quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 21 - Por Luiz Domingues

Ocorreu que um grupo folclórico da Turquia, havia tocado em um evento em São Paulo, naquele final de semana, e algum produtor responsável pela presença de tais artistas, resolveu forçar um "encaixe" desses artistas na feira da Pompeia. De pronto, mesmo com o atraso absurdo que já havia ali instaurado, a famosa e típica subserviência brasileira em relação à estrangeiros prevaleceu. Então, a mocinha da produção nos disse que os turcos se apresentariam antes de nós, mas que seria uma apresentação curta, só para aproveitar a presença deles ali, e que não poderia mesmo ser de outra forma, pois os estrangeiros estavam com pressa para irem ao aeroporto, pois o seu voo para Istambul seria ainda naquela noite.

Enfim, atraso por atraso, nos resignamos mais uma vez e ficamos a aguardar nas rodinhas de amigos animadas e reforçadas pela presença do poeta, Julio Revoredo, e do guitarrista/cantor/compositor, César de Mercês, que apareceu ao entardecer. Os turcos realmente foram rápidos no seu número folclórico, e o público demonstrou ter apreciado a dança e a canção tradicional turca dos rapazes paramentados conforme as suas tradições folclóricas etc.

No entanto, quando eles deixaram o palco, fomos impelidos a montar o nosso equipamento sob uma velocidade impossível para garantir o mínimo necessário de qualidade, e assim, sob a pressa desmesurada, tivemos que iniciar o set, mesmo com problemas no amplificador do Kim, e aquele monitor horroroso e padrão para festivais desse porte.

Contudo, o pior veio a seguir, quando a mesma moça da produção, com a sua prancheta em mãos, sinalizou-nos freneticamente na lateral do palco, a dizer para encerrarmos imediatamente, pois o tempo estava estourado e haveriam outras bandas a se apresentar... ora, estávamos no começo da segunda música, apenas! Resignado, eu sorri para ela e avisei os companheiros sobre a solicitação surreal da parte da ("des")produção, e de nada adiantaria ficarmos nervosos ou indignados, pois mandariam desligar o PA sem nenhum cuidado para preservar a nossa dignidade artística. Qual a novidade? Quando esse tipo de festival não causa esse dissabor aos artistas? 

Talvez se marcassem menos artistas, o tempo fosse melhor equacionado, mas na hora de escalar os artistas para os vários palcos, deviam raciocinar como dirigentes de federações de futebol que sempre desejam formular campeonatos com mais times do que seria ideal para uma tabela racional etc. Enfim, tocamos duas músicas apenas, sob condições sonoras bastante desconfortáveis e o tempo em que usamos o palco fora terrivelmente desproporcional ao tempo em que esperamos a vez de tocar, na prática. As músicas que tocamos foram: "Sou Duro" e "A Galera Quer Rock". 

Na segunda cançãoque executamos, o Cesar de Mercês entrou sem avisar-nos, e emendou um solo de gaita improvisado e bem interessante. Foi engraçada a entrada repentina dele em cena, pois entrou a correr e sob um momento em que eu estava meio de lado, em direção ao Carinhos Machado, o nosso baterista, pelo canto do olho, vi a sua presença como uma sombra muito rápida a passar e quando me dei conta, já ouvia uma gaita no monitor, apesar da maçaroca sonora perpetrada pela não equalização profissional do som.

Bem, experientes, saímos do palco resignados com o péssimo tratamento dado pela organização do evento, e dispostos a não estragar o fim do domingo com lamentos, pois tocar em eventos assim, surpreendem se esse tipo de mal-estar não acontecer e não o contrário...

Continua...

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