terça-feira, 18 de agosto de 2015

Autobiografia na Música - A Chave/The Key - Capítulo 26 - Por Luiz Domingues


Nessa altura dos acontecimentos, o meu ânimo que nunca foi grande com essa banda e esse som, sobretudo, esteve ainda mais baixo. Eu não nutrira nada contra ninguém, pessoalmente, e pelo contrário, achava que todos eram pessoas de bem, sob todos os aspectos. E estava grato ao Beto pelo seu esforço descomunal em manter tudo isso a funcionar, e sem dúvida, fora o seu grande mérito ter tirado essa banda da cartola quando ficáramos sob uma situação dificílima no final de 1987. Mas a estética me desagradava inteiramente, em uma oposição sistemática aos primeiros e tímidos sinais que começariam a impulsionar-me na direção diametralmente oposta. Cansado das adversidades hostis da década de oitenta, comecei a perceber que havia uma chance de se buscar uma reciclagem no que eu realmente amava, e assim, uma semente pequenina começou a germinar na minha mente, a levar-me de volta às décadas de sessenta e setenta.

Tudo o que ocorreu depois desse início de retomada de posição, mais ou menos em 1988, foi a crescer e nos capítulos sobre os meus trabalhos avulsos, está contado a partir de 1990, assim como toda a trajetória do Pitbulls on Crack que só fez tal sentimento crescer, para explodir na trajetória do Sidharta, a partir de 1997, e posterior concretização desse sonho de resgate retrô, com a Patrulha do Espaço no pós-1999.

Mas é importante assinalar: foi em 1988 que tal semente inicial começou a me fazer sonhar novamente, ao resgatar os meus ideais Rockers sedimentados nos anos 1970, quando eu iniciei a minha trajetória na música.

Portanto, é preciso esclarecer que o surgimento de uma pequenina semente, não faz com que o semeador possa se animar, verdadeiramente e nesse caso, eu ainda não achava possível tal resgate, e pelo contrário, ainda vivia sob o sentimento amargo de que tudo o que eu amara havia sido destruído pela deflagração da bomba Punk e os seus derivados radioativos posteriores.

Resignado em viver em um mundo sombrio, cinzento e sem Jimi Hendrix, The Beatles e ecos Woodstockeanos, estava acostumado com a desolação oitentista que fazia com que o cenário parecesse o set de filmagem do filme, "Blade Runner", com os seus famigerados "cyber punks" e sobretudo pela sua indecente rudeza e agressividade gratuita.

Portanto, se o som dessa banda foi estupidamente oitentista sob o prisma do Hard-Rock virtuosístico, tornara-se óbvio que eu me sentisse contrariado. Eu queria mais é voltar para o The Who, The Beatles e The Rolling Stones, e não mergulhar em Yngwie Malmsteen e seus congêneres.

Alheios à esses conflitos internos, os colegas nada tiveram a ver com tais anseios meus, e naquela momento, eu não tinha nem meios de sair e ir buscar o meu caminho e a minha verdade, mas haveria de ser por pouco tempo, no entanto. Estávamos a entrar em outubro de 1988, e em menos de um ano, tal resolução seria concretizada, enfim.
Matéria que eu escrevi para a Revista Rock Brigade, sob o  convite de seu editor, Antonio D. Pirani, para falar sobre baixos e baixistas. O meu foco foi a velha guarda, naturalmente, mas claro que citei exemplos oitentistas pela preocupação em não ser anacrônico e principalmente nas páginas de uma revista que era focada no mundo do Heavy-Metal, prioritariamente

Daqui em diante, só fui a permanecer com a banda para não deixar os meus amigos desamparados, principalmente o Beto, com o qual eu contraíra uma dívida moral por tudo o que ele fez para manter essa banda de pé, e o mínimo que eu poderia fazer nessa altura, foi lhe dar o suporte que precisava para chegarmos pelo menos na gravação de um álbum, e pelo desencadear dos acontecimentos, estávamos perto de realizarmos tal feito.

Continua... 

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