sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 48 - Por Luiz Domingues

Finalmente tivemos as primeiras datas oficiais de shows, marcadas. A nossa estreia dar-se-ia através de um show de choque, durante um evento ao ar livre, dentro da Feira de Artes da Vila Pompeia, o tradicional bairro Rocker da zona oeste de São Paulo.

A Feira da Pompeia é um evento gigantesco que faz parte do calendário oficial de atrações da cidade de São Paulo. São centenas de barracas a expor artesanato, comidas e bebidas, roupas, antiguidades, discos, livros etc. Várias ruas do bairro da Vila Pompeia são fechadas, e diversos palcos temáticos são montados, com shows a acontecer o dia inteiro. O palco Rock é o mais concorrido tradicionalmente, e geralmente atrai uma multidão incrível para a Rua Caraíbas, entre as ruas Venâncio Aires e Padre Chico. 
No dia em que tocaríamos, a atração principal seria o Tutti-Frutti do Luiz Carlini, mas lembro-me que o Tomada tocou no mesmo dia, além da guitarrista de Campinas, Marise Marra, e uma banda formada por garotos que em um futuro próximo transformar-se-ia naquela banda pesada que o Júnior, ex-astro infantil da dupla: Sandy & Junior, formou ("Nove Mil Anjos"). Ocorreu então no dia 21 de maio de 2006, por volta de 17:30 horas aproximadamente. 
 
1ª Foto: Xando Zupo no camarim de rua improvisado na Feira da Vila Pompeia e sua Fender Stratocaster. 2ª Foto: amigos reunidos no backstage. Da esquerda para a direita: José Eduardo Niglio, Marcelo "Pepe" Bueno (Tomada), Xando Zupo e Fabrizio Micheloni (Carro Bomba). 3ª Foto: Os dois Renatos, técnicos de som, Renato Sprada e Renato Carneiro.
  

Tivemos um luxo que poucos poderiam gabar-se, pois levamos dois técnicos de som amigos e ultra competentes, os dois Renatos, Carneiro e Sprada. Apesar da extrema correria para montar e preparar a banda, com direito à truculência de um manager da Feira, responsável por esse palco, extremamente mal-educado e prepotente, nós montamos o mais rápido possível e tocamos apenas três músicas, pois a pressão para encerrarmos foi insuportável.
Isso por que o mesmo fenômeno ocorre todo ano: a produção escala muitos artistas para tocar e quando se aproxima o entardecer e as atrações principais vão se apresentar, o tempo disponível está estouradíssimo. Todo ano perde-se tempo na organização e descontam o nervosismo nas atrações principais do fim da tarde, ao castigá-las com o corte indecente de tempo, além do tratamento truculento e deprimente.
Tocamos então:"Misturo tudo e Aplico", "Vai Escutando" e "Sou Mais Feliz", na base da determinação, pois estávamos a ser muito maltratados por essa besta prepotente. 
Mesmo assim, tocamos com extrema segurança e beneficiados pela pilotagem de nossos técnicos, apesar da loucura toda e da inexistência de soundcheck, o nosso som "encorpou", em relação aos outros artistas. 
Eu mesmo ouvi depoimentos de várias pessoas, músicos, amigos e até estranhos que relataram esse diferencial. O grande termômetro não foi nem os músicos que entendem esse processo, mas o depoimento de pessoas leigas nessa matéria, que com suas palavras, descreveram-nos a sensação de que na hora do Pedra, o som mudou, ficou mais potente e definido. 
A reação foi excelente em termos de espontaneidade. Eu vi um mar de mãos a nos aplaudir e um esboço de bis chegou a ecoar, mas esse funcionário imbecil da Feira, não parava de gritar desesperado, ao nos dizer que mandaria cortar o som, para nos expulsar. 
Clima cordial e agradável nos bastidores! 1ª Foto - da esquerda para a direita: Luiz Carlini, Norton Lagôa e Ruffino Lomba. 2ª Foto: Xando Zupo e Nelson Brito. 3ª Foto: Rodrigo Hid e Xando Zupo. 4ª Foto: Luiz Domingues, Rodrigo Hid e Xando Zupo. Click, acervo e cortesia: Grace Lagôa

O meu "olhômetro" deu-me a estimativa de cinco mil pessoas aproximadamente, quando tocamos. De fato, o público estava bem comprimido nesse quarteirão que mencionei e ia além, para estender-se acima do cruzamento com a Rua Padre Chico, em direção à próxima transversal, Rua Ministro Ferreira Alves. 

Um fato inusitado também ocorreu nesse primeiro show. Como deve recordar-se o leitor, alguns dias antes, o Estado de São Paulo sofreu uma onda de atentados perpetrados por bandidos organizados contra as instituições policiais & governo estadual, a ameaçar toda a sociedade, através de uma onda de terror, sem precedentes na história. 

Com esse temor, o clima esteve muito tenso na Virada Cultural que acontecera anteriormente no mesmo mês de maio, mas o Mega Evento aconteceu assim mesmo. Sendo assim, a Feira da Pompeia também foi confirmada, e houve um reforço da Polícia Militar para garantir a segurança, afinal de contas, essa Feira costuma reunir cerca de cento e cinquenta mil pessoas no seu total. Nada aconteceu de anormal, mas o clima esteve bem tenso entre os policiais. 

Então, enquanto montávamos, o Ivan que era um fumante inveterado, acendeu um cigarro e assim que começamos a tocar, alguns policiais que estavam próximos ao palco, ficaram alvoroçados, ao achar tratar-se de um baseado de maconha. Quando o show terminou, houve uma abordagem tensa, com um policial militar bem exaltado, ao nos dizer que em um momento daqueles, fora inadmissível que provocássemos uma situação dessas etc. e tal. Mas esclarecida a questão, tudo amenizou-se, enfim...
Não filmamos, tampouco gravamos esse show relâmpago, mas existem fotos. Não são muitas, pois a confusão foi muito grande na organização do palco Rock, e a fotógrafa, Grace Lagôa, não teve a vida facilitada para poder trabalhar de forma profissional, como estava acostumada. Uma pena! E assim foi o debut do Pedra nos palcos, oficialmente.
                                  Fotos 1, e do 6 ao 21, são de Grace Lagôa

Continua...

2 comentários:

  1. mais uma vez vindo e acompanhando sua bela Trajetoria Musical dentro do Rcok , com grandes pessoas Maravilhosas como a Banda Pedra, Tomda , tuti Fruti e ainda ate o grande Baixista Rufino que estava vivo nessa epoca.

    ResponderExcluir
  2. Muito legal, Oscar !

    E bem observado, neste capítulo tratando desse primeiro show da banda, muitas personalidades legais do Rock brasuca, presentes nos bastidores.

    Caso do saudoso Rufino.

    Grato por ler e comentar !!

    ResponderExcluir