quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 218 - Por Luiz Domingues

Feita a divulgação, enfim chegou a hora do Rock, propriamente dita, mas com a repentina baixa operacional de minha presença na sua preparação, acometido por uma gripe que surpreendeu-me negativamente.

Fiquei frustrado duplamente, por que nosso amigo, Luciano Reis, de São Leopoldo-RS, fora convidado a vir a São Paulo, para assistir e ser também o convidado de uma das noites, a tocar guitarra conosco. 

Além do mais, gentil como nosso anfitrião e cicerone em duas ocasiões em que estivemos no sul, justamente nesse momento, eu estive fora de combate para retribuir a gentileza, para ser um bom hospitaleiro.

Contudo, tal ausência de minha parte foi suprida pelos rapazes que o levaram para conhecer a Rua Teodoro Sampaio, o maior centro de lojas de instrumentos e equipamentos do país, e rua Santa Ifigênia, no centro da cidade, referência para o comércio de componentes eletro-eletrônicos. Não tenho certeza, mas acho que o levaram também à Galeria do Rock, visita inevitável para quem gosta de discos. 

Bem combalido, eu fui levado pelo Rodrigo somente na hora do soundcheck, que ocorreu dentro da normalidade de sempre no Centro Cultural São Paulo. Tivemos o apoio do grande iluminador, Wagner Molina, que era um grande mestre das luzes e era bastante conhecido no meio, tanto que conhecia a equipe de iluminação fixa da casa e teve, portanto, toda a cooperação para afinar os spots, conforme os efeitos que estava a criar em sua mente.

E o técnico de som seria o mesmo dos anos anteriores, o nosso amigo Paulinho, ex-baterista da banda: "Cygnus", que militou na cena pesada de São Paulo nos anos oitenta. 

Tirante o meu estado lamentável de debilidade física, foi um show agradável, com o público a não notar com exatidão que eu estava submetido a um momento de intenso mal-estar físico, com febre, tosse violenta e fraqueza generalizada.

O primeiro show ocorreu no dia 19 de julho de 2002 , sexta-feira e com cerca de setenta pessoas na plateia. Tratou-se de um bom público ao se considerar que qualquer show em São Paulo, realizado às 19 horas, é contraproducente ao extremo pela obviedade de ser a hora do rush...

No dia seguinte, sábado, o relax de se estar em temporada foi grande, pois o palco montado de um dia para o outro, fora algo a ser interpretado como uma dádiva para quem sabe o trabalho que representa se montar um palco e fazer um soundcheck inicial, da estaca zero. Ao precisar fazer apenas alguns ajustes pontuais, o soundcheck do segundo show em diante quando se faz temporada em local fixo, é muito mais ameno. E com isso, sobra tempo para relaxar convenientemente para o show. 

No sábado, teríamos dois guitarristas convidados: Xando Zupo e Hélcio Aguirra. Por incrível que pareça, esta seria a primeira vez que eu tocaria com o Xando Zupo, efetivamente, pois na prática, eu o conhecia desde 1984. 

E sobre o Hélcio, não foi nenhuma novidade tocar com ele, pois desde os tempos d'A Chave do Sol, nos anos oitenta, eu estava acostumado a interagir musicalmente com ele em diversas circunstâncias, de jam-sessions informais feitas em estúdio, até show tributo ao vivo (Ufo/Michael Schenker Group e Black Sabbath).

 
Com um público mais encorpado, foi um show com muita energia e eu, particularmente, estive um pouco melhor da minha convalescença gripal. Ocorreu no dia 20 de julho de 2002, com cerca de duzentas pessoas na plateia.

Para fechar a etapa da turnê, no domingo, tivemos mais público e mais três participações especiais. Luciano Reis, o nosso amigo gaúcho e que estava a acompanhar esta etapa da nossa turnê, tocaria conosco, além de uma micro apresentação da banda: "Quarto Elétrico", como uma espécie de abertura do show, para tocar vinte minutos em um show de choque.

Tínhamos apreço por essa banda com a qual interagíamos desde 2001, e cujos laços de amizade foram selados ad eternum, eu diria, pois o Ivan Scartezini seria o meu companheiro no "Pedra" por dez anos no futuro, Marcião Gonçalves é nosso super amigo até os dias atuais e mesmo ao não conviver muito conosco, o guitarrista, Denny Caldeira, também. Isso sem contar  o Thiago Fratuce que fora meu aluno nos anos 1990, por muito tempo. 

E haveria mais uma atração importante e sem nenhum demérito aos artistas já citados, muito emocionante para a Patrulha do Espaço e seus fãs: Dudu Chermont.

Dudu fora o guitarrista da Patrulha do Espaço em sua fase de ouro no fim dos anos setenta e início dos oitenta. Ele não gravou o disco de estúdio com o Arnaldo Baptista, cujo guitarrista foi John Flavin, ex-Secos & Molhados e Humahuaca, mas Dudu entrou a seguir na banda, e fez história ao participar dessas duas fases de ouro da Patrulha do Espaço. 

Infelizmente, Dudu não estava bem, ao apresentar um quadro de debilidade física muito acentuado, que se arrastava há anos. Muito envelhecido e com nítidas limitações decorrentes da sua saúde fragilizada, Dudu não tinha mais o aspecto de outrora, por ter ficado quase irreconhecível.

Lembrava dele na formação da Patrulha do Espaço, porém, a minha memória retroagia antes até, ao tê-lo visto em ação entre 1976 e 1977, quando ele tocara no "Santa Fé", banda do ex-vocalista do Made in Brazil, Cornélius Lúcifer. 

Quando no soundcheck do domingo, ele executou os primeiros acordes de sua participação especial, eu fiquei arrepiado (e foi a música: "Arrepiado", curiosamente), pois ele tocara e cantara como se o tempo não tivesse passado e ao ir além, a sua atuação passara por cima de sua condição de saúde que se mostrou péssima.

Pareceu que ele estava a tocar normalmente com a Patrulha do Espaço em 1980, no auge de sua forma, com uma execução à guitarra e também na voz, perfeita. 

Bem, na hora do show, ocorreu sim uma comoção entre os fãs mais veteranos da banda que suspiraram de saudade ao verem o grande, Dudu Chermont a assumir a guitarra ao lado do Marcello e com o Rodrigo a partir para os teclados. Foi um verniz e tanto ter a glória da Patrulha do Espaço do passado, mesclada ao presente da nossa formação então, e poeticamente a falar, nada mais "Chronophagia" do que isso...

O show foi o mais emocionante, exatamente por termos um membro histórico da banda a cumprir a sua participação como convidado.
Foi no dia 21 de julho de 2002, e com duzentas e cinquenta pessoas na plateia.
Esteve encerrada oficialmente a turnê do álbum: "Chronophagia",  e que levou de carona também o lançamento da coletânea: "Dossiê Volume 4", na sua esteira. Continuaríamos a cumprir muitos shows novas etapas da turnê, com inserções interioranas e interestaduais até março de 2003, quando enfim lançaríamos um novo álbum.
Continua...

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