quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 195 - Por Luiz Domingues

Assim como surgira uma oportunidade para tocarmos em um show de recepção de calouros de uma universidade municipal em São Caetano do Sul-SP, recentemente, uma nova chance surgiu nesse sentido, através de um dos campus da Unesp, especificamente o da cidade de Rio Claro-SP. Desta feita, o show seria realizado no campo de futebol desse campus, ao ar livre e com perspectiva de um bom público, com noite estrelada e temperatura quente, como é uma ocorrência tradicional nas cidades interioranas de São Paulo.

Viajamos sem problemas para Rio Claro, com o "seu" Wagner já firmado como o nosso motorista oficial doravante e mediante alguns ajustes no ônibus, verificamos que o pior havia passado, e o carro reunira condições para continuar a nos servir, apesar dos múltiplos estragos sofridos na última viagem.

Fora desse contexto, uma revelação inusitada e nada a ver conosco, ou mesmo com o ônibus, nos chocou!
O Marcello olhou com maior atenção a carteira de habilitação (CNH) do nosso motorista e ao invés de "Wagner" como havíamos habituado a lhe chamar, estava escrito: "Walter", no seu documento.
Cobrado a nos explicar tal confusão no seu documento, a sua explicação foi feita de uma forma tão prosaica, que de pronto afastamos a hipótese de se tratar de alguma falcatrua deliberada, mas pelo contrário, foi algo até risível, que remetera à sketches de humor popularesco da TV. O que ele alegou, foi que logo quando apresentou-se, o Marcello entendera mal e ao passar a chamá-lo de "Wagner", passou tal informação aos demais e ele ficou com "vergonha" para nos corrigir. 

Inacreditável, parecia uma piada ingênua oriunda dos filmes do Mazzaropi, mas foi o que ocorreu. Guardei essa passagem exótica para contar neste momento exato da cronologia, portanto ao chamá-lo como "Wagner" nesta narrativa até aqui, para passar ao leitor exatamente o que nós sentimos diante de uma revelação tão inusitada como essa, nesse ponto dos acontecimentos.

Bem, doravante o "seu" Walter, nos levou em uma viagem sem problemas até Rio Claro-SP, distante cerca de cento e oitenta Km de São Paulo, quando chegamos naquela simpática cidade interiorana, famosa por adotar o mesmo método de Nova York (Manhattan, especificamente), ao denominar as suas ruas e avenidas por números (e acreditem, como isso é muito mais lógico e fácil para não confundir quem não conhece a cidade!), fomos para o Campus, um pouco afastado do centro e já ao entrarmos no perímetro rural desse município.

Quando chegamos ao campo de futebol onde aconteceria o evento, já vimos que o palco estava montado e os técnicos do PA contratado já faziam os testes preliminares de equalização. Muitos estudantes veteranos trabalhavam na preparação de barracas de venda de comes & bebes e detalhes de decoração do ambiente, ao lembrar uma quermesse de festa junina. Estacionamos o nosso ônibus ao lado do palco e aguardamos o momento de iniciar o soundcheck, sob o calor tórrido e tipicamente interiorano.


Feito isso, membros da organização da festa nos informaram que haveriam apresentações de bandas locais antes do nosso show, e que a noite seria fechada por uma banda chamada: "Ambervision", que eu não conhecia, mas deduzia ser similar à banda Quasímodo", na proposta de fazer releituras da Disco Music dos anos setenta.
Cumprido o soundcheck, um funcionário da secretaria municipal de cultura nos guiou até uma fazenda anexada ao campus, que pertencia à Universidade, e logicamente ao governo do Estado, visto ser a Unesp, uma universidade estadual (para quem não sabe, o Estado de São Paulo tem três Universidades sob sua administração: Usp, Unesp e Unicamp). Essa lembrança, de chegar à essa fazenda, é uma das mais prazerosas sobre bastidores que eu guardo na minha memória, das turnês da Patrulha do Espaço.

A ideia primordial foi que a usássemos como alojamento e esteve aberta a possibilidade de pousarmos nela, para voltarmos a São Paulo somente no dia seguinte. Tratava-se de uma fazenda centenária, outrora particular e nas mãos da Universidade, houvera se tornado um misto de museu, laboratório de pesquisas as mais diversas, de botânica à zoologia, e alojamento geral para pesquisadores.

Todavia, talvez por ser uma época de reinício das aulas, estava completamente vazia, portanto, e o alojamento deserto pareceu-nos um set de filmagens para filmes Sci-Fi. Não é preciso dizer o quanto apreciamos tal visão, e mesmo com o tempo relativamente curto do qual dispúnhamos para nos arrumarmos para o show, resolvemos promover uma excursão pelas redondezas. 

Se tratava de uma típica fazenda cafeeira do século XIX, e dispunha de grandes galpões, senzala, haras, e até uma capela, ao se parecer com uma mini cidade do velho oeste norte-americano.

Já escurecia no entardecer, mas nós realizamos tal caminhada como estudantes que cumprem excursões escolares, sob intenso clima de brincadeiras entre nós, ao estabelecer-se um momento lúdico dos mais agradáveis, como se fôssemos os Monkees em um dos seus episódios malucos da série homônima. Existe uma filmagem amadora dessa "excursão" em formato de fita VHS, mas que eu já tenho digitalizada em meu acervo, e pretendo editar para lançar um dia, a postar no YouTube. 

Vimos muitas aranhas enormes, morcegos pelas árvores e um simpático gato preto nos seguiu durante a nossa caminhada, ao adotar a postura de um cão.

Já era noite quando o funcionário da secretaria de cultura nos levou ao Museu anexo na fazenda. Se tratou de uma exposição sobre literatura, mas a conter muito material de artes plásticas, também. Lembro-me que algumas ilustrações eram bastante exóticas, talvez um tanto quanto macabras, o que provocou as inevitáveis especulações e piadas inerentes entre nós.

Apesar da hospitalidade, resolvemos não aceitar o convite para pousarmos, pois a viagem de volta seria bastante tranquila, e todos da nossa comitiva preferiram estar em casa ainda na madrugada, além da curta distância até a capital, favorecer ainda mais essa possibilidade.

Enfim, todo mundo de banho tomado, voltamos ao campus e dali em diante foi só esperar a última banda local encerrar, para subirmos ao palco e tocarmos.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário