quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 166 - Por Luiz Domingues

Chegamos ao Manara para o show, por volta das 21:00 horas e estávamos acompanhados do baterista d'Os Arnaldos, que afinal de contas, fora o nosso anfitrião. Tivemos a boa surpresa de vermos na casa, os músicos e amigos, Renê Seabra e Fares Junior, que estavam em Porto Alegre a cumprir um trabalho de workshop. Renê Seabra foi baixista da Patrulha do Espaço em duas fases, tendo gravado o LP Primus Inter Pares, de 1992.

Havia um bom público presente na casa e até a hora do nossos show, aumentou, ao perfazer um bom quórum. Todavia, com a ressalva de que a casa comportava bem mais gente, portanto, as duzentas e cinquenta pessoas que ali compareceram, não lotaram a casa, mas sob uma segunda ressalva, a se considerar que tratava-se de uma segunda-feira, consideramos um número muito bom de pessoas presentes. 

O show d'Os Arnaldos foi divertido, os rapazes tocaram várias canções do LP "Loki", do Arnaldo Baptista, com qualidade. E antes de tocarem, nos abordaram para pedir autorização para tocar:"Sexy Sua", música do primeiro disco da Patrulha do Espaço, que sabiam que era do nosso repertório também. 

Talvez eles temessem que nós vetássemos que eles a tocassem, para privilegiar a nossa performance, mas muito pelo contrário, apreciamos a ideia de que eles a executassem e em seguida, nós, também, assim o público teria a oportunidade de escutar a canção do Arnaldo, em duas versões. Se bem que no calor dos acontecimentos, não houve diferença radical entre as versões, visto que eles tocavam conforme o arranjo do disco, e nós também. 

Chegou enfim a nossa vez de subirmos ao palco. Estávamos ainda com a vibração de São Leopoldo a repercutir e projetávamos uma recepção semelhante em Porto Alegre, visto ser uma cidade grande e manter grande tradição Rocker. Mas infelizmente, não foi o que aconteceu. 

Música após música, recebíamos em troca, apenas aplausos educados e quase burocráticos, muito longe da comoção que causáramos em São Leopoldo, na noite anterior.

O pessoal do Cachorro Grande apareceu em peso e foram simpáticos conosco no camarim do pós-show, mas sinceramente acho que não apreciaram o nosso som, pois não demonstraram nenhum entusiasmo a mais do que a educação simpática. Achei estranho, pois os rapazes  eram antenados em som retrô, portanto haveriam por se identificar com todos os signos vintage inerentes à nossa proposta, mas não foi o que aconteceu, de forma enigmática para suprir a minha expectativa. Paciência.


Nenhuma canção pareceu mudar tal panorama, nem mesmo os pontos chave do show, onde estávamos acostumados a despertar reações sempre parecidas, independente de onde estivéssemos, com exceção de ambientes inóspitos, onde era óbvio que nos defrontávamos com pessoas que ignoravam retumbantemente a nossa cultura Rocker.

O som e a iluminação estavam bons, a nossa performance esteve muito boa, pois estávamos muito bem ensaiados e o público ali presente era supostamente antenado, portanto, esse show no Manara entrou para a história da banda como um enigmático exemplo onde o cenário apontava para um sucesso retumbante, mas no cômputo geral, não houve a sincronicidade a gerar uma boa "química".

Foi a tal da sinergia que todo artista que se apresenta ao vivo, ressalta que precisa existir para tudo funcionar bem. Tanto artistas musicais, quanto teatrais, sabem que o palco tem essa particularidade. E muitas vezes é absolutamente inusitado o motivo pelo qual não funciona tal predisposição, pois não havia nenhum motivo sequer para não dar certo. 

Bem, como último detalhe que me recordo, houve uma participação de última hora, quando chamamos ao palco, o ótimo guitarrista gaúcho, Bebeco Garcia, que foi famoso na cena oitentista sulista, por ter feito parte da banda: "Garotos da Rua", que chegou a emplacar um sucesso dentro do movimento do BR-Rock daquela década. 

Sujeito simpático, com boas influências Rockers e muito bom guitarrista, ele entrou para tocar conosco, mas infelizmente estava bastante alterado, digamos assim, e mesmo ao ter produzido um solo com essência Rock'n' Roll muito boa no seu início, foi a estender a sua participação e a gerar uma estranheza ao público. 

Não queríamos cortá-lo bruscamente, é claro, mas ele não demonstrara vontade de encerrar, e a cada segundo a mais que estendíamos o tema, percebíamos uma insatisfação do público pelo seu alongamento, mesmo sendo o Bebeco, querido por todos ali na cena de Porto Alegre. A sua expressão facial foi de catatonia, ao nos fazer lembrar da persona de Syd Barrett, não pela genialidade e estranheza psicodélica, mas pela patologia, propriamente dita. 

Chegamos a ficarmos assustados por vê-lo a solar a sua guitarra ad infinitum, sem demonstrar estar inserido com a banda, mais a sinalizar estar absorto em um mundo particular, a tocar sozinho. Com os olhos esbugalhados, ele fitava as paredes do Manara, a parecer estar em outro lugar. E certamente estava.

Bem, missão cumprida, foi assim o show em Porto Alegre, com aplausos educados e nada mais. Foi o dia 21 de janeiro de 2002, com duzentas e cinquenta pessoas presentes na plateia. Ainda tenho alguns fatos para comentar sobre essa turnê pelo Rio Grande do Sul.

Continua...

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