quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A Poesia do Tempo - Por Marcelino Rodriguez

Em algum lugar do tempo antes de entrar nos anos oitenta. 

O lugar, entre Campo Grande e Santíssimo. A casa, grande. Nela, eu, meu padrasto, minha mãe. Ali, vivemos um tempo feliz.
    
Minha vida estava no verão.
Na frente de minha porta, havia um terreno cercado de mato verde, onde um bando de pássaros vermelhos, os biquinhos de lacre, faziam uma orquestra diária. Algumas vezes, meu padrasto me levava com minha bola ao campo de futebol, onde trocávamos passes. Eu estava abrindo os olhos para o mundo misterioso.
    
Certas canções me tiravam da pele.
      
Eu era filho daquela natureza.  

E, se tudo não bastasse de intensidade, havia os biquinhos de lacre.
       
Eu simplesmente amava aqueles pássaros. 

Havia-os.


Marcelino Rodriguez é colunista sazonal do Blog Luiz Domingues 2.
Escritor de vasta e consagrada obra, aqui nos apresenta uma crônica curta, extraída de seu livro : "Mais Vazio que o Paraíso". De forma poética, nos fala sobre o tempo remoto que não volta mais, e onde personagens de outrora, jamais estarão novamente em parte alguma, a não ser na memória.

2 comentários:

  1. Que delícia de texto, me remeteu a infância e a pureza de meus animais de estimação, na verdade, eram meus irmãos e os da rua, que sempre vejo enternecida.

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    1. O Marcelino é um especialista em imprimir emoção ao evocar reminiscências, e com isso desperta no leitor a mesma oportunidade de resgatar suas próprias lembranças pessoais. Ou seja, não é todo escritor que consegue tal feito, embora todos o persigam.

      Grato pela leitura e participação, em nome do Blog !

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