sábado, 18 de julho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 385 - Por Luiz Domingues


Nesse ínterim, o Beto conseguiu conquistar mais dois patrocínios para o disco, mas apesar dessa ação bem sucedida ao nosso favor, assim como houvera ocorrido com a adesão do salão de cabeleireiro "Lazinho's", desta feita ele anunciou o apoio de uma loja de artigos de couro localizada na Rua Augusta, chamada: "Francis Couros", e um patrocínio de uma Luthieria que apresentara-se para o mercado, chamada: "Vintage". 

No caso da loja de artigos de couro, tornou-se um fato que na época usávamos bastante peças de couro para compor o nosso figurino, mas a perspectiva de ganharmos, uma peça cada um, não foi exatamente o que mais precisávamos naquele instante. Portanto, formalizou-se o segundo patrocínio apenas relativo contabilizado, visto que termos direito a cortes de cabelo e uma peça de roupa de couro para cada componente do grupo, não nos ajudara em nada a enfrentarmos a despesa assustadora que estávamos a assumir ao bancar sem recursos, um novo LP.

E no caso dessa loja em específico, ainda houve a agravante de que só uma peça foi disponibilizada, no caso a jaqueta de couro que o Beto usou na foto da contracapa do LP, e as outras peças prometidas para os demais, jamais foram entregues. Bem, pelo menos o Beto saiu bem na foto, ao usar tal jaqueta.

No caso da Luthieria Vintage, cabe explicação. A ação do Beto foi ótima, sem dúvida, aliás nos três patrocínios que nos trouxe e louvo isso com muito entusiasmo e gratidão, que fique muito claro.

Contudo, assim como no caso dos dois outros patrocinadores sobre os quais eu comentei anteriormente, tal Luthieria também não acenou com apoio financeiro direto, mas a oferecer-nos vantagens subliminares aos membros da banda, no caso, com a montagem de duas guitarras e um baixo.

Se no caso das roupas de couro e do salão de cortes de cabelo, pelo menos na promessa, os quatro membros seriam beneficiados, neste caso, o baterista não levaria vantagem alguma com tal apoio. Ficou menos constrangedor para nós, pelo fato do Ivan Busic não ser componente oficial da nossa banda, mas um convidado, contudo, caso o Zé Luiz estivesse normalmente a ocupar o seu lugar na banda, teria sido constrangedor.

No meu caso em específico, foi uma oportunidade de ouro para que eu pudesse finalmente contar com um segundo baixo e sair da incômoda posição de lidar com a carreira munido de um número alto de dificuldades que a logística do ofício submete um instrumentista normalmente, com uma ferramenta única, portanto, a estar sujeito a ficar desprevenido em qualquer eventualidade.

Contudo, a foi a minha situação pessoal nessa época, e apesar de saber que era arriscado ao extremo ter apenas um instrumento para enfrentar os compromissos todos que tínhamos, eu não tive meios para melhorar tal situação, mesmo nos momentos de pico da banda, onde uma compensação financeira avistou-se, fruto de nossas melhores conquistas.

Então, claro que pelo ponto de vista estritamente pessoal, foi uma grande conquista em meu caso naquele instante, portanto, nem tenho como lamentar o fato de que esse patrocínio não tivesse sido obtido na forma de dinheiro vivo, dada a nossa necessidade premente de saldar despesas.

Mas também não posso deixar de registrar que o patrocínio ficou capenga no cômputo final, pois só eu culminei em apodera-me desse baixo, e as duas guitarras prometidas jamais foram entregues. É preciso registrar também que o acordo cobriria apenas a despesa da madeira de corpo & braço, e a montagem do instrumento &  pintura, com a obrigação da compra dos componentes, por nossa conta.

Além do mais, no meu caso, a longa espera que eu tive para ter esse instrumento na minha mão, finalizado enfim, foi imensa. Esse acordo foi fechado em 1987, mas somente ao final de 1989, eu pude contar com ele, e mediante inúmeras visitas na sua longínqua oficina onde estava a ser montado. 

Em muitos momentos, pensei que não o pegaria, pois em um dado instante, o luthier patrocinador chegou a anunciar a dificuldade em cumprir a sua promessa, mas mediante pressão de minha parte, ele recorreu a um outro luthier que culminou em finalizá-lo e aí, uma situação bizarra se desenhou, pois se o propósito inicial seria fazer propaganda de uma luthieria, no caso a "Vintage", o baixo acabou por receber o selo da "Tajima", onde foi finalizado.


Usei-o pouco ao vivo, e em estúdio, pois quando me foi entregue finalmente, A Chave do Sol simplesmente já não existia mais e o que ocorreu naquele momento foi que estava a trabalhar com uma outra banda banda diferente, nascida de sua dissidência (A Chave/The Key), portanto, o patrocínio não se justificara por vários motivos, sendo o pior de todos, o fato bizarro do instrumento me ser entregue com uma marca completamente diferente, que em nada contribuiu como exposição ao seu patrocinador original.

Para falar do instrumento em si, quando me foi entregue, aliviou-me pessoalmente como já disse, pois por anos eu sofri por só possuir um único instrumento para levar adiante a carreira e as suas necessidades técnicas prementes. Mas por ironia do destino, poucas semanas depois de tê-lo enfim em minhas mãos, a minha situação financeira foi outra, bem melhor, e uma oportunidade para adquirir um terceiro baixo, surgiu e desta feita importado, e de marca renomada, ou seja, a minha situação em termos de disponibilidade de ferramentas, ficou muito mais confortável, doravante.

Então, por esses fatores expostos, tal baixo "Vintage", mas que no seu headstock saiu marcado como "Tajima", não foi muito usado ao vivo e em gravações. Porém, tal baixo marcou de forma absurda a minha sala de aulas, pois foi com ele que eu mais contei para ministrar aulas, durante o período de 1989 até 1999, quando ministrei a minha última aula.

Recentemente (2015), o submeti à uma reforma geral, inclusive com troca de componentes, e agora ele está tinir, ao assemelhar-se visualmente e sobretudo soar como um autêntico Fender Precision, que foi o seu projeto inicial, aliás.

De volta a falar dentro da cronologia: tínhamos três patrocínios mambembes que nada contribuíram diretamente para o custeio do LP que iríamos gravar, mas que foram melhores que nada, e nesse aspecto, agradeço-os, apesar dos pesares, e louvo a iniciativa e esforço do Beto Cruz que esforçou-se para angariá-los e na prática os fechou.
 Continua... 
 

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