domingo, 27 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 35 - Por Luiz Domingues

E dessa forma, com a demora para resolvermos a questão da capa, o Rodrigo pôs-se a desenvolver o encarte, livremente. Ele estava inseguro, inicialmente, pois definitivamente não é um Web Designer, longe disso. Mas ao aventurar-se em meio a programas simples de formatação visual, criou essa profusão de cores ao promover deformações em nossas fotos, de maneira a criar verdadeiras fantasmagorias, muito interessantes visualmente. 

Com o áudio praticamente mixado e prestes a ser masterizado, o Renato Carneiro anunciara enfim o término dos trabalhos do primeiro CD do Pedra, para breve. 

Desde 2005, mesmo quando o clip de "O Dito Popular" já passava esporadicamente em estações de TV alternativas como a Rede NGT, e por seis vezes no Multishow, falávamos em produzir shows. 

A banda estava afiada pela quantidade de ensaios e o repertório estava na ponta da língua. Mas sempre que falava-se em shows, o baterista, Alex Soares fazia a ressalva que precisava priorizar a sua banda cover, pois era o seu meio de sustento, e o Pedra seria em sua ótica, uma incógnita, por ser um trabalho a partir da estaca zero e certamente por ser autoral em 100%, com dificuldades inerentes para estabilizar-se. Sabedor de que as portas são cerradas para artistas autorais nesse circuito underground, Alex temia que marcássemos shows com alto risco financeiro, em detrimento de perder datas com a sua banda cover, e assim perder dinheiro, e eventualmente até o seu emprego na banda. 

Compreensível a preocupação dele no âmbito pessoal, ainda mais por ser casado e ter na época, uma filha recém nascida. Contudo, isso foi muito frustrante para nós três, demais componentes, pois sentíamos estarmos em um barco com três remadores ao invés de quatro. 

Além desse impasse, havia um outro, de ordem estética. Alex desejava posicionar a banda na estratégia de uma linha competitiva para o mercado Pop, mas sob a visão do mundo popularesco. Ele tivera uma recente experiência pessoal nesse sentido, quando quase entrara para um esquema "mainstream", ao gravar com a banda "LSD", formada pelos ex-membros do RPM, Luis Schiavon e Fernando Deluqui. 

Com tema emplacado na então novela das seis da Rede Globo ("Cabocla"), e tais contatos globais devidamente em mãos, achou estar no caminho certo para acertar-se na vida. Mas o tal "LSD", ao contrário, teria tudo para dar errado, desde a sua criação, no entanto. Para início de conversa, a sigla "LSD" dava a falsa impressão de tratar-se de uma banda de Rock sessenta-setentista muito louca, mas não passava das iniciais dos membros oficiais. Portanto, como esperar que atingisse a grande massa? 

Além do mais, nem com o tema de novela assegurado e "pistolões" globaisa fazer lobby, a banda vingou. Foi um fiasco, e encerrou as suas atividades quase sem fazer alarde algum, para a tristeza de Alex que vislumbrara dinheiro e fama. 

Contudo, ao conviver com esses artistas, ele absorvera muito da mentalidade deles que já habitavam o mainstream, desde o estouro do RPM nos anos oitenta, e portanto, desejava direcionar o Pedra para um caminho entre isso, e o "Roupa Nova", aliás, o seu ideal de banda perfeita a ser seguida. 

Nada contra o Roupa Nova, mas o Pedra detinha outra mentalidade, diametralmente oposta, e esse choque divergente de posicionamento de trabalho, começou a azedar a relação entre Alex e os demais membros da nossa banda, fechados em um outro ideal artístico. A adicionar-se com a reserva dele em não querer arriscar shows financeiramente deficitários para que pudéssemos efetuar um primeiro impulso, tudo isso somado pôs a minar a nossa relação e o convívio.

Continua...

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