sexta-feira, 19 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 329 - Por Luiz Domingues

Logo nas primeiras conversas com os produtores, Sonia e Toninho, estes nos falaram sobre outras bandas versadas por outros estilos musicais que faziam parte do elenco do escritório, todavia, isso não se confirmou quando começamos a frequentar as dependências do casarão. 

Talvez  fossem apenas negociações em andamento que não se concretizaram, mas eles jogavam da maneira a nos dizer que já os tinham sob contrato, provavelmente como uma forma velada de nos pressionar a aceitar, ou por que talvez fosse vergonhoso para eles não contar efetivamente com ninguém no elenco, ou mesmo um misto das duas coisas.

Portanto, logo nos primeiros dias que começamos a ensaiar ali no estúdio, tomamos posse do ambiente todo. Usávamos o estúdio a vontade, com o técnico, Clóvis, à nossa disposição, e ao aproveitarmos isso, começamos a fazer a pré-produção para gravarmos uma nova demo-tape, que precisava ser ainda melhor que a que graváramos em abril, por conta própria, e também dar vazão à onda de criatividade que estávamos a observar, com muitas músicas novas que estavam a surgir. Decidimos trabalhar forte nessas duas frentes e por ter sido assim, uma safra nova de canções reforçou o material que já tínhamos desde a entrada do Beto Cruz.
E o mais prolífico entre nós, nessa fase, foi o Beto mesmo. Ele estava a passar por uma fase criativa, e assim, apresentava-nos riffs quase todos os dias para trabalharmos, além de melodias e ideias para letras.
o técnico de som do Studio V, Clovis Roberto da Silva, em foto bem mais atual.   

Nos entrosamos muito bem com o técnico do estúdio V, o competente e muito solícito, Clovis Roberto da Silva. Ele era extremamente simpático e gentil e em poucos dias já se tornou "um de nós", ao participar das brincadeiras, a rir e a se afeiçoar ao nosso som, quase como um torcedor do nosso time, e isso foi muito positivo, pois o seu empenho nas gravações para dar o seu melhor como técnico, foi importante para nós, e ao ir além do trabalho profissional, simplesmente, que ali exercia como contratado fixo do escritório.
Uma questão surgiu logo nas primeiras reuniões, assim que fechamos com eles: tínhamos uma estrutura pequena, mas funcional de equipe de shows e uso do nosso fã-clube. Tal organização tornara-se vital para nós, por que a mala postal era o nosso principal meio de divulgação direta com os fãs, principalmente para anunciar datas de shows e lançamentos de discos e produtos de merchandising.

Durante muito tempo, eu e Zé Luiz o tocamos sozinhos, mas ele havia crescido muito e para acompanhar tal crescimento, queríamos contratar um funcionário que se dedicasse a ele, em tempo integral, em dias úteis, como um escriturário mesmo. Já estávamos a fazer isso de uma maneira informal, mas sem poder oferecer um salário fixo e a devida estrutura burocrática, a prover carteira assinada e direitos trabalhistas assegurados, por que não tínhamos uma firma aberta, mas ambicionávamos que isso acontecesse, por sonharmos em ter o controle total do merchandising e assim, o Fã-Clube, caso chegássemos ao mainstream, e claro que achávamos que chegaríamos.
     Eliane Daic, em foto de 1985, clicada por Rodolfo Tedeschi


Portanto, propusemos à Sonia, que ela contratasse em nome do Studio V, a equipe que já existia a trabalhar em nosso favor, remunerada com os nossos parcos recursos. Queríamos que Eliane Daic, então namorada do Zé Luiz, e que já vinha a trabalhar como produtora da banda desde meados de 1985, continuasse na função. Eduardo Russomano que era nosso roadie e estava a nos auxiliar no Fã-Clube e Edgard Puccinelli Filho, também roadie, e a acumular a função de vendedor de merchandising nos shows, aliás com bastante sucesso, pois a sua figura exótica e extrovertida, fazia uma função como relações públicas da banda, entre as pessoas, também fossem contratados.

Queríamos, e isso seria imprescindível, que tivéssemos um técnico de som fixo, é claro. Nosso técnico de confiança era o Canrobert Marques, mas este trabalhava muito com várias bandas mainstream, e só nos ajudava nas raras oportunidades livres de sua agenda sempre muito concorrida.

Entretanto, o Clovis que já era contratado do estúdio, poderia suprir isso, mesmo porque estávamos a nos dar bem, e fatalmente ele seria vital para nos operar ao vivo, visto que conhecia bem nosso som e as nossas necessidades de mixagem ao vivo.

Mais para a frente, com a banda a crescer, haveria espaço para uma equipe maior, com mais roadies, um iluminador próprio e outros profissionais que se fizessem necessários, de acordo com o nosso crescimento e demanda por produções cada vez maiores.
Eliane Daic a repor a carga de pólvora durante um show d'A Chave do Sol em 1986, no decorrer do espetáculo

Ela, Sonia, adorou a Eliane Daic, "Lili" entre nós, e acenou com a aceitação de nossa proposta de que ela continuasse a ser a nossa produtora. E rapidamente acertou salário e a designou como sua subordinada direta, quando passou a dar expediente diariamente no escritório, já a sair à rua para cumprir tarefas passadas pela Sonia.
Adorou também o Edgard pelo exotismo de seu "personagem", e forma de se comportar, e aceitou a ideia de que ele fizesse parte da equipe, mas vetou lhe pagar salário fixo, até segunda ordem, pois nos disse que só poderia garantir isso quando a banda entrasse em uma rotina de shows com agenda cheia.

Porém, relutou bastante com a ideia do Eduardo ser contratado para trabalhar no Fã-Clube. Ela queria enquadrá-lo apenas como roadie, e nas mesmas condições do Edgard, ou seja, para ganhar por produtividade em shows, no entanto, a necessidade que tínhamos foi outra pelo trabalho que o Fã-Clube tinha etc.

Tivemos que usar vários argumentos para convencê-la que o Fã-Clube era vital, e não poderia parar as suas atividades, e que pelo contrário, fora a hora ideal para expandi-lo. Ela convenceu-se enfim, e resolveu contratar, Russomano, ao oferecer-lhe um salário modesto, no padrão de um escriturário, mas com a "vantagem" de não precisar cortar o seu cabelo, vestir-se a vontade, e trabalhar para uma banda de Rock que gostava, e de cujos membros, tornara-se amigo, portanto, foi uma perspectiva boa para ele que estava desempregado naquele instante.
Continua... 

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