segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 14 - Por Luiz Domingues

Chegou o dia do primeiro show, e mesmo ao saber muito bem que seria feito em um espaço intimista e longe de conter uma infraestrutura que o trabalho do Ciro mereceria ter, eu estava animado. Tive o sentimento que esse primeiro show representaria a oportunidade para deslanchar em uma série de outros shows, e notadamente, em meio a um circuito mais estruturado. 

O Club Noir era charmoso, sem dúvida, mas o seu espaço destinado aos shows musicais, era bem discreto, para ser bastante tolerante, eu diria. 

O curioso, é que na parte traseira da casa, havia um pocket Teatro, com estrutura muito melhor. Com um pequeno auditório, com visão muito boa para o público, presença de estrutura de iluminação, palco muito maior, camarim, e o básico do básico: presença de vários pontos de "AC" (a trocar em miúdos: tomadas elétricas!). Ora, por que os shows não aconteciam ali, então?

A resposta veio rápido, através da reação histriônica advinda de uma produtora da casa, que ao nos ver a circular pelo teatro em questão, e sobretudo por notar-nos perplexos pela proibição de termos o nosso show realizado ali, essa moça foi ríspida conosco, ao solicitar para que saíssemos dali imediatamente, pois ali era um "templo sagrado do teatro"... muito bem, ficara entendido. 

Eles só usavam aquele espaço, para apresentações teatrais, e deviam ter problemas de isolamento acústico, consequentemente, não poderiam promover shows musicais, principalmente bandas de Rock. 

E no restante, ficou na conta do esnobismo tolo da mocinha, e seus delírios como "Diva do Teatro". Conformados com essa regra da casa, fomos montar o palco, e ali no espaço permitido e digamos, "menos nobre" a ser usado por reles artistas da música, o sofrimento foi grande, pois a absoluta falta de estrutura do outro ambiente do estabelecimento, nos obrigou a fazermos coisas que não seriam de nossa atribuição natural como artistas. 

Mas diante de tais circunstâncias, não tivemos nenhum pudor em trabalharmos como roadies e técnicos, para fazer o show acontecer, ao demonstrar que todos estavam animados, e não queríamos fazer com que dificuldades técnicas atrapalhassem o espetáculo.

Bem, o esforço foi grande e lembrou-me de certa forma os meus tempos com o "Terra no Asfalto", a minha banda cover do início dos anos oitenta, onde tínhamos que fazer tudo absolutamente sozinhos, inclusive por ter que nos preocuparmos em locar equipamento de PA, o que sob um regime profissional, é o fim da picada. 

Mas, no resultado final, valeu muito a pena!

Continua...

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