terça-feira, 19 de maio de 2015

Autobiografia na Música - Sidharta - Capítulo 25 - Por Luiz Domingues


Com o avançar do segundo semestre de 1998, as primeiras músicas estavam cada vez mais azeitadas e a qualidade das novas que colocavam-se a surgir, melhorava, pois o entrosamento estava a ser conquistado. Eu estava plenamente satisfeito com os rumos da banda, artisticamente a falar, mas começaram a surgir discordâncias por parte do Zé Luiz. E de certa forma, conforme eu já esclareci aqui neste relato, logo no começo, eu sabia que a despeito de todas as qualidades dele como músico; artista e pessoa, tal conflito poderia vir à tona mais cedo ou mais tarde, pois o projeto era completamente moldado fora do contexto natural de preferências estéticas de sua parte. 

E não foi por falta de aviso. Eu adverti os garotos, desde que surgiu a ideia da sua inclusão na banda, e quando ele engajou-se, eu deixei muito claro que a intenção da banda era fechar-se em uma estética retrô e radical, nesse sentido. Dinola aceitou e cativou-me por sua força de vontade inicial, mas essa energia de sua parte, nada teve a ver com esse foco em si. Que ele era /é (e sempre será), um profissional exemplar e mantém no esforço pessoal, uma de suas melhores características, eu sabia sobre tais qualidades natas de sua parte, desde o tempo d'A Chave do Sol.

A questão aqui foi : ele encaixar-se-ia em uma proposta de banda como foi a do Sidharta ? Ele disse que sim, e os meninos que não eram nada experientes nessa época, acreditaram, mas eu que era veterano e conhecia muito bem o temperamento do Zé Luiz, sabia que no fundo, não seria dessa forma. E essa negativa de sua parte, doeu-me na alma, pois trabalhar com o Zé Luiz, seria extremamente prazeroso pelo grande músico que ele é, e no quesito extra musical, também, pelo seu caráter ilibado e força de trabalho, incansável. 


Nesse sentido, quais sinais começaram a surgir ? Pois ele começou a falar em desejar incorporar certas influências musicais modernas (modernas nos anos noventa, bem entendido), para buscar timbres de bateria em um suposto futuro CD do Sidharta. Claro, na questão da escolha pessoal do timbre do seu instrumento, o músico dá a palavra final e não seria diferente em um disco do Sidharta, com todos a ter o direito em exercer tal liberdade individual. No entanto, desde que houvesse uma unidade compatível com o bojo do trabalho, é evidente. E se a banda evocava os Deuses do Rock 1960 / 1970, como condição sine qua non em termos de manifesto, aonde entraria o "Prodigy", que ele citava constantemente em nossas reuniões, como um exemplo de modernidade a ser seguida ?
E mais uma vez eu recorro à uma pergunta clichê, porém realista na minha autobiografia : passados alguns anos, diga-me caro leitor, qual a relevância desse tal de "Prodigy" para a história da música ? Por isso eu nunca precipito-me em esticar um tapete vermelho para quem está na crista da onda, "hypado" pelos famigerados "formadores de opinião", essas verdadeiras bestas apocalípticas a serviço do marketing e contra a arte, portanto, esse sempre foi um compromisso meu com a visão que eu tenho da arte.


Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário