segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 111 - Por Luiz Domingues


Enquanto o ônibus sofria modificações na oficina, cumprimos mais um compromisso próximo. Voltamos então à casa "Volkana", de São Bernardo do Campo-SP e desta feita não arriscamos a féria da bilheteria como das ocasiões anteriores. Mais tranquilos com um cachê fixo, não nos preocupamos com a conversa fora da realidade do folclórico gerente da casa. Mas na realidade nós deveríamos ter nos preocupado, pois o sujeito falava em mutirões de divulgação, como se fosse uma tarefa fácil, mobilizar equipes gigantescas de voluntários e na realidade, mal havia verba para produzir um modesto material de divulgação.

Nesses termos, nós relaxamos e a confiar que eles fariam o máximo para divulgar, ao levar-se em conta que nos pagariam um cachê fixo e sob um valor substancial para os padrões de 2001, não levamos em conta de que na iminência de uma revés, a casa teria problemas para honrar o seu compromisso. Isso sem contar o quanto seria desagradável para nós, artisticamente, tocar em meio a uma casa com um quórum de público aquém de sua capacidade, caso isso acontecesse.

Houve a presença de duas bandas de abertura. Uma delas foi o "Madreterra", um ótima banda da região do Grande ABC, mesmo, e cujo baixista fora um ex-aluno meu, chamado: Marcos Pessoto Lira, um rapaz 100% bacana e ótimo músico.

Tal banda desenvolvia um trabalho próprio muito bom e calcado na escola do Hard-Rock setentista, mas com muitas dificuldades para achar espaços, tinha que necessariamente tocar covers pela noite, para sobreviver. Todavia, mesmo ao ter que usar desse recurso, ao menos tal grupo tocava um repertório agradabilíssimo munido por de covers de grandes bandas internacionais dos anos setenta, e me lembro claramente de haver escutado até algumas peças surpreendentes nessa noite, material oriundo de bandas como: Grand Funk, Uriah Heep, Ten Years After etc.

A outra banda que tocou, foi o "Railway". Sinceramente, não me recordo com muitos detalhes do som deles, tampouco de seus componentes. Só lembro-me que achei agradável também a sonoridade produzida por esses rapazes e provavelmente se tratou de uma banda com influência setentista para eu ficar com essa pálida lembrança de algo simpático aos meus ouvidos.

Infelizmente, o público presente não foi muito grande. O dono da casa nos chamou para uma conversa na hora do acerto de contas e recorreu à clássica choradeira sobre a falta de condições geradas pela féria da noite para honrar integralmente o cachê combinado, a vir à baila.

Todavia, ao contrário da imensa maioria de donos de estabelecimentos dessa categoria, eu reconheço que esse rapaz em particular era extremamente sincero e honesto, e realmente se viu em apuros para cobrir o cachê, pois foi nítido que a bilheteria não cobriria nem a metade do valor do nosso cachê. Com esse rapaz, houve a compreensão de nossa parte e apesar de não ser correto de forma alguma, nós compreendemos e cedemos, para assim aceitarmos o valor do cachê reduzido.

Mas se dependesse de seu gerente, creio que não teríamos tal consideração, pois o sujeito deu um show de amadorismo nessa noite. E a sua atuação sob absoluta canastrice iniciou-se ainda antes do nosso show, com as bandas de abertura ainda a tocar. O sujeito, ao perceber que o movimento da casa não aumentaria, começou a ficar nervoso com a perspectiva de ter de nos dar um cheque com um valor alto, que a bilheteria não lhe garantiria o ressarcimento e dessa forma, tentou sensibilizar-nos da pior maneira possível, ao simular estar a sofrer uma crise estomacal aguda.

Ao usar uma toalha de rosto que apanhara no toilette da casa, dizia estar sob uma crise aguda de úlcera e que sentia ânsia de vômito. Ao contorcer-se, dizia estar com muitas dores e entremeava tais lamentos com frases pseudo-subliminares, a fazer alusão que a dor seria a consequência da "preocupação em nos pagar".
Nota sintética sobre o lançamento do CD Dossiê Volume 4, publicada na Revista Rock Brigade, nº 181, de agosto de 2001

Foi nítido se tratar de um teatro medíocre que estava a fazer, pois sob uma circunstância real de crise, ele já teria saído a correr para um pronto-socorro, sem nenhuma perda de tempo em querer angariar a pena de quem quer que fosse. De certa forma, foi engraçada a cena patética do sujeito com a toalhinha no rosto e claro que o Rodrigo, um imitador nato, já compôs o personagem no camarim e aquilo nos divertiu ali mesmo.
Nota sobre o lançamento do CD Dossiê Volume 4, publicado na Revista Guitar Player nº 64, de agosto de 2001

Lógico que sabíamos que o pouco público presente traria dificuldades para a casa. Foi óbvio que o espaço não tinha reservas para bancar shows e dependia do movimento da bilheteria. Infelizmente foi o que aconteceu, mas como eu já disse, o dono era um rapaz honrado, e sempre nos tratou bem, portanto, acabamos por relevar. Mas se dependesse apenas do gerente e simulacro de ator, a fazer uso da sua indefectível toalhinha...

Isso aconteceu no dia 15 de setembro de 2001, um sábado, e o público presente foi registrado na casa de cento e vinte pessoas presentes. O próximo show seria uma aventura e tanto. Conto a seguir...

Continua...

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