quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 238 - Por Luiz Domingues

A não ser que algum encaixe de última hora ocorresse, este seria o último show de 2002, e assim fomos para Santo André-SP, na região do ABC paulista, já em clima de fim de turnê, e expectativa sobre os novos ventos que 2003, trariam à banda. 

A situação sobre esse show de Santo André-SP foi a seguinte: tratara-se de um show produzido por Vania Cavalera, mãe dos irmãos Cavalera, fundadores do grupo de Heavy-Metal, Sepultura, em parceria com uma motoclube bastante famoso no ABC, o "Abutres", e com apoio da Secretaria de Cultura Municipal de Santo André.

O local, foi o Parque da Juventude, uma gigantesca área livre, com um palco fixo construído de alvenaria e enorme, preparado para abrigar shows, comícios políticos, concentrações religiosas e festas em geral.

Chegamos cedo ao local a cumprir a nossa logística, e havíamos combinamos que pelo menos um carro particular acompanhasse o nosso ônibus, para que voltássemos para São Paulo para almoçar e tomar banho, visto que no local não havia estrutura para tal, com os camarins muito simples, apenas para se aguardar por poucos momentos no antes e pós show, mas sem conforto para uma longa jornada. 

O parque em questão fica muito próximo do estádio Municipal da cidade, onde o time profissional do Santo André manda os seus jogos, e também perto do "Aramaçan", um tradicional clube que tem história na realização de shows de Rock, incluso internacionais (eu mesmo havia assistido o Deep Purple, ali, uma vez, em 1997).

Ainda durante a realização do soundcheck, eu notei a presença do produtor cultural da Secretaria municipal de Cultura de Santo André, um rapaz apelidado como: Lela. Eu o conhecia desde 1984, quando estava a atuar com o Língua de Trapo e desde essa época, ele criara um bordão, sempre que me via: -"estou a te dever um show"...

Isso para fazer alusão ao fato de que ele houvera me prometido um show produzido pela Secretaria, no caso para A Chave do Sol, a minha banda em paralelo ao Língua de Trapo na ocasião, e que nessa época, apresentava sinais de grande ascensão na carreira. 

O tempo passou, eu atuei por outras tantas bandas e ele continuou a repetir essa afirmação sempre que me encontrava, mas o fato é que essa data nunca aconteceu, apesar das inúmeras vezes em que o procurei na Secretaria municipal de cultura de Santo André, para levar-lhe material de praticamente todas as bandas por onde estive a atuar (inclusive da Patrulha do Espaço) e... nada...

Assim que me viu, Lela veio com essa clássica afirmação em tom de bordão, quase humorístico, mas ele não falava isso para fazer graça, mas sim com um certo pesar por estar em dívida comigo há quase trinta anos. Entretanto, eu logo fui a lhe dizer que aquele show em específico não quitava a sua dívida para comigo, pois o convite para participarmos com a Patrulha do Espaço, havia partido da Vania Cavalera, portanto, ele ainda me "devia" uma data em algum teatro ou evento produzido pela Prefeitura de Santo André. 

Bonachão, ele concordou comigo e até no tempo do Pedra, muitos anos depois, eu cheguei a procurá-lo para efetuar essa cobrança, mas essa data nunca veio, e como o reinado do partido em que ele era comissionado pelo seu cargo, encerrou-se em Santo André, doravante é que não iria mesmo acontecer, com outro secretário, e outra equipe a dominar a secretaria.

                    O presidente do Motoclube Abutres, Pateta

A ideia desse festival em específico, seria homenagear o presidente do moto-clube "Abutres", um sujeito conhecido como: "Pateta". Outras bandas tocariam também: "Anjo da Guarda", "Montanha" e "Caça-Níqueis". Eu só não conhecia o "Anjo da Guarda". Haviam mais duas bandas relacionadas, mas estiveram canceladas as suas apresentações. 

O "Montanha" era/é, uma boa banda com orientação Hard-Rock setentista, e cujo baterista, Marcelo, fora roadie em uma etapa da nossa turnê da Patrulha do Espaço, a sofrida fase do azar, ocorrida em fevereiro daquele mesmo ano. Já o guitarrista, Jean, era dono de uma das melhores lojas de CD's de Santo André, onde eu mesmo vendera muitos discos da Patrulha do Espaço e cuja fachada era pintada a reproduzir a capa do segundo disco do grupo britânico setentista, "Captain Beyond" (LP "Sufficiently Breathless", de 1973), para chamar a atenção entre Rockers bem antenados.

E quanto ao "Caça-Níqueis", eu conhecia o trabalho desses músicos há anos, e sabia que era uma banda ligada em Rock'n' Roll visceral e muito adequada para o ambiente dos Moto-Clubes e de fato, era considerada uma banda "oficial" dos Abutres, escalada sempre em seus eventos, como nesse caso. 

O "Dr. Rock", aquele simpaticíssimo agitador cultural do ABC, faria a apresentação do evento e esteve uma tarde ensolarada, portanto, teve tudo para atrair uma multidão, visto que a entrada foi gratuita.

Quando voltamos de São Paulo, o "Montanha" já tocava e eu apreciei o som deles, que era um Hard-Rock bem setentista e competente, tocado com raça e técnica.

A seguir foi ao palco o "Anjo da Guarda", que também apresentava características de Hard-Rock setentista, e eu apreciei, ao assistir a apresentação dessa rapaziada, da coxia. 

Nuvens negras começaram a aparecer no horizonte e o panorama começou a mudar. Víamos pessoas a se retirarem aos montes do Parque, na medida em que a chuva parecia ser inevitável e isso nos aborreceu, pois temíamos contar com um público muito reduzido quando chegasse a nossa vez, e nós fomos o "headliner" do festival.

          Capa de um CD de trabalho autoral do Caça-Níqueis

Finalmente o "Caça-Níqueis" entrou no palco e fez o seu show cheio de energia Rocker e com a extroversão do vocalista, "Beleza", que sabia se comunicar com o público, principalmente essa tribo de moto-clube, aliás, a se pensar nessa banda em específico, foi o seu principal nicho de atuação.

Começou a chover, mas não chegou a ser uma tempestade como todo mundo imaginou que seria. Mesmo assim, claro que afugentou muita gente que ali estava, infelizmente.

Foi por volta de quase sete da noite quando finalmente entramos no palco. Com o horário de verão, fora ainda o crepúsculo, mas a chuva parara. Porém, fatalmente o grosso do público se esvaíra e nesse momento nos restara tocar para um reduzido público, que chegou a ser desagradável, mas afinal de contas, nós fomos vítimas das circunstâncias ali.

A despeito disso, fizemos o nosso show praticamente normal e sem nos importarmos com o pouco público presente em meio a um ambiente que poderia comportar milhares de pessoas, e nesse caso, com poucos gatos pingados que não temeram a tempestade, e ficaram para nos ver em ação. 

Uma equipe de cinegrafistas filmou muitos trechos desse show, e que eu saiba, editou apenas uma música e nos deu uma cópia em formato VHS, na época. Trata-se da execução de: "Não Tenha Medo", música de abertura do nosso show, desde 1999. Há uma qualidade razoável de imagem e áudio, e já está digitalizado, portanto, a qualquer momento vai ser postado no YouTube. 

Aconteceu no dia 14 de dezembro de 2002, sábado, e último show do ano para nós. Pelos cálculos da Polícia Militar, cerca de duas mil pessoas estiveram ali no horário de pico, mas quando subimos, haviam cerca de trezentas apenas, ao nos revelar uma visão desalentadora e ao final, já escuro, havia-se reduzido ainda mais, ao ficarem apenas poucos presentes, infelizmente.

Dali em diante, a meta foi entrar com tudo em 2003, e com a perspectiva de um disco novo a sair do forno, finalmente.

Continua... 

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