quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 219 - Por Luiz Domingues

Após o encerramento da nossa micro temporada no Centro Cultural São Paulo, ficamos com um hiato de shows, algo raro para o padrão de agenda que havíamos conquistado até então. Todavia, houve uma explicação plausível para tal. 

Na falta de um manager (e a Claudia Fernanda atuava mais como produtora de campo ou "road manager" no jargão em inglês do show business), quem capitalizava as oportunidades para a banda e traçava a logística de turnês, era o próprio, Rolando Castello Junior, portanto, essa tarefa era estafante ao extremo, e não dava margem para descanso.

Sendo assim, quando ele parava de trabalhar em prol da construção da agenda, para se dedicar à turnê como músico e artista, o lado empresarial parava e assim, ficava difícil montar uma turnê atrás da outra a lhe ofertar uma continuidade firme. Nessa dinâmica, quando ele retomava os seus esforços como "empresário", um terreno havia sido perdido e a próxima turnê poderia demorar a acontecer. 

Portanto, em agosto e setembro de 2002, não realizamos shows, e só voltaríamos à estrada em outubro, aí sim a protagonizarmos uma boa sequência de shows até o final de 2002.

Nesse hiato, demos prosseguimento à mixagem do novo álbum, a enfrentar as sessões, notadamente estranhas, naquele estúdio acoplado à uma igreja evangélica, no bairro da Saúde, zona sul de São Paulo. 

O técnico era um rapaz competente, não vou negar, mas nos cansava com as suas observações sonoras baseadas em música gospel que ele apreciava com entusiasmo, e com a qual estava acostumado a gravar na proporção de 100% da sua clientela e nós, os "seculares", cabeludos e Rockers, éramos os verdadeiros "estranhos no ninho" naquele ambiente.

Foi a primeira gravação que eu mixei em sistema digital de um trabalho meu, visto que tal tecnologia já existia há anos, mas todos os meus trabalhos anteriores houveram sido gravados através do sistema tradicional de gravação e mixagem analógicos e mediante o processo do "corte" para se providenciar a prensagem do vinil.
É bem verdade que o CD Lift Off do Pitbulls on Crack fora masterizado em sistema digital e eu acompanhei tal processo ao lado do saudoso guitarrista e técnico de som, Egídio Conde, em seu estúdio na Vila Mariana, em 1996, contudo, em tese eu nada contribui efetivamente para tal processo que foi inacessível para a minha compreensão e a gravação e mixagem desse referido trabalho houvera sido também feita de forma analógica, com a mixagem tradicional na base da "pilotagem ao vivo a muitas mãos", em meio a uma Era pré-automação de mixer.

Enfim, em termos de mixagem digital, foi a primeira vez e claro, pela novidade absoluta da situação, eu tive que perguntar para o rapaz o que ele fazia, em vários momentos em que me vi perdido. 

Um outro problema, foi que aquela captura que dispúnhamos fora bastante prejudicada pela precariedade atroz do estúdio onde a graváramos. Nesse sentido, além de isentar o técnico que operou a captura, Kôlla Galdez, devo mesmo é exaltar o seu esforço, pois se não fosse ele, o áudio teria sido muito pior, visto se tratar de um estúdio precário, antiquado e com péssima manutenção.
Técnico de áudio em gravações e ao vivo & pessoa gentil ao extremo: Kôlla Galdez

Portanto, graças ao Kôlla, aquele foi o melhor áudio possível e infelizmente, ele não conteve o mesmo padrão do álbum anterior, "Chronophagia", que por sua vez também deixava muito a desejar.

Pois é, como é duro ser Rocker no Brasil... sem nenhuma intenção de exacerbar sentimento de vitimismo, mas o fato é que um trabalho daquele quilate artístico, mereceria ter tido um áudio muito melhor.

O rapaz do estúdio onde mixamos, foi profissional, ouviu as nossas reivindicações sobre melhorias, mas dois fatores depuseram contra, aliás, três:

1) A captura inicial feita em outro estúdio,foi muito ruim. 

2) O estúdio onde mixávamos era melhor estruturado, mas não era nenhum "Abbey Road", muito, muito longe disso.

3) O rapaz obviamente não entendia a nossa cultura musical.

Foram sessões espaçadas pelas dificuldades de agenda, mas nós finalizamos enfim essa etapa. Porém, mais alguns meses decorreriam até podermos enfim mandar prensar o disco na fábrica. Todavia, o pior havia passado, pois gravar e mixar foi um parto, ao nos consumir mais de um ano de espera.

Fica a lembrança de que o rapaz fez o seu melhor possível diante da obviedade da captura inicial conter muitas deficiências e também por conta dos seus momentos idiossincráticos ao me mostrar gravações de bandas Gospel que ele achava o máximo, e que invariavelmente detinham os "melhores baixistas do Brasil" em ação, em sua avaliação exagerada e fanatizada.  

Tudo bem, com todo o meu respeito à arte e a fé desses artistas religiosos, mas só por ouvir aqueles sons gerados através de baixos com seis cordas, mediante aqueles timbres ultra graves que para mim remetem à ruídos intestinais, eu já tinha vontade de me levantar e ir embora...

Pois imagine o meu dilema em ter que convencer o rapaz de que o meu som de Rickenbacker em: "Sendas Astrais", tinha que ser agudo igual ao baixo do Chris Squire nos álbuns do Yes...

Continua...

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