sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 49 - Por Luiz Domingues

Chegamos enfim, ao segundo show oficial do Pedra, desta feita em meio a um ambiente fechado, e com a possibilidade de tocarmos o nosso set completo e sem pressões da parte de produtores estressados e mal-educados, como ocorrera na Feira da Pompeia. Contudo, foi uma noite dividida com duas outras bandas, e ao não tratar-se assim, de um show exclusivo nosso. As outras bandas foram: Carro Bomba e Golpe de Estado.
O fato de serem duas bandas amigas, certamente deixou um clima descontraído e prazeroso, a eliminar as tensões típicas de quando  lida-se com artistas estranhos. O show foi no Café Aurora e a data em questão: 26 de maio de 2006, uma sexta-feira. Esse foi o primeiro de uma série de shows que fizemos com o Carro Bomba, ao estabelecermos uma parceria sob esforços mútuos e divisão de despesas e lucros.

Pela amizade com os seus componentes que eu mais conhecia, Marcello, Ricardo e o Fabrizio Micheloni, foi um prazer, sem dúvida. Todavia, com a linha artística que eles adotavam, mediante um som muito pesado, eu não achava nada conveniente tocarmos juntos, pois tanto para uma banda, quanto para o outra, eu não enxergava a possibilidade de um público em conjunto ser formado e muito pelo contrário, as disparidades entre as duas estéticas diametralmente opostas, dificilmente agregariam novos adeptos um ao outro. 

Pelo contrário, a possibilidade de um aficionado de uma banda entediar-se com o som da outra, foi grande. O argumento de que nos anos 1960 & 1970, não havia público fechado em guetos, tribos e o mesmo sujeito que gostava de Acid-Rock, poderia gostar de Folk-Rock acústico, era cabível naquela realidade perdida.

Mas os tempos mudaram e dificilmente um fã do Carro Bomba, teria paciência de ouvir uma canção Pop do Pedra, e vice-versa, quem gostava do som ameno do Pedra certamente assustar-se-ia com a volúpia quase metálica perpetrada pelo Carro Bomba. 

O clima na montagem, e no soundcheck foi muito agradável, naturalmente. As brincadeiras e a camaradagem em compartilhar equipamento foram ótimas, evidentemente. O nosso técnico de som, Renato Carneiro, não pôde comparecer ao show, mas demos sorte, pois o técnico da casa era muito solícito e competente, ao nos possibilitar uma boa equalização de PA e monitor, dentro da realidade das dimensões do espaço, e equipamento disponível. 

O Carro Bomba tocou primeiro, ficamos em segundo lugar e o Golpe de Estado por ser muito mais tradicional entre as três, ficou como show principal de encerramento. Lembro-me que assisti o show do Carro Bomba, da metade para o final, assim que voltei ao Café Aurora, depois de ter passado em casa para tomar banho e jantar. O som deles não era da minha predileção, certamente, mas fiquei a admirar a técnica dos três componentes, excelente, e a firmeza que mantinham no palco, pois já apresentavam quase dois anos de existência nessa altura.

   O baixista do Carro Bomba nessa ocasião, Fabrizio Micheloni

Sou um admirador confesso do baixista, Fabrizio Micheloni, que considero um virtuose. Se eles fizessem um som menos pesado, certamente o estilo dele sobressair-se-ia ainda mais, para vir a se tornar uma espécie de Jack Bruce ou Tim Bogert brasileiro, mas a opção pelo quase Heavy-Metal que praticavam naquela fase (e depois disso, a banda ficou ainda mais pesada a cada disco lançado), explicitou-se nos trabalhos posteriores, ao não deixar que essa técnica apurada viesse à tona de forma adequada. 

Um fato curioso ocorreu durante o show deles...

Continua...

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