quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 222 - Por Luiz Domingues

Quando voltamos à chácara, muitas bandas programadas já haviam se apresentado. O público se revelava bom e a primeira impressão que eu tive assim que olhei para o palco, foi que o som estava bem distribuído e a iluminação também era de um porte profissional, portanto, como primeira experiência de produção em grande âmbito, da parte do produtor, Marcelo Domingues, ele estava de parabéns.
Deu para assistir o show da banda: "Devacan", um pouco os vendo de frente, com a potência do PA e iluminação e a metade final do espetáculo pela coxia, já a nos preparar para o nosso show.

Foi portanto, a única banda que eu posso comentar com uma certa lembrança, e pelo que vi, gostei do trabalho deles, muito calcado no Hard-Rock setentista, notadamente a contar com o Led Zeppelin como espelho, ao mesclar influências do Blues e da Folk Music, tal como o grande Zepelim de chumbo o fazia com maestria.

Também participaram do festival: "A Cor da Onça", "Megafone", "Etnia", "Marquinhos Diet & Banda Boca de Caçapa", "Neteibatas", "Latuya" e o já citado, "Devacan".

Quase todas essas bandas eram de Londrina-PR, pelo que estava anunciado no programa, mas havia também uma banda de Brasília, e uma do Rio de Janeiro.

Impressionante como o mercado brasileiro é cruel para bandas de Rock que habitam o underground. A escrever este trecho em 2015, ou seja, treze anos depois do ocorrido, nenhuma dessas bandas citadas conseguiu ao menos ter uma projeção no subterrâneo da música profissional, que eu saiba. Claro, não posso atestar as que não vi & escutei, mas o "Devacan" tinha muita qualidade técnica, e deveria ter feito uma carreira notada ao menos no mundo underground, mas desconheço que tenha alcançado alguma projeção.
Ouço falar sobre bandas paranaenses que chegaram muito além como o "Reles Pública", "Feiche Clers", "Trilho" e "Pão com Hamburguer", mas nunca vi nada sobre o Devacan ter prosperado, infelizmente. E muito menos das outras que participaram desse festival.  

Bem, conjectura em tom de lamento para a causa, à parte, volto aos fatos.

Quando entramos em cena, achávamos que o público que estava presente em grande número, mas mantinha-se afastado do palco, mesmo longe da grade de contenção e área de fotógrafos. Foi inexplicável a postura do publico nesse sentido, mas não nos intimidamos e fizemos o nosso show habitual.

Digno de nota, um músico de uma das bandas que tocaria no dia seguinte, estava alucinado. Devia ter tomado algum composto com bastante anfetamina, pois a sua postura era de loucura e eletricidade total. Tal sujeito apanhou um enorme bambu que achou em alguma parte da chácara, e ficou a carregá-lo de forma vexatória, talvez ao se sentir na posse de uma enorme bandeira que desfraldava como em estádios de futebol. Contudo, no auge da sua loucura, esse rapaz passou a adotar uma postura "quixotesca" e talvez a imaginar ser o o tal bambu, uma enorme lança, e a nossa banda, um dragão, ele passou a esticá-la em nossa direção de forma patética, como se quisesse nos atingir.

Há pessoas que acham isso interessante, mas eu cheguei a ter dó do sujeito, por ter feito aquele papel de palhaço, sendo que era bem crescidinho e até razoavelmente conhecido no meio Rocker de São Paulo, pois tinha tido uma rápida passagem pelo Made in Brazil. 

Independente desse "Quixote do bambu", o nosso show foi muito bom tecnicamente e arrancou aplausos. Estávamos contentes por termos participado do Festival com a sua atração principal e eu contente por ver a iniciativa de um festival a dar chance para muitos artistas de pequena expressão mostrarem os seus trabalhos e terem a oportunidade de crescerem na carreira. 

Se não conseguiram darem passos maiores, só lamento a rudeza da realidade brasileira e é objeto de discussão para outro tipo de texto, embora a minha autobiografia esbarre nessa questão muitas vezes, pelos inúmeros artistas bons que eu conheci e que nunca tiveram uma chance sequer.  

Uma coletânea com música das bandas participantes. A Patrulha do Espaço está representada com "Terra de Minerais"

Assim foi a nossa participação no Festival Demo Sul em Londrina-PR, no dia 12 de outubro de 2002. Cerca de duas mil pessoas estiveram presentes, o que não foi uma super multidão ao considerarmos ser um show ao ar livre, mas também ao se levar em conta que as atrações eram bandas desconhecidas e o headliner tinha sua história e currículo forte na história do Rock brasileiro mas não aparecia nos programas de TV populares e novelas da Rede Globo, não foi decepcionante.
Fomos dormir tranquilos e satisfeitos, e no dia seguinte, partimos para São Paulo com a sensação de dever cumprido. Dali em diante só teríamos show em Limeira, no interior de São Paulo, no final de outubro.
Continua...

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Sensacional a sua participação, Marcelo! Grato pela produção e hospitalidade em 2002! Saúde e sucesso para você, sempre!

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