sábado, 17 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 56 - Por Luiz Domingues

Animados com esse show do Centro Cultural São Paulo que foi muito bom em todos os sentidos, o próximo passo foi participar das filmagens da parte dramatúrgica do novo vídeoclip. Porém, antes disso, uma proposta de última hora nos foi formulada pela editora de um dos jornais do bairro da Vila Mariana, chamado: "Pedaço da Vila".
Como nós havíamos concedido entrevista recente a esse simpático jornal, a editora, Denise Delfin, afeiçoou-se à nós e nos convidou para tocarmos em uma data no final de julho no Teatro João Caetano, um ótimo e muito tradicional teatro da prefeitura, situado no bairro.
Seria um show gratuito, com a intenção de se arrecadar agasalhos para instituições de caridade, com produção da subprefeitura da Vila Mariana e apoiado pelo jornal: "Pedaço da Vila". Claro que aceitamos participar pelo caráter nobre e pela oportunidade de fazermos um show em um teatro bem estruturado, onde fatalmente usaríamos a ocasião para filmar e fotografar a banda com condições sonoras e visuais bem positivas. Convidamos o Carro Bomba para participar, ainda naquele espírito de cooperação entre bandas amigas que estávamos a adotar desde os nossos primeiros shows.
                         Sprada e Carneiro, os dois Renatos!

Contatamos o nosso técnico, Renato Carneiro para operar o som, mas este estava na estrada a operar a dupla sertaneja, Zezé Di Camargo & Luciano e sendo assim, recorremos ao outro Renato, o Renato Sprada. A nossa grande aspiração nessa época, era entrar em turnês a contar com os dois, mas isso nunca viria a acontecer, infelizmente.

Fomos ao local da apresentação, dois dias antes do evento e uma comissão do teatro e da subprefeitura recebeu-nos, mas eu notei que eles não dimensionavam as nossas necessidades estruturais. 

Enviamos-lhes mapa de palco, rider técnico e imput list elaborado pelo Renato Carneiro, minucioso, que os assustou. Acho que esperavam uma banda despojada, que tocaria com um PA simplório e plugada em amplificadores "cubo" de quinta categoria. No dia do show, o equipamento que pedimos estava lá, mas após uma cansativa espera, os técnicos terceirizados simplesmente entregaram ao Renato Sprada o PA a funcionar em mono! 

Inacreditável, um lado do equipamento não estava a funcionar, e os responsáveis pareciam estar a fazer corpo mole para resolver a questão. O técnico, estava completamente embriagado, e começou a destratar o Renato, que não aceitou o tratamento vil, e então, passou-nos a situação. 

Com o nosso backline prontamente armado, o palco estava lindo.
Parecia o Rainbow Theater de Londres nos anos setenta, a esperar por uma grande banda (há uma filmagem a mostrar tudo isso e inclusive os momentos tensos com os energúmenos do equipamento de PA terceirizado a nos atormentar, mas não postada no YouTube, ainda, em 2016).

Estávamos animados para cumprir o espetáculo, quando o Sprada tomou a decisão de cancelar o show, devido ao PA a funcionar capenga, pela metade. Um bate boca foi instaurado, e até o subprefeito da Vila Mariana entrou na história, ao ligar e pressionar-nos para que tocássemos assim mesmo, sob a punição de ficarmos marginalizados ad eternum no âmbito das produções culturais municipais em geral, e leia-se a então muito cobiçada "Virada Cultural" entre elas.

Leigo, esse político deve ter achado "frescura" ou "estrelismo" de nossa parte. O Carro Bomba também acatou a decisão do Sprada e assim desmontamos o palco todo.

Quando o equipamento das duas bandas já estava inteiramente dentro dos carros, o  (ir) responsável técnico bêbado apareceu a correr na rua e nos disse que o PA estava a funcionar em stereo e que nada daquilo fora necessário e que dessa forma, nós havíamos errado em cancelar. 

Estrategicamente ele esperou tirarmos a última peça do palco para operar o "milagre" de fazer o PA funcionar corretamente, ou seja, estava deliberadamente a nos afrontar, acintosamente. Ora, foi nítido que o sujeito nos boicotou a tarde toda a se fingir de bêbado desentendido por que melindrara-se com o fato do Renato Sprada ter sido designado para operar o som e não ele.

Foi frustrante ao extremo, mas como consolo, houve o fato de que já aproximava-se a hora do espetáculo, e uma quase nula presença de público, a não ser alguns amigos das bandas estavam a chegar ao teatro. 

E ainda ficamos com a má fama indevida, pois a editora do jornal contou-nos que as pessoas ligadas ao teatro e à subprefeitura  tomaram-nos por arrogantes no dia em que entregamos-lhes listas técnicas, e sobretudo pela conversa do Xando, que contou-lhes sobre o momento da banda. Ao dizer-lhes que tínhamos uma música em execução na programação da emissora Brasil 2000 FM, eles tomaram isso como soberba, e depois ficaram a comentar entre si e erroneamente por sinal, que nós éramos arrogantes, por que botamos banca de sermos "patrocinados" por uma emissora de Rádio. Ora, não éramos patrocinados por ninguém, apenas tínhamos uma música a tocar na programação dessa emissora. Em suma, a ignorância para interpretar um simples texto é notória neste país. Aconteceu no dia 27 de julho de 2006. 

Depois desse episódio frustrante, tivemos o nosso foco voltado para a filmagem da parte dramatúrgica do novo vídeoclip. Com a possibilidade descartada de se usar o topo de um edifício para filmar a banda a tocar, fechamos na ideia de filmar durante um show real, e foi o que aconteceu no Centro Cultural como eu já descrevi.

Contudo, a parte da dramaturgia requeria um set com toda a estrutura de um estúdio e não tínhamos recursos para essa empreitada, portanto, na base do improviso, o Xocante teve a colaboração da sua namorada e protagonista da ação, como atriz, Claudia Cavalheiro, que cedeu a sua própria residência, no bairro do Brooklin, zona sul de São Paulo. As filmagens ocorreram no dia 11 de julho de 2006. 
Quando eu cheguei ao endereço, por volta do meio-dia, a casa já estava em alvoroço, com toda a equipe técnica a trabalhar desde as seis horas da manhã. 
E dessa forma, várias cenas do casal já haviam sido filmadas e inclusive algumas tomadas do Xando a interagir com o ator, Daniel Alvim, na cena onde os dois aparecem a tocar guitarra e rirem.
O meu primo, Emmanuel Barreto esteve junto a filmar muitas cenas dos bastidores da filmagem e foi surpreendido, pois o Xocante o convocou de improviso a participar de uma cena, como figurante, o que valeu também para o roadie, Daniel Kid e Lu Vitaliano, então esposa do Rodrigo. Mais fácil para ela, Lu, contudo, que era (é) atriz profissional.
Nessa cena, a simular um jantar que o casal realizou para receber amigos, eu e Ivan participamos como figurantes, além do Emmanuel, Daniel "Kid" e Lu Vitaliano, como eu já mencionei.

Foi uma cena muito divertida de se fazer, pois a ideia foi mostrar uma constrangedora briga do casal na frente dos convidados. 
Emmanuel Barreto e Luiz Domingues, nos bastidores dessa filmagem

Teríamos que comer de forma convincente, mas quando eu olhei para a macarronada preparada com aquele molho recheado com carne, eu tive problemas e fiquei a enrolar, só a mexer no garfo para lá e para cá. Para quem não sabe, sou vegetariano e não daria para enfrentar uma mastigação real. Logo na segunda tomada, o pessoal da filmagem percebeu o meu constrangimento nesse sentido, mas tirante uma ou outra brincadeira, nós seguimos em frente. O meu primo, Emmanuel não se fez de rogado e almoçou realisticamente.

Foi até engraçado, pois o Xocante orientou o ator, Daniel Alvim, a dar um murro na mesa, no auge da discussão do casal, e quando o fez, todos ficaram com expressão de espanto, menos ele, Emmanuel, que continuou a comer um pedaço de frango com avidez.

Quando o Xocante gritou a voz de comando: "CORTA", todos caíram na risada, e o Daniel Alvim teve um acesso de riso, por não conformar-se com o ocorrido, visto que o Emmanuel ignorou a dramaturgia e comeu como se estivesse faminto em um restaurante.

E outro fato hilário: na discussão improvisada quando o áudio não importava mais, o ator, Daniel Alvim soltou a frase: -"Vá fritar um ovo!", para a atriz, Claudia Cavalheiro, que saiu contrariada da mesa, a interpretar, mas dois passos além da ação da câmera, ela já explodiu em uma gargalhada, que contaminou a todos no set.

Da esquerda para a direita: os atores Daniel Alvim, e Claudia Cavalheiro, e o diretor, Eduardo Xocante

Acompanhamos também cenas da briga do casal na sala de estar da residência e um desdobramento, com a personagem feminina a sair da casa e bater o portão da rua, além de outra, apenas com o ator, a ter um momento solo de angústia no quarto do casal. 
Os componentes do Pedra, os atores, o diretor e o produtor executivo do clip, que é o rapaz perto da janela, cujo nome esqueci-me, e não achei em anotações

Já estávamos por volta das 16:00 horas quando o Xocante disse estar satisfeito com as tomadas capturadas em ambiente interno e assim, mediante um comboio de carros, seguimos a van da equipe técnica até a Av. Paulista, onde iniciar-se-iam as cenas noturnas dos personagens a andar separadamente, com sutis interações da banda a caminharem, também.
O Rodrigo Hid, que não participou da cena do jantar, apareceu nessas outras cenas, filmadas na Av. Paulista, a andar fortuitamente em meio à multidão, mas estrategicamente atrás dos personagens, principalmente da atriz, Claudia Cavalheiro, visto que a parte do Daniel privilegiou retratá-lo a andar nervosamente pela avenida.
Nessas cenas da av Paulista, o Ivan também foi convocado a interagir. Além deles, Lu Vitaliano, Emmanuel Barreto e o próprio diretor, Eduardo Xocante, participaram também. A ideia foi andar disfarçadamente atrás da Claudia, a se misturare às pessoas da rua, e assim fingir conversar despreocupadamente. 
Geralmente o que falavam entre si foram coisas que liam nas manchetes de jornais e revistas que viam rapidamente de soslaio pelas bancas de jornais. O Ivan não é ator mas detinha experiência com filmagens, pois durante muito tempo fez comerciais de TV, como figurante. Falo mais a seguir...
Continua...

2 comentários:

  1. Grande, servi o exército e também estudei com seu primo Emmanuel Barreto, citado nessa postagem do seu blog. Gostaria de retomar o contato com ele. Se você puder, entre em contato comigo através do email caiomartino@hotmail.com, ou então passe meu contato para ele, por favor. Obrigado.
    Caio Martino

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Passei o seu email ao Emmanuel, faz tempo. Tomara que ele tenha te retornado a contento.

      Abraço!

      Excluir