sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 74 - Por Luiz Domingues

 
De volta ao camarim, o nosso sentimento de vitória foi total.
A reação calorosa de uma plateia que teria tudo para hostilizar-nos, aliada às adversidades tremendas que enfrentamos mediante o som caótico de monitoração (fora a hostilidade e desdém absoluto dos técnicos terceirizados), deu-nos a certeza de que apesar de tudo, houvera valido a pena.

Recompostos, fomos à coxia para ver o show do Uriah Heep. Mesmo a ficarmos em uma posição estratégica para não atrapalhar o movimento dos roadies dos músicos britânicos, deu para ver grande parte do show. O clima no entanto estava muito tenso entre os membros dessa veterana banda.

Muitíssimo menos acostumados ou melhor, não acostumados a lidar com monitorações caóticas do que qualquer artista brasileiro, o Uriah Heep sofreu muito naquele palco! 

O vocalista, Bernie Shawn, chegou a mexer diversas vezes na mesa do palco, para tentar corrigir o caos sonoro que atormentava-os. Toda deixa que que ele teve para sair do palco foi usada para tentar amenizar o desastre sonoro que os acometera.

Vimos o baterista, Lee Kerslake, a levantar-se diversas vezes da bateria e esbravejar com o técnico brasileiro. Fora os roadies que davam recados aos montes, a cobrar soluções para o Rodrigo Werneck, o tradutor da banda, poder colocar para o atônito e perdido técnico do monitor. Convenhamos, tentar corrigir defeitos de equalização em um show ao vivo, corresponde a substituir um piloto de avião, em pleno voo.

Isso só valorizou a nossa proeza de tocarmos naquele caos sonoro, sem errar, sem cruzar, e sem desafinar vocais. Só conseguimos tocar por estarmos muito bem ensaiados e acostumados com a adversidade absoluta para conseguir tocar nessas condições. No caso do Uriah Heep, o mérito deles foi estarem bem ensaiados, igualmente por que não estavam acostumados com essa insalubridade. 

No nosso caso, o fato de ao contrário, raramente termos boas condições, fez de nós resilientes por excelência na carreira como um todo. No mais, eu tive o prazer de ficar bem perto da caixa Leslie do órgão Hammond e apreciar o seu efeito mágico e de sabor sessenta-setentista.

Em um dado momento, eu estava com o Rodrigo e a esposa do Ivan a aproveitarmos aquele som maravilhoso da caixa Leslie e o vocalista Bernie resolveu ganhar impulsão extra, a passar a correr perto de nós, antes de voltar ao palco, em uma de suas entradas triunfais...

O Emmanuel filmou alguns segundos do Uriah Heep no camarim, nos momentos que antecederam a sua entrada inicial no palco. Discretamente, por que a vigilância da casa não permitia etc. 

Os britânicos entraram a cantar alguma canção folk britânica e foi engraçado, mas só entre eles, como brincadeira interna, sem que fizesse parte do show. Pareciam os "sete anões da Branca de Neve", a cantar na mina onde trabalhavam.

Através do Rodrigo Werneck, soubemos que o roadie do Mick Box  elogiara-nos muito. Ele gostou da categoria da banda e sobretudo a lhe chamar a atenção a versatilidade do Rodrigo, ao cantar, pilotar teclados, tocar guitarra e tudo muito bem. 

Continua...

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