sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 73 - Por Luiz Domingues

Mesmo coibido pela produção da casa, o Emmanuel conseguiu filmar alguns segundos da coxia, nos momentos em que esperávamos o sinal da produção para entrar em cena. A bagunça da organização foi imensa e contamos mesmo com os nossos roadies, pois aqueles elementos do som alugado não estavam nem aí para nós.
  Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

Ninguém da produção do festival estava por perto para dar-nos um sinal verde para entrar, igualmente e pelo fato da coxia ser grande, o Xando entrou pelo outro lado e iniciou os seus efeitos de guitarra que davam início à nossa apresentação. Dava para ouvir o som da guitarra dele a ecoar no PA, a produzir um efeito fantasmagórico, com alavanca, semelhante ao barulho de um navio a apitar em alto mar.

  Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa
 

Contudo, inadvertidamente, alguém da casa disparou um áudio de serviço, daqueles falando sobre normas de segurança dos bombeiros etc. A bagunça foi total. O Xando esboçou parar, mas eis que desligaram o disparo de áudio e o nosso show começou, mesmo sob tal tensão.
         

Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

Tocamos a nossa "introdução" normal da ocasião, que se tratava de um trecho da Ópera Rock, "Jesus Christ Superstar", e emendamos em "Madalena do Rock'n' Roll". O som do monitor estava caótico. Simplesmente, e por pura preguiça eu devo salientar, os energúmenos responsáveis pela monitoração de palco não colocaram o baixo nos monitores, tampouco no "side fill". Com isso, o meu som ficou circunscrito ao das minhas caixas tão somente. Posso imaginar o sufoco com o qual o Ivan tocou, sem ouvir o meu baixo.

Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

Os teclados estavam pouco audíveis, assim como a voz do Rodrigo, e a guitarra do Xando eu só ouvia pela reverberação do PA. Quanto à bateria, eu somente ouvia o bumbo, caixa e chimbau, com as demais peças sob um volume muito baixo. Como estávamos muito bem ensaiados, tocamos mesmo assim, nessas condições horríveis, porém muito seguros.

Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

De minha parte, a minha performance foi energética, e pelas fotos que temos, dá para notar isso tranquilamente. Inclusive, a minha foto de avatar da extinta Rede Social, Orkut, era desse show. Veja abaixo:
Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

Emendada à primeira música, tocamos a canção: "Vai Escutando". Nessa altura, apesar da monitoração caótica, eu sentia uma segurança muito grande e vendo o público, via que muitas pessoas sorriam, outras dançavam, e gesticulavam positivamente para nós.
Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto de Ricardo Zupa

Foi incrível, mas mesmo permeado por uma típica situação desconfortável de ter sido um show de abertura para uma banda internacional, nós, mesmo na incômoda posição de desconhecidos e indesejados pelo público do dinossauro setentista, estávamos a agradar a plateia! O fato da música, "Vai Escutando" ter muitos elementos de Soul Music, com outros a evocar a brasilidade, destoara totalmente da pegada das bandas anteriores, que atuaram naquele espectro do heavy-metal oitentista.

Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

Olhei para a coxia em um dado instante, e vi o Mick Box e o Lee Kerslake, acompanhados do roadie do Mick Box, e do tradutor oficial e cicerone do Uriah Heep, Rodrigo Werneck. Estavam com um ótimo semblante e a apontar para nós, conversavam entre eles de forma positiva e depois do show, o Werneck confirmou que estavam a gostar do nosso som.

Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

Quando esse primeiro bloco de canções, encerrou-se, palmas muito efusivas vieram da plateia. Foi muito surpreendente para nós, pois banda de abertura sempre tende a ser hostilizada e ainda mais pelo fato do Pedra ser na ocasião, praticamente uma banda desconhecida até no parâmetro underground.

Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

Portanto, estarmos ali, a abrir uma banda internacional veterana, diante de seu público sedento por vê-los, já fora complicado, imagine com a agravante de sermos desconhecidos e estarmos a tocar músicas que tais pessoas nunca ouviram. Para piorar, o público não sabia, mas tocávamos em péssimas condições sonoras, graças àqueles energúmenos preguiçosos e desdenhosos da equipe de monitoração terceirizada.

Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa 

A nossa única sorte nessa noite, foi o fato do Renato Carneiro ter estado a pilotar o PA, portanto, muito da nossa segurança deu-se por esse fator, ou seja, saber que para o público o peso e a equalização estiveram primorosos, além do fato de estarmos muito bem ensaiados. A terceira música foi: "Reflexo Inverso". 
Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

Como essa música contém uma parte final com elementos progressivos acentuados, também caiu bem para o público do Uriah Heep, com ouvidos mais preparados para tal aventura. 

Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

Nesse quesito (sem demérito para as demais, mas sendo realista), nós fomos, mesmo sendo desconhecidos, a banda mais próxima da sonoridade do velho Uriah Heep, em detrimento das demais que apresentaram-se antes.

Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

E não deu outra, com o final apoteótico que lembrava bastante o trabalho d'O Terço em seus melhores momentos na década de setenta, nós agradamos em cheio, a provocar o aumento das palmas ao final da execução e a arrancarmos até alguns gritos, como se fôssemos a atração principal.

Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

A última música foi: "O Galo Já Cantou" e o Rodrigo foi para a guitarra. Os roadies do Uriah Heep ficaram surpreendidos com essa versatilidade dele, e comentaram com o tradutor, Rodrigo Werneck, que essa dinãmica os fez lembrarem-se do Ken Hensley. 

Nesse momento, o Xando arriscou uma fala descontraída ao microfone, e eu achei excessivo. Eu não arriscaria dessa forma, mas por sorte, o público estava ganho e respondeu de forma surpreendente ainda... ele disse: -"vocês querem mais uma?" 

Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

O normal seria uma saraivada de xingamentos, "dedos" apontados a nos indicar que fôssemos embora do palco, sinais de "adeus" a denotar ironia etc. Contudo, eis que uma reação em uníssono pediu que tocássemos, a demonstrar que tínhamos vencido essa batalha. Tocamos enfim, e o solo final de ambos, Xando e Rodrigo, esticou bastante, ao fornecer um clima "Stoneano" ao final de nossa apresentação.

Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Grace Lagôa

A sensação de dever cumprido foi ótima e eu ainda pude ouvir na coxia o famoso baterista, Lee Kerslake a comentar com um roadie do Uriah Heep, sobre o Ivan: -"Fantastic Young Drummer!" Pois somente por esse comentário, já teria valido a pena todo o esforço. 

Fomos para o camarim descansar, recompor-nos e trocar de figurino, com o sentimento que foi ótimo para todos. Havíamos enfrentado muitas dificuldades, mas o resultado final não poderia ter sido melhor.

  Pedra no Via Funchal em setembro de 2006. Foto: Ricardo Zupa

Continua...

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