quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 21 - Por Luiz Domingues

No entanto, o ano começou diferente do que projetávamos. A produtora que batalhava pela carreira dele não sinalizara nenhuma data e os meses foram a passar. 

Quando aproximou-se a época da "Virada Cultural", o Ciro disse-nos estar em negociação com a produção do evento. Particularmente, imaginei que não haveria dificuldade para ele ser escalado, pelo nome e currículo que ostentava, e principalmente pelo fato de que o seu passado ligado ao movimento oitentista, na estética do Pós-Punk, certamente abrir-lhe-ia portas e simpatias óbvias, ao levar-se em conta os evidentes tentáculos que tais pessoas ligadas à essa ordem, ainda exercem nos bastidores do show business e na mídia, sobretudo.

Contudo, justamente pelo contrário, o Ciro entrara em desgraça com certas pessoas dessa engrenagem, pois já fazia um tempo, o seu direcionamento estético pró-psicodelia sessentista o marginalizara entre os detratores históricos dessa estética. Sendo assim, não sem muita discussão, incluso na Internet, o Ciro não entrou na escalação da Virada Cultural de 2012, e ficou bastante irritado com tal resolução da produção do evento. Nós também, é claro. Restou-nos aguardar os possíveis resultados advindos dos esforços da produtora que mencionei acima. 

Passada a Virada Cultural, e a não escalação do Ciro, ficamos no aguardo de novidades, até que o Ciro sinalizou com uma boa nova no mês de junho, aproximadamente. Haveria um show para realizarmos no interior de São Paulo, no início de agosto de 2012!

Seria um show a ser cumprido na cidade de São Carlos-SP, e além da perspectiva de novamente tocar com Ciro e Nu Descendo a Escada, São Carlos se tratava de uma cidade onde eu mantinha muitas lembranças por conta de minhas passagens por lá, a bordo da nave da Patrulha do Espaço. Dessa forma, eu sabia muito bem que era uma cidade sensacional, com grande público Rocker, ambiente universitário, e ótima infraestrutura.

Tratou-se de uma produção do Sesc, que eu conhecia bem, por ter tocado lá com a Patrulha do Espaço em 2002, mas haveria uma diferença: não realizar-se-ia nas instalações do Sesc, mas na estação ferroviária da cidade.

A ideia foi montar o palco na plataforma da estação, o que abriria a perspectiva de ser algo muito exótico. Na hora, lembrei-me do Festival Express'1970, quando grandes figuras como Janis Joplin, The Band e Grateful Dead, entre outros, excursionaram a bordo de um trem pelo Canadá, a realizar shows na rota das estações ferroviárias. Neste caso, seria um show apenas, mas que prazer passar por uma experiência semelhante, ainda mais com o som do Ciro, tão calcado nos anos sessenta.
Tive um encontro prévio com o tecladista , Caleb Luporini em uma estação de Metrô de São Paulo, onde assinei a papelada burocrática, e ali soube que seria um festival com bandas locais, e o Ciro evidentemente fecharia a noite, como headliner. Ótimo, seria muito divertido, tinha certeza. Então, foram marcados dois ensaios para o mês de julho, e o repertório sofreria pequenas mudanças em relação ao set list que havíamos tocado nos dois shows que fizéramos em 2011. Mas a grosso modo, seriam mesmo as velhas conhecidas e psicodélicas canções Floydianas de seu trabalho.
Continua...

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