quinta-feira, 18 de junho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 321 - Por Luiz Domingues


Um exemplo sobre os ventos positivos que sopravam, graças aos nossos esforços pessoais, foi o próximo compromisso que teríamos ainda para agosto de 1986. Sem grande esforço de nossa parte e a contar apenas com a divulgação da nossa mala postal, praticamente, eis que lotamos o Centro Cultural São Paulo, com mil pagantes (isso mesmo, não estou a exagerar!), na plateia, e quem conhece o Centro Cultural, sabe bem, que já faz anos que a média de público tornou-se fraquíssima nesse espaço, e qualquer artista que lá se apresenta, incluso alguns consagrados, comemora se consegue atrair duzentas pessoas em um show, hoje em dia (2014, quando escrevi este trecho e 2015, quando publico). 

Foi a primeira vez que A Chave do Sol se apresentara no auditório Adoniran Barbosa, mas eu, particularmente, já havia me apresentado ali com o Língua de Trapo em 1984, aliás foram os meus últimos três shows nessa banda, ao encerrar definitivamente a minha participação nela, em minha segunda passagem. Ainda a atuar pelo Língua de Trapo, eu havia feito um outro show no CCSP, porém, em outro auditório, no ano de 1983. 

Desta feita, fizemos um show memorável, de grande interação com uma plateia muito quente, e quem já se apresentou no CCSP, sabe que o público envolve o artista em 360º, porque o palco é quadrado, e lembra a disposição de um ringue de pugilismo. 

Portanto, há a presença de espectadores a assistir por todos os lados e também por cima, pois existe um andar superior, como mezanino, e muita gente assiste o espetáculo a ver o artista por cima, como se fosse um espaço "foyer" de teatros antigos. 

Nesse show, pelo fato do palco ser grande, o Beto tocou guitarra em algumas músicas (como já o fizera no show do Teatro Mambembe, em julho), e essa disposição ocorreria doravante com certa regularidade. Ele tocava bem, e sempre que atuava, encorpava o som da banda. 

No entanto, a ideia não foi que isso se tornasse uma constante. Ele queria ter a mobilidade de um "frontman", e dessa forma, tocar guitarra foi para ser apenas em algumas canções, mais para dar um diferencial, e não forjar a ideia de que seríamos uma banda com duas guitarras, definitivamente. 

O casal de empresários que nos contratava, Sonia e Toninho Ferraz esteve presente, e no camarim, a euforia deles por ver uma performance vitoriosa de nossa parte, mas sobretudo por uma casa cheia, e um público muito receptivo, foi indisfarçável. O assédio no camarim e as vendas na "lojinha" de merchandising da banda, fez com que eles também não escondessem a sua euforia pela banda, e nessa prerrogativa, projetassem a nossa subida ao mainstream da música, ao somar esse nosso "momentum" natural, com os esforços que fariam, graças aos contatos que diziam ter. Nessa conjunção de fatores tão efusivos, como não poderíamos nos contaminar com esse astral de positividade total? 

Dessa forma, a partir daí, a euforia norteou toda a nossa concentração. Sentíamos que estávamos a poucos passos de um salto maior na carreira, e aí, mesmo com a experiência acumulada, e já não éramos tão jovens e inexperientes assim, foi difícil não embarcar nessa confiança generalizada. 

O show do CCSP ocorreu no dia 29 de agosto de 1986, com mil pessoas na plateia, a berrar e vibrar e com nossa banda a voar no palco, literalmente.

No dia seguinte, participaríamos de um show coletivo com muitas bandas e algumas delas, famosas na cena oitentista, inclusive partícipes da turma do Pós-Punk e que revelar-se-ia um show dotado de uma grande multidão como público. O festival teve um nome exótico e dera a entender alguma ligação com uma ONG ambientalista. 

Contarei com detalhes, oportunamente, pois rendeu muitas histórias paralelas.

E só a antecipar, o casal de empresários foi acompanhar-nos também nesse festival, e ficaram de olhos arregalados, ao verificar a nossa banda inserida em um evento daquele tamanho.

Continua...

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