sábado, 18 de julho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 383 - Por Luiz Domingues



Eu não sabia de onde tirávamos forças para prosseguir com aquele cenário pintado à nossa frente. Sem um empresário decente, sem gravadora, sem dinheiro, e o pior de tudo, rachados internamente pela perda irreparável de nosso baterista querido, essa sim, a maior das perdas que poderíamos ter tido.

Mas, ao enxergar hoje em dia, acho que tenho a resposta para tal indagação que expus no primeiro parágrafo deste capítulo, ou seja: foi por puro instinto de sobrevivência, que nos movemos.

Além do mais, também houve o sentimento que um término de atividades seria a coroação de uma frustração enorme por termos morrido na praia, após tanto nadarmos, e pior que isso, naquela sensação de perdermos tudo o que tínhamos conquistado (e foi muita coisa), com a nossa heroica jornada feita em alto mar.

Antes de seguir em frente na cronologia, eu preciso apenas registrar que uma última tentativa de abordagem de uma gravadora fora feita, mas nessa altura, ninguém mais mantinha esperanças, após nos habituarmos com o modus operandi em voga em todas as companhias. a resumir, uma fã nossa do Rio de janeiro, disse-nos que conhecia um contato dentro da gravadora, EMI-Odeon. Claro que a sua gentil oferta em intermediar um encontro foi atendida e assim, desta feita, Eliane Daic, ainda a exercer função como produtora da nossa banda, se encontrou com essa fã no Rio, e levou consigo o material para tal contato, mas... nem resposta sobre se marcar uma reunião de audição com o diretor de repertório tivemos, o que foi de se esperar.
De volta à cronologia, a nossa realidade se mostrava sob profunda aspereza nessa época, mas louvo muito a predisposição do Beto em tomar muitas frentes de trabalho, simultaneamente, com muita energia, e praticamente a suprir dessa forma, esse tipo de característica de profunda força de trabalho obstinada, o que fora a marca registrada do Zé Luiz Dinola.

Nesses termos, como eu já mencionei antes, ele alinhavou o contato com o Estúdio Guidon, a conversar com o seu gentil proprietário, um rapaz chamado: Guto. Resgatou o artista que fizera um raf de capa e foi atrás para fechar um acordo para ele tocar em frente o trabalho para concluir o seu lay-out. Contatou Ivan Busic para tocar bateria em nosso disco, e não parou por aí, pois foi rápido na ação empreendida e começou a alinhavar possíveis patrocinadores para nos auxiliar nessa despesa insana com a qual não tínhamos a mínima condição para arcarmos sozinhos.

Nessa seara, Beto logo anunciou um patrocínio conquistado, mas que no momento decisivo, revelou-se insípido e mais que isso, praticamente um alvo fácil para as piadas prontas da parte dos detratores...

Tratou-se de um salão de cabeleireiro masculino ("Lazinho's"), que não nos daria dinheiro para ajudar nas despesas, mas oferecera o uso de seus serviços... bem, éramos cabeludos e artistas, portanto precisávamos de um serviço profissional de bom nível nesse quesito, mas convenhamos, eu não me importava em acertar as pontas da minha cabeleira ao estilo Rocker setentista, em salões bem mais modestos e a pagar por esse serviço.

Porém, na penúria em que nos encontrávamos naquele instante, qualquer ajuda ventilada foi válida, e se não empolgou em princípio, foi melhor ter o patrocínio insípido, do que não tê-lo.

Fora isso, Beto não perdeu tempo, e começou a cotar preços de fábricas de prensagem de vinis, e gráficas para imprimir as capas.

De minha parte, o acordo com a Rock Brigade fora feito, mas a minha participação para firmar tal apoio, fora pequena, pois a intervenção mais incisiva fora por parte do saudoso, Eduardo Russomano. Eu também prontifiquei-me a manter o fã-clube em atividade, e ele foi vital para as nossas ações de marketing.

Uma outra colaboração singela foi ter conversado com o meu amigo, Carlos Muniz Ventura, e garantirmos assim uma sessão de fotos com custos minimizados, praticamente só a pagarmos pelo material fotográfico, a visar obtermos as fotos oficiais do álbum, e também as promocionais que precisaríamos para a divulgação.

Uma última ação de minha parte, foi combinar com o Walcyr Chalas, uma tarde de autógrafos para o lançamento do disco, nas dependências de sua loja e mais para frente, eu darei detalhes sobre tal ação, que reputo ter sido um dos últimos suspiros de vida da banda, com enorme sucesso.

Infelizmente, o Rubens pareceu estar alheio à todo esse esforço e profundamente chateado pela somatória de fatos ruins que nos ocorreram nos últimos tempos, esteve distante de nós, e assim, não se empolgou com a produção do disco. Relevamos, ao compreender que o seu estado de espírito estava baixo, e dessa forma, continuamos a nos esforçar, apesar dessa discórdia instaurada que ainda minara a banda, internamente.


Continua...
 

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