quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 198 - Por Luiz Domingues

Voltamos ao interior de São Paulo em poucos dias, a explorarmos desta feita um outro quadrante do estado. Iríamos para o centro do estado, especificamente à cidade de Bauru, uma pujante e tradicional cidade de grande porte no interior paulista, para nos apresentarmos na unidade do Sesc local.

Particularmente, eu não tocava no Sesc Bauru desde maio de 1980, quando ali me apresentara com o Língua de Trapo, ao participar de um festival universitário de MPB, aliás, tal banda ainda nem tinha o seu nome definido como "Língua de Trapo" nessa ocasião, maio desse referido ano, e claro, tal relato se encontra com detalhes no capítulo do Língua de Trapo, nesta narrativa autobiográfica.

Bem, no caso da Patrulha do Espaço, foi um show compartilhado com o Tutti-Frutti e a apresentar como convidados especiais, o guitarrista, Andreas Kisser, do Sepultura e o trombonista, Bocato. 

Foi mais uma produção da Sarah Reishdan, e nesse caso, seguira a ideia do espetáculo que fizemos no início de 2002, no Sesc Pompeia, na capital de São Paulo, em meio ao show que ficou batizado como: "São Paulistas". Desta feita, a única diferença básica em relação ao show feito na cidade de São Paulo, foi a ausência do guitarrista e vocalista Clemente, da banda Punk: "Os Inocentes".

Bem, foi ótimo pela convivência com tantos amigos e artistas de alto nível envolvidos e claro, tocar nas unidades do Sesc sempre foi uma garantia de se contar com um tratamento digno, a conter infraestrutura logística da melhor qualidade, cachêt decente e tudo mais. 

Fizemos um ensaio básico para acomodar a presença dos convidados, conforme também houvera acontecido por ocasião do show realizado em janeiro no Sesc Pompeia, e a Sarah nos comunicou que haveria uma van disponibilizada para nos levar para Bauru. 

Contudo, já estávamos acostumados a usar o nosso ônibus próprio e mediante uma compensação financeira advinda do não uso da van,  nós cobrimos a nossa despesa operacional de viagem. E tal acordo foi selado por conta de que Andreas, Bocato e Sarah precisavam voltar imediatamente à São Paulo por conta de compromissos pessoais e dessa forma, ficou acordado que o pessoal do Tutti-Frutti voltaria conosco no dia seguinte, portanto, a nossa predisposição de usarmos o nosso ônibus próprio, veio a calhar para acomodar os interesses pessoais diferentes nessa questão. 

Contudo, nem todos gostaram da ideia de voltar com o nosso "carro velho", e isso gerou uma pitoresca história engraçada que seria flagrada pelo nosso motorista, o "seu" Walter.

Assim que chegamos a Bauru, fomos direto para o Sesc, descarregar o nosso equipamento no palco daquela instituição. Enquanto os roadies faziam o duro trabalho braçal, sob o sol causticante e típico daquela cidade interiorana, eu fiquei na supervisão desse trabalho, como costumava fazer, na ausência de um road manager que cumprisse tal função.

Ao travar conversa com os seguranças do Sesc, nós falamos sobre futebol e a conversa girou sobre o Noroeste, tradicional clube de Bauru e que há anos estava afastado dos holofotes da primeira divisão estadual, portanto vivia decadente, a perambular por divisões inferiores e longe da mídia. Porém, enquanto eu conversava sobre o time do Noroeste, o nosso motorista que se encontrava dentro do ônibus ouviu uma conversa entre duas pessoas ligadas à comitiva do Tutti-Frutti, e uma delas comentou que lamentava muito ter que voltar para São Paulo "neste ônibus horroroso"...

Hilário! De fato, a van contratada pela Sarah era nova em folha, continha um ar condicionado glacial (e convenhamos, a se tratar de um item importante para se viajar pelo sempre muito quente interior paulista), também um aparelho de vídeo com qualidade para entreter os passageiros e em comparação diametral, o nosso combalido carrinho não possuía uma condição de infraestrutura nem perto disso.

Mas o fato foi que o nosso motorista se melindrou com a conversa que ouviu e assim alimentou raiva dessa pessoa em específico, e mesmo que não tenha feito nada para ela particularmente, rangia os dentes secretamente quando a via. Segundo o "seu" Walter, essa pessoa estava com o seu nome anotado no "caderninho negro" dele, por ter desprezado o "azulão", apelido que ele mesmo criara para o nosso bólido.

Nesse caso, era engraçado ouvi-lo a berrar a esmo durante as viagens, palavras de ordem que ele mesmo criava e que nos arrancava gargalhadas pelo caráter inusitado das circunstâncias.
Do "nada", ele berrava coisas como: -"ninguém pode com o azulão", ou -"sai da frente do azulão, seu FDP", ao se referir aos outros motoristas que o atrapalhavam etc.

E nesse caso em específico da conversa que ouvira, ele realmente ficou ofendido pela colocação, muito mais que nós, pois a despeito da consideração ter sido desagradável, a pessoa em questão teve razão, no sentido de que nosso ônibus não tinha nem 10 % do conforto da van que a trouxera da capital até Bauru. Nós nem ficamos chateados e rimos da história, mas o "seu" Walter interpretou tal manifestação como uma afronta pessoal e assim, durante a viagem de volta, resmungou o tempo todo entre os dentes para mim, frases carcomidas por ressentimentos a dar conta de que tal pessoa, "comia mortadela e arrotava peru, e que se fosse colocada de cabeça para baixo, não cairia nem uma moeda de seus bolsos"...

Continua...

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