segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 184 - Por Luiz Domingues

Adormeci, mas não tive o repouso que esperava, pois acordei aos gritos que ecoavam pelos corredores do hotel. A chuva foi torrencial, mas muito pior que a chuva em si, foi o fato de que as pessoas pareciam estar em desesperadas. Claro que eu saltei da cama, e fui ver o que ocorria. O pânico estava instaurado, pois a chuva houvera causado uma inundação monstruosa na rua. O andar térreo do hotel estava com um metro e meio de água em suas dependências, com todos os móveis submersos. Foi desolador ver cadeiras e outros móveis e objetos a boiar. 
As pessoas estavam desesperadas pois muitos tinham horário para prosseguir viagem e ficaram ilhados ali no hotel. Muitos se preocupavam com a situação de seus automóveis, igualmente.

Encontrei-me com o Rodrigo Hid no corredor de nossos quartos e ele me falou que havia um terraço no primeiro andar, onde a visão da rua se mostrava impressionante. Fui lá e vi que muitos hóspedes estavam estarrecidos a observar os estragos da chuva. A avenida estava completamente inundada, e creia, sob uma altura impressionante. Para se ter uma ideia, os "orelhões" dos telefones públicos, estavam submersos. Carros e motos boiavam, literalmente! 


Mas haviam também outros objetos a passar, como por exemplo, sacos de lixo e dejetos em geral, mas vimos também algo muito mais dramático: vários animais a passar carregados pela enxurrada! Naturalmente que muitos desses pobres animais estavam na rua, mas muitos foram levados também de quintais residenciais, pois vimos muitas tartarugas, por exemplo. A enxurrada detinha uma força descomunal, a passar como um verdadeiro Tsunami. 

Nessa altura, já sabíamos que o nosso ônibus havia sido salvo por um triz, pois assim que começara a enxurrada, o "seu" Wagner saiu de imediato de seu quarto e a nado, literalmente, foi até ao estacionamento onde o carro estava alojado e o colocou sob uma posição mais alta, em uma rampa, a evitar assim que a água inundasse o escapamento e o motor do veículo. Independente disso, com aquela inundação impressionante, começamos a nos preocupar muito com a perspectiva sombria de que a água demorasse a escoar e assim, a nossa viagem à São Carlos sofrese um considerável atraso. 

E em São Carlos seria justamente o melhor show da excursão, teoricamente, pois tratava-se de uma apresentação no Sesc, com a melhor estrutura possível de som, iluminação, infraestrutura de camarim, perspectiva de grande público, e um cachê com valor alto, fixo e pago imediatamente graças a um acordo com a produtora que intermediara o nosso acerto.

Enfim, ficamos a partir dessa catástrofe, muito apreensivos e não era para menos. As horas foram a passar e ali naquele terraço, víamos o lento escoamento da água, já sem a chuva que encerrara-se.
Comemoramos o fato visível de que água estava a abaixar, mas concomitantemente, estávamos atônitos ao constatar que o estrago houvera sido brutal. O asfalto, a partir do momento em que ficara visível, estava todo destruído, com buracos que eram verdadeiras crateras lunares, e também a apresentar enormes chapas disformes, ao se parecer com instalações de arte moderna, compostas por asfalto em forma bruta, que impossibilitavam completamente o tráfico de veículos. 

As pessoas começaram a sair à rua para ver de perto os estragos e nesse momento, vimos cenas dramáticas para causar comoção. Por exemplo, lojistas desesperadas a abrir os seus estabelecimentos e ao verem o estrago completo de suas instalações e mercadorias. Particularmente, eu vi uma cena horrível. A dona de uma boutique, assim que abriu a sua loja, desmaiou, sendo amparada por outras pessoas. Que choque deve ter sentido ao ver o seu estabelecimento destruído, e sabe-se lá como poderia superar tal revés, se é que pudesse. 

Uma outra loja, foi uma concessionária de motocicletas. Foi desolador ver as motos empilhadas e avariadas, senão inutilizadas.
O barro também foi um elemento a ser considerado. Diante da força da enxurrada, tal matéria bruta tratou de conspurcar tudo, com uma força inacreditável. Já passara das quatro da tarde quando chegamos em um horário limite para tomar o rumo para São Carlos, se não saíssemos imediatamente.

Resolvemos tomar essa providência urgentemente e para tanto, o "seu" Wagner falou para irmos com as nossas bagagens pessoais até o estacionamento, pois não havia condição de pará-lo na frente do hotel. Ora, esse foi o menor dos nossos problemas naquele instante e claro que fomos a caminhar com as nossas malas. Entretanto, até esse detalhe facilmente contornável foi difícil de se cumprir, com as calçadas e o rolamento da rua, completamente destruídos.

Quando chegamos ao ônibus, comemoramos o ato heroico do "seu" Wagner, pois se não tivesse nadado até o estacionamento e mudado a posição do veículo, ele teria sido inutilizado, a nos deixar sob uma situação dramática. Mas se preservou-se o motor e o escapamento do carro, a sua dianteira ficou bastante comprometida, e muito barro sujou completamente a nossa área social de passageiros e claro, a cabine do motorista.

O "seu" Wagner estava muito preocupado, a estabelecer testes básicos na parte elétrica enquanto arrumávamos as nossas malas, mas de pronto, ele nos disse que o carro estava a rodar, mas que estava muito preocupado com o nível do óleo, o possível comprometimento dos filtros e o pior de tudo, o sistema de freios.
O carro andou e no pequeno percurso até o bar, onde tocáramos na noite anterior, deu para sentir que o ônibus estava engasgado.

Paramos na porta do Bar Paulistânia, e enquanto os roadies carregavam rapidamente, com a nossa ajuda para acelerar o processo, o "seu" Wagner continuava a cumprir verificações e se a mostrar muito preocupado. 

Chegamos à estrada vicinal que liga Ribeirão Preto à São Carlos e a despeito da nossa dramática pressa pelo avançado do horário, o nosso novo motorista foi taxativo e sugeriu que parássemos em um posto e realizássemos a troca de óleo e filtros, sem a qual, o risco de pararmos na estrada seria grande. E assim, na altura da cidade de Cravinhos, distante apenas 14 Kms de Ribeirão Preto, nós paramos em um posto de combustíveis.

Continua...

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