema escolhido pelo autor. Um dia li uma entrevista do escritor mineiro, Roberto Drumond - algo assim o seu nome. Ele perdeu um romance inteiro num bar. Teve de reescrevê-lo. Nem ele sabe se ficou parecido...

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    1. Bacana que curtiu e bastante compreensível que você, Elmo, sendo um poeta, se identifique com a abordagem do Marcelino.

      Esse negócio de perder uma ideia, é algo terrível para qualquer artista. Nessa fase moderna que vivemos com os recursos da computação, somos traídos por uma série de questões técnicas que generalizam chamando de "bugs". De certa forma, guardar anotações em papel de embrulhar pão, era mais seguro, até um passado relativamente próximo....

      Roberto Drummond, ele mesmo que você citou, realmente passou por isso.

      Eu também já passei por isso, perdendo textos inteiros por algum "click" errado no "mouse", e com as ideias ainda frescas na cabeça, escrevi tudo novamente, mas não ficou igual. Perder uma ideia é um pesadelo.

      Muito grato pela sua participação sempre rica e da qual, comemoro muito !

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  5. Bravo!!!!!!
    Conheço esse colunista, amigo de coração!
    Nossa....isso já me aconteceu várias vezes, perder textos inteiros!
    Linda crônica e as lembranças a tecnologia nunca destruirá!
    bjos e linda semana!
    http://www.elianedelacerda.com

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  6. Muito bom saber que gostou e realmente já sabia que conhecia o trabalho do Marcelino, e inclusive já o tinha enfocado no seu ótimo Blog.

    A tecnologia prega peças a dá sustos para muitos autores, mas é o tal negócio, a inspiração pode não ser a mesma quando perdemos algo, mas conseguimos criar novamente, sempre, ainda que com um formato diferente.

    Muito grato por visitar meu Blog novamente, e postar seu sempre gentil comentário !!

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