quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 188 - Por Luiz Domingues

Quando o show da banda "Senhor X" encerrou-se, lembro-me que estávamos mais relaxados no camarim. O pior parecia já ter passado, com tudo o que vivenciamos de ruim naquele sábado, desde a tragédia em Ribeirão Preto, a angústia para chegar a tempo em São Carlos e o susto que tivéramos com o Marcello a se acidentar, em princípio a aparentar gravidade no ocorrido, conforme eu já relatei.

O hematoma ficara muito feio, mas ele dizia que tocaria assim mesmo, ainda que a sentir fortes dores, e claro que a sua coragem foi enorme nessa circunstância. Os membros do "Senhor X" chegaram ao camarim e eu cumprimentei a sua ótima vocalista, Carla Viana e o guitarrista da banda. Eu os incentivei a tocarem mais músicas autorais em uma eventual nova oportunidade.

A banda era (é) ótima, mas eu fiquei frustrado em verificar que só tocaram cover sob orientação classic Rock. Muitíssimo bem, por sinal, mas uma banda boa daquelas precisava estar a abrilhantar a cena autoral do Rock, e não a tocar músicas do Black Sabbath, Jethro Tull, Led Zeppelin e outras bandas do gênero, por mais agradável que isso soasse aos meus ouvidos sessenta-setentistas.

Foi a nossa hora de irmos para o palco e sem outra maneira reservada, fomos pela beirada do ginásio, até a escada de acesso ao palco, do outro lado, a passar pelo público, infelizmente. 


Nem eu, nem ninguém se incomodou de deixar as nossas malas de viagem no camarim, apesar dele ser aberto, improvisado como a uma tenda. Certamente que o Sesc providenciaria uma segurança monitorada etc. e tal. Ninguém questionou sobre isso, mas pareceu ser algo implícito que teríamos segurança, com o nosso camarim vigiado.

Lembro-me que quando estava a um passo de subir ao palco, a vocalista, Carla Viana, estava perto de mim e desejou-me boa sorte. Ouvi o apresentador do evento falar algumas palavras com o público e nos anunciar como locutores de pugilismo, com aquela ênfase clichê, e de certa forma engraçada. 


Quando eu dei um passo para o palco, vi que o cabo do meu baixo, que estava ligado no direct box do amplificador, desconectou-se acidentalmente, e quando fui reconectá-lo, ele pareceu ter se rompido no plug. Naquela fração de segundos, não dava nem para avisar o roadie, e o Junior já sinalizava iniciar a contagem da primeira música.

Fui para o palco já a imaginar a banda a começar e sem o som do baixo, com um tumulto a ser deflagrado e ao criar assim, um anticlímax, para quebrar o impacto inicial do show, que é sempre importante para um show de Rock, e não seria diferente para nós.

Mas mediante um ímpeto de minha parte, eu puxei e reinseri o plug e o som reapareceu. Ninguém percebeu tal momento de angústia, e no tempo forte do primeiro compasso da música: "Não Tenha Medo", eu estava lá no palco tocar a frase costumeira..."sol - la - do"...

Ninguém percebeu que quase deu pane e seria mais um desastre a ser contabilizado para essa etapa da turnê já caracterizada pelo azar absoluto. O show foi energético, no entanto. Com som e iluminação de qualidade, palco grande, cerca de duas mil pessoas na plateia e com a performance tranquila, demos o recado da Patrulha do Espaço como se deve, e naqueles noventa minutos e nada de errado mais aconteceu, ao dar-nos a falsa impressão de que a onda de azar houvera cessado.

Até o nosso maior temor, que foi o Marcello não conseguir tocar adequadamente, não se confirmou. Ele sentia dores, é claro, mas tocou com o seu brilhantismo habitual. Mas infelizmente, desastres ainda aconteceriam!

Terminamos o show em grande estilo, com ovação da plateia e volta ao palco para bis. Tudo parecia ter voltado ao normal, enfim. Saímos do palco e a lateral estava cheia de fãs a pleitear autógrafos e tirar fotos conosco. Nesses momentos, tendemos a nos distrair uns dos outros e ao atendermos os fãs, notei que apenas o Rodrigo estava próximo de mim, também a atender fãs, quando ouço a voz do Rolando Castello Junior no PA.


Ele estava aos prantos, ao parecer estar muito nervoso e chamava pela ajuda dos responsáveis pelo Sesc e imediata presença da Polícia Militar! Os seus berros nervosos, estavam confusos e claro que o meu coração acelerou e ao pedir licença às pessoas que atendia, fui imediatamente ao camarim para ver o que estava a ocorrer e aí...
Continua...

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