quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Autobiografia na Música - A Chave/The Key - Capítulo 38 - Por Luiz Domingues


A falar sobre os companheiros dessa jornada:

Theo Godinho


Theo Godinho foi guitarrista da banda Hard-Rock oitentista, "Jaguar", ao lado do baterista, José Luiz Rapolli. Ótimo guitarrista, tinha uma orientação pesada, mas certamente vinha de escola setentista.

A sua participação na banda foi curtíssima, apenas pelo fato de que em comum acordo, verificamos que um sexteto seria inviável pela massa sonora envolvida. Ele poderia ter ficado tranquilamente se não houvesse também a presença do Edu Ardanuy.

Pessoa de ótima índole, apesar de sua super curta participação, a impressão que deixou para mim, foi a melhor possível. Depois dessa curta participação em nosso conjunto, foi membro de muitas bandas nos anos posteriores, e também se envolveu com produção de audiovisuais.

Infelizmente Theo Godinho nos deixou em 2012, muito precocemente por sinal, e a deixar uma grande lacuna para a cena.

Atualmente (2015), a sua filha, Thais Godinho, que é jornalista, está a fazer pesquisa de campo para reunir elementos para fazer uma biografia de seu pai, e quem sabe até um documentário para resgatar a sua história e legado artístico. Acho tal atitude dela, belíssima como filha, e certamente que merecida por parte do Theo.


José Luiz Rapolli 

Eu o conhecia superficialmente desde 1985, mais ou menos, por conta de ter visto a sua banda, "Jaguar", a atuar, mas só nos cumprimentávamos nessa época, sem estabelecer amizade.
Quando o Beto anunciou que ele seria o baterista da nova banda, fiquei contente com a escolha e a sua aceitação, e não me desapontei, posteriormente.

Rapolli não tinha a mesma técnica de José Luiz Dinola, com o qual trabalhei por cinco anos através d'A Chave do Sol, mas era (é) um ótimo baterista. 

Por outro lado, ao contrário do Dinola que era muito fechado no conceito do Jazz-Rock, Rapolli era muito mais próximo do meu espectro musical, no quesito das preferências musicais, a demonstrar um grande apreço pelo som das décadas de sessenta e setenta, itens proibitivos em tempos xiitas de pregação niilista, naquela década de oitenta.

Dessa forma, ficamos rapidamente amigos e sem dúvida, as conversas que tivemos, principalmente em viagens de ônibus onde dividimos os assentos, representaram os poucos momentos agradáveis que guardo na memória sobre o período dessa banda.

Tal impressão favorável, motivou-me a procurá-lo, cerca de nove anos depois, em 1997, para integrar o projeto de uma nova banda que eu estava a criar, chamada Sidharta (história inteiramente contada em capítulo específico na minha autobiografia), mas não deu certo, pois eu interpretara mal essa situação de 1988, e anos depois, tal projeção não faria sentido algum, conforme está explicado na história daquela outra banda.

Independente disso, Rapolli é um sujeito calmo, gentil e solícito, com o qual gostei de ter contado nesse período difícil que foi esse de 1988-1989, na trajetória curta d'A Chave/The Key.

Anos depois, eu soube que ele estava a tocar em bandas cover pela noite paulistana, e que se firmara com um "Pink Floyd Cover", que tornou-se uma dessas bandas tributo que primava pela perfeição em executar o repertório da banda homenageada etc. e tal.

E também foi membro do "Big Balls", banda do guitarrista, Xando Zupo, com o qual eu toquei no "Pedra", anos depois.



Fabio Ribeiro


Desde meados de 1986, eu ouvia pessoas a falar de um jovem tecladista que despontava no cenário do Rock underground, chamado: Fábio Ribeiro. Tais comentários, inicialmente vieram do meu amigo e roadie d'A Chave do Sol, Eduardo Russomano, hoje saudoso, e que o conhecia e admirava.

Ao final de 1987, ele foi convidado pelo Beto Cruz e fez uma participação especial com A Chave do Sol, no Teatro Mambembe e caprichosamente, foi o último show dessa banda que dissolveria-se poucos dias depois graças a um desentendimento entre os seus membros remanescentes: eu, Luiz Domingues, Rubens Gióia e Beto Cruz.

Quando uma nova banda foi criada emergencialmente para suprir a agenda d'A Chave do Sol, recém implodida, Beto não teve dúvidas e convidou, Fábio Ribeiro para fazer parte. Tecladista dotado de uma sólida formação teórica, ele gostava, e isso foi raro naquela época, do Rock Progressivo setentista, apesar de estar bem antenado nas sonoridades modernas e oitentistas, também.   

Muito técnico, trata-se de um solista virtuose e piloto de vários sintetizadores, à moda antiga dos tecladistas setentistas clássicos.

Como pessoa, é um rapaz muito educado, simples e isso foi fruto dele ter sido criado por pais extremamente bondosos, que inclusive eu já citei bastante na história desta banda.

Muito jovem, versátil, muito técnico, com vasta bagagem teórica, e virtuose como solista, tornou-se inevitável que ele chamasse muito a atenção, e recebesse muitos convites para outros trabalhos.
Portanto, ainda a fazer parte de nossa banda, estava também envolvido com muitas outras bandas de Hard-Rock e Heavy-Metal, onde gravou discos, tocou ao vivo com tais artistas, e manteve sempre uma banda autoral e sob orientação progressiva setentista chamada:"Desequilíbrios", além de um projeto solo e experimental, "Blezki Zatsaz".

Nos anos 1990 e 2000 foi membro de bandas como "Angra" e "Shaman" do mundo do Heavy Metal, e do Violeta de Outono, além de abrir o seu estúdio particular. Toca com muita gente hoje em dia e é representante de várias marcas de teclados internacionais no Brasil, além de ser um experiente professor de música e programação de teclados/tecnologia.


Eduardo Ardanuy

Descoberto pelo Beto Cruz, Edu Ardanuy chegou para esta nova banda com fama de virtuose, e de fato o era. Toca com uma técnica absurda, e sempre foi obcecado por tocar muito mais ainda, a estudar com muito afinco.

Circunspecto e calado, passou-me a impressão inicial de que era obcecado pela técnica e se esta não era a minha visão da música e nunca será, ao menos eu o respeitava em sua determinação e o admirava por ser focado no seu objetivo, fato raro para um menino de vinte anos de idade, e que geralmente tem dificuldade para focar em um objetivo. Foi por sua mentalidade que a banda se pautou doravante, e construiu a sua curta carreira e isso não foi o que eu desejaria, certamente.

Mas claro que sou-lhe grato pela sua participação, e se não foi som que desejaria trabalhar com aquela sonoridade, isso não foi nem de longe por sua culpa, mas apenas foi um arranjo do acaso que nos uniu ali naquela situação.

Não nos comunicávamos muito nesse período em que trabalhamos juntos. O seu diálogo mais direto sempre foi com o Beto e o Fábio, musicalmente a falar. Mas sempre houve bastante respeito mútuo e lhe sou grato por ter nos socorrido naquele momento inicial muito difícil e pela persistência, também.

Dentro do mundo do Rock pesado e em específico das vertentes do Hard e Heavy oitentistas/noventistas e com orientação virtuose, Edu é uma referência e certamente é considerado um dos maiores guitarristas do mundo, e isso é extraordinário, é claro. Ele é reverenciado em publicações especializadas internacionais, citado por guitarristas do nível de Steve Vai, e tudo isso é muito merecido, logicamente.

Edu Ardanuy tocou por muitos anos no super trio: "Dr. Sin", uma das mais significativas bandas brasileiras do mundo pesado e ultra técnico, além de ter participado muitos trabalhos solo.

Tornou-se um dos maiores professores do Brasil e recentemente abriu com os seus irmãos uma escola de música que é referência nesse mundo dos apreciadores do Rock pesado e do virtuosismo, chamada: "Clã Ardanuy".

Apesar de na época não termos ficado muito próximos, sei que ele é um rapaz de boa índole, e em muitas ocasiões em que nos encontramos em bastidores de shows, nos anos 1990, e 2000 em diante, ele sempre foi muito cordial e simpático comigo.

Beto Cruz

Considero a persona de Beto Cruz, como a força motriz dessa banda chamada: A Chave/The Key. a sua determinação para achar uma solução que parecia impossível de ser encontrada, foi extraordinária no início.

Ao agir como um verdadeiro produtor executivo, ele não mediu esforços para criar uma banda de uma forma instantânea, e fazer com que ela se tornasse apta a competir no difícil mercado da música, em tempo recorde. Sou-lhe muito grato por todo o esforço empreendido, pela solidariedade, pela garra, pela luta, pelos sacrifícios pessoais que teve, pela mão na massa, e tudo mais que eu puder elencar em termos de trabalho árduo e obstinado.

Peço-lhe desculpas se de minha parte, eu não correspondi na mesma intensidade, mas creio que está bem explicado neste relato, os motivos de minhas contrariedades e acentuada perda de energia no decorrer do processo, que esvaiu-me as forças.

Seu prêmio por esse esforço hercúleo, é o disco que registrou tal momento e a descoberta de valores artísticos que muito brilharam, brilham e brilharão ainda, graças ao seu olhar arguto.

Sobre sua personalidade, o que ele fez depois dessa banda, e faz atualmente em termos artísticos, eu já descrevi ao final do capítulo sobre A Chave do Sol, portanto, é só consultar ali.

Está encerrada essa etapa da minha trajetória na música.  

Agradeço aos companheiros dessa jornada e mais uma vez lhes peço desculpas por ter sido excessivamente franco em relação às minhas impressões contra o trabalho em si, na minha ótica e gosto pessoal, e reitero, nenhuma contrariedade de minha parte tem caráter pessoal contra quem quer que seja, e pelo contrário, eu sou grato a todos pelo companheirismo, em uma etapa que foi muito difícil particularmente para mim.

De todos os capítulos que eu escrevi na minha autobiografia na música, este foi sem dúvida o mais difícil, pela complexidade de escrever e não deixar margem de dúvida a alimentar melindres para ninguém envolvido, seja o Beto Cruz, os membros novos, e tampouco o Rubens Gióia. Espero sinceramente que todos entendam as colocações com a máxima clareza.

E agradeço também aos fãs do trabalho, que não são muitos, devido às circunstâncias que essa banda enfrentou e pela maneira que se expressou artisticamente.  

Para efeito de cronologia desta minha autobiografia, daqui em diante, vem a minha história com o Pitbulls on Crack, iniciada em janeiro de 1992, contudo, do período em que saí desta banda, 1989, até o início do Pitbulls on Crcak, há muitas histórias sobre projetos e tentativas de formação de bandas autorais, além de trabalhos alternativos que eu fiz, e que estão relatados nos capítulos dos "Trabalhos Avulsos". Basta consultar ou reler, por ali.

Um agradecimento ao saudoso, Theo Godinho, pela força inicial nos dois primeiros shows emergenciais de 1988!

Muito obrigado aos amigos Fabio Ribeiro, Eduardo Ardanuy e José Luiz Rapolli! 

Muito obrigado, Beto Cruz, por absolutamente tudo o que envolveu essa banda!

Grato, A Chave/The Key, pelo esforço em tentar manter uma chama viva!

Muito obrigado, amigo leitor, por ter acompanhado esta etapa da minha autobiografia na música!

4 comentários:

  1. Esse trabalho não tem muitos fãs? Puxa, eu sou um desses poucos então, Luiz. Embora curta todas as fases da Chave do Sol, pessoalmente o meu álbum favorito era o The Key, e reconheço que sou um dos muitos que achavam que A New Revolution era continuação do legado d'A Chave do Sol. Escutei muito esse disco e só lamentava o fato da mixagem ter deixado tudo muito abafado. Realmente estranhei que sua performance nesse álbum estava tão discreta, sem aqueles maravilhosos fraseados melódicos que você fazia com as viradas de bateria.

    É realmente uma pena que você estava tão insatisfeito com o direcionamento musical da banda. Mas perfeitamente compreensível, ao lermos toda a sua história.

    Um abraço de um grande fã d'A Chave do Sol!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fala, Takeo !

      Pois é...a minha percepção é a de que esse trabalho não arregimentou muitos fãs. Do grande público que a antiga Chave do Sol tinha, acho que muita gente seguiu essa nova banda, mas ela em si, não conquistou muita gente nova pelo seu trabalho em si. Se você se considera um simpatizante, realmente é um dos poucos, mesmo.

      Sobre a mixagem do LP A New Revolution, realmente é muito equivocada.

      A respeito da minha performance individual no disco, fico contente que minhas explicações esclareceram o fato de minha atuação ter sido tão simples. Grato pelo elogio, é claro !!

      E por fim, fiquei imensamente feliz por verificar que você compreendeu toda a minha explicação sobre o por quê eu não ter me afeiçoado à esse trabalho.

      Confesso que era uma preocupação minha escrever com a máxima clareza, para não deixar nenhuma margem de dúvida aos leitores, e seu comentário me tranquilizou bastante nesse sentido.

      Eu lhe agradeço muito por ter lido todo o relato, e postado vários comentários no decorrer dos capítulos, sempre com bastante simpatia e muitas vezes trazendo adendos importantes a enriquecer a minha narrativa.

      Grande abraço, amigo !!

      Excluir
    2. Me lembrei agora, acho que o Fábio Ribeiro comentou numa entrevista, que o Beto fez a mixagem sozinho, sem a cooperação do resto da banda, e que isso foi um dos motivos dele e do Edu terem saído da banda pois o resultado final não agradou ninguém. Essa informação procede?

      Excluir
    3. Takeo :

      Mais ou menos por aí, mas no caso do Edu, ele já estava a pleno vapor trabalhando com o Anjos da Noite, portanto, sua saída da Chave não deve ter tido essa motivação apenas, e outra coisa : o disco privilegia totalmente a guitarra, realçando o seu virtuosismo. Portanto,chateado mesmo pela mix, devemos ficar eu; Fabio e Zé Luiz Rapolli.

      Excluir