terça-feira, 22 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 155 - Por Luiz Domingues

Saímos pela manhã de Londrina-PR, mas não tão cedo, pois estávamos muito cansados, e dessa maneira, havíamos desistido de tentar dormir um pouco na chegada no dia anterior, devido aos problemas de barulho que enfrentáramos no hotel, à beira de uma avenida com a presença de um tráfico intenso.

O produtor desse show em Londrina foi bastante consciente de todo o processo e nós sabíamos que ele não tivera mesmo condições para nos oferecer melhores condições, diante de uma quadro onde não foi possível nos colocar para tocar em uma casa de maior porte. Contudo, ficamos apalavrados para uma volta à Londrina em um futuro não muito distante e sob circunstâncias mais favoráveis. E de fato isso ocorreu e no momento oportuno, falo a respeito.

Ao prosseguir a viagem, como eu já mencionei, o produtor do show de Ourinhos ligou no celular, mas fora apenas para lamentar o cancelamento, e quando entramos de novo no estado de São Paulo, a deixar o norte do Paraná, também lamentamos quando vimos a cidade de Ourinhos às margens da estrada.  

Chegamos em um bom horário na cidade de Avaré-SP, e mesmo apenas com a presença de um carrier, montamos rapidamente o pequeno palco da casa Ferro Velho, onde tocaríamos pela terceira vez em nossa formação.Tivemos novamente o apoio dos amigos Dárcio e Marcos Cruz, que nos auxiliaram muito nas duas passagens anteriores que tivemos naquela cidade, mas eles mesmos estavam meio desanimados quando os encontramos no soundcheck.

Foi uma época diferente mesmo, e o Junior ainda mantinha a dinâmica sessenta-setentista de trabalho ao estilo da labuta do artista que a cada visita a uma cidade, mais público angariava. Eu desconfiava dessa estratégia estar ultrapassada e muitas vezes nos deparamos com o segundo e eventualmente terceiro show no mesmo local, com resultado de público muito aquém do primeiro. Isso contrariava a lógica empresarial no padrão: "old School", pois nos tempos modernos da Internet a se popularizar, a tendência seria o público assistir uma vez o artista em ação e não se interessar em vê-lo de novo, tão cedo.  

Claro que eu considerava tal realidade moderna como algo triste, por vários motivos. Ao analisar como artista, foi óbvio que achava isso terrível e queria mesmo era participar de temporadas fixas em teatro, de quarta a domingo, com direito a sessão maldita no sábado e matinê no domingo, como extras. Mas a realidade dos anos dois mil nos mostrara uma juventude cada vez menos interessada em cultura e iconoclasta ao extremo em seu modo de enxergar a arte, portanto, a concepção antiga de se formar um séquito fiel, não existia mais, lamentavelmente. 

Portanto, sob judice, o show de Avaré foi temerário nesse aspecto e pela desanimação de nossos amigos, Dárcio e Marcio, creio que não teríamos por que nutrir grandes esperanças para mais a noite. E não deu outra. 

De fato, o semblante preocupado dos nossos amigos, Dárcio e Marcos, já prenunciara que a noite não seria marcada pela casa cheia, e assim ocorreu, com apenas sessenta pessoas presentes, a destoar das ocasiões anteriores em que ali nos apresentamos, com público mais substancial no ambiente da casa. 

O show foi morno, confesso. Estávamos com meia força naquela noite, pois o cansaço foi grande, e o fato dessa etapa da turnê ter apenas gerado uma féria para cobrir as despesas operacionais, mexeu um pouco com o nosso ânimo. Entretanto, foram os ossos do ofício e na vida de qualquer artista, isso sempre foi um fato comum, ainda mais ao se tratar de artistas como nós, acostumados a lidar com a realidade áspera do mundo fora do esquema mainstream. No underground, a dinâmica é mais pesada, como se fala na gíria, e revés financeiro era algo normal, aliás, mais normal do que raro.  

Bem, claro que tocamos com respeito aos sessenta fãs que ali compareceram, mas a energia gerada com um público pequeno para prestigiar, é sempre mais diminuta, independente do profissionalismo que todo artista tem a obrigação de exercer no palco. Foi o dia 11 de janeiro de 2002, no Bar Ferro Velho da cidade de Avaré, no interior de São Paulo, e com sessenta pagantes no salão da casa.

Essa etapa da turnê foi sofrida também pela falta de um apoio técnico. Sem um roadie mais experiente, restou-nos apenas um carrier sem noção alguma, e isso certamente nos cansou, também.  

A próxima etapa da turnê seria uma aventura e tanto. Viajaríamos para o Rio Grande do Sul, para cumprirmos três shows em três cidades diferentes: Bento Gonçalves, São Leopoldo e Porto Alegre. Essa viagem rendeu inúmeras histórias, que contarei a seguir!

Continua...

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