sábado, 18 de julho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 388 - Por Luiz Domingues


Portanto, a gravação da bateria foi tranquila, tecnicamente a falar, pois do ponto de vista emocional, fora bastante intensa para todos, devido ao fatores que eu relatei anteriormente. Apesar da pressa extrema com a qual estávamos a lidar por conta de não termos meios de bancar adequadamente uma gravação mais folgada em termos de tempo, optamos pela metodologia tradicional do "um-por-vez", ao apostar na rapidez da captura individual, em detrimento de uma gravação de bases ao vivo.

Portanto, encerrada a participação dos bateristas, Ivan Busic e José Luiz Dinola, o próximo na ordem tradicional, fui eu. Também muito seguro daquelas canções e sem percalços, eu gravei rápido e até me dei um luxo extra, ao ver que dentro do que havíamos planejado em termos de tempo para a minha parte ser gravada, havia sobrado mais de duas horas do previsto. Na faixa, "Profecia", onde um micro solo de baixo se fazia necessário, por que fazia parte do arranjo da música ao vivo, que fora executado desde 1986, por isso, acabei por gravá-lo em um canal extra, para somar-se ao baixo regular da música. Essa foi a primeira vez em que usei tal recurso em estúdio e somente mais uma vez, em 2003, quando gravaria uma faixa no álbum solo do guitarrista, Xando Zupo, fiz algo semelhante, mas desta feita por sugestão dele, e não por minha ideia.  

As bases de guitarras foram muito tranquilas também. O Rubens não teve dificuldades em gravar faixas que conhecia muito bem por toca-las ao vivo há bastante tempo, e o Beto teve participação a gravar a guitarra base e solos em três faixas: "A Woman Like You", "Sweet Caroline" e "Lírio de um Pantanal".

Em outras sessões posteriores, os solos também foram tranquilos, sem percalços técnicos. Rubens naturalmente era o nosso "lead guitar", mas infelizmente, por conta do clima ruim em que a banda mergulhou desde a virada do primeiro para o segundo semestre de 1987, estava mau humorado quase todo o tempo, e a colocar-se inacessível para diálogos. Parecia estar ali apenas a cumprir uma função profissional, mas não havia mais o seu envolvimento emocional outrora sempre entusiasmado.
Tal situação era horrível em todos os sentidos, mas entristecia-me ainda mais, pois nós dois fôramos as células primordiais da banda, e como se não bastasse não termos mais o Zé Luiz entre nós, agora amargávamos esse distanciamento. Bem, eu não cogitava que essa contrariedade dele resultaria em um mal maior para a banda, em poucas semanas, e na época, eu considerei que essa rusga passaria e tudo se normalizaria após o lançamento do disco e volta da maratona de shows e ao estabelecermos contatos na mídia etc.

Terminadas as gravações das bases e solos, chegara a vez dos vocais, backing vocals e participações de convidados a participar do disco. Sobre os convidados, aliás, foram apenas dois, além do Ivan, obviamente: Fernando Costa e Andria Busic.  
Foto promocional do "Inox", com Fernando Costa ("The Crow"), sendo o segundo da esquerda para a direita

Fernando Costa era guitarrista do Inox (muito bom, por sinal), mas a sua formação mesmo como músico fora como tecladista, e de fato, a sua afinidade com o Rock Progressivo setentista era total. A se mostrar como um exímio tecladista e geralmente envolvido com bandas de orientação progressiva, Fernando surpreendera à todos quando surgiu como guitarrista de uma banda de Heavy-Metal nos anos oitenta e de fato, ao "pilotar" bem a guitarra em uma banda dessas características e sozinho, sem uma segunda guitarra a apoia-lo, portanto, ao se assumir como "lead guitar" da banda. Na verdade, ele é um multi-instrumentista, e nos dias atuais (2015), tem se apresentado como baixista em vários trabalhos, versátil e dono de um excepcional dom musical, sem dúvida.

Nessa participação como convidado, Fernando, ou "The Crow" como gostava de ser apelidado, gravou algumas intervenções de teclados, nada muito rebuscado, apenas a garantir um leve colorido aos arranjos de "Sun City", "Lírio de um Pantanal", "Change my Evil Ways", e "Keep me Warm Tonight".  
Andria Busic em foto bem mais atual, extraída do Site oficial do Dr. Sin, a sua banda há muitos anos.

Já no caso de Andria Busic, a sua participação foi ao participar de alguns backing vocals, ao nos emprestar a sua bela voz aguda. Ele cantou nos refrães de: "A Woman Like You", "Sweet Caroline", e "Sun City".

Sobre a rotina no estúdio Guidon, lembro-me que trabalhamos com dois técnicos, que foram solícitos e interagiram bem conosco e com o Edy Bianchi: Edelson e Pepeu. A mixagem do disco também foi tranquila, com o Bianchi a nos auxiliar bastante.
Claro, tudo foi feito a toque de caixa, por que o dinheiro estava curtíssimo, a impossibilitar totalmente um maior esmero, isto é, a mostrar no espelho, a dura vida do artista independente e pobre.

Por volta do final de novembro, encerrou-se essa etapa de estúdio, e então tivemos que correr com o processo posterior do corte e a contarmos posteriormente com a rapidez da fábrica, para prensar o quanto antes, pois queríamos e na verdade, precisávamos ter o disco em mãos o quanto antes. 

Ao encerrar o relato sobre a lembrança dessa produção no estúdio, lamento muito que não haja uma única foto desse momento histórico da banda. Além da verba curta que tínhamos para tudo, mesmo uma despesa barata como providenciar filmes para um amigo registrar em uma reles máquina Polaroid que fosse, esteve inviabilizado. Só lamento, portanto, não ter tal material aqui e agora, em 2015, quando publico estas linhas...
Continua...

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