sábado, 23 de maio de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 78 - Por Luiz Domingues

O show foi ótimo, e o dono do teatro animou-se. Parecia que ali poderia vir a ser enfim, um novo templo para o Rock paulistano, e pela estrutura de palco & luz, boa localização e o charme de ter sido um cinema de bairro nos anos cinquenta/sessenta, teria tudo para tornar-se, mesmo. Se devidamente ajustada a questão de um P.A. adequado e a normatização de um horário não conflitante com o condomínio residencial existente em anexo, teria tudo para tornar-se um ponto incrível para o Rock paulistano de começo de novo milênio, tal como o Cine Joia, no bairro da Liberdade tornou-se hoje em dia (escrevi este trecho em 2013), em relação à cena do Indie Rock. Contudo, a empolgação morreria rapidamente, apesar de que no auge dessa discussão, o Junior marcara uma nova data a seguir, desta feita, somente com a Patrulha do Espaço a apresentar-se. Seria logo a seguir, mas em meio a uma data inóspita : o domingo de carnaval... 

Claro, veio à tona, a velha estratégia de marketing de achar que os Rockers mais radicais e desafetos das folias de Momo, compareceriam em massa, felizes da vida por um show de Rock redentor, para quebrar o tédio do feriado compulsório etc. Ao ir nessa direção, aceitamos fazer o show, mas particularmente eu temi por um resultado não tão eficiente. O Junior vinha de uma outra escola de administração artística no que tange o aspecto gerencial. O seu pensamento sempre convergia para a ideia de que após um show realizado com sucesso, imediatamente devia-se marcar outro no mesmo local, a aproveitar-se o embalo e o inevitável rumor que as pessoas que o assistiram, realizariam e dessa forma, a motivá-las a assistir de novo e ao ir além, para angariar mais gente ainda, influenciada por essa propaganda feita na base do "boca-a-boca". 

Esse expediente fora muito comum nas décadas de cinquenta; sessenta & setenta, mas já não fazia sentido em pleno início de anos 2000. Nesse novo instante, as pessoas tendiam a reagir de outra forma, com a mentalidade em torno de darem-se por satisfeitas com o bom show que viram e sem que isso suscitasse a vontade para ver de novo. Entretanto, ele ainda não havia notado essa mudança comportamental e seguia a cartilha da produção à moda antiga e não apenas nesse caso do segundo show no Teatro Dias Gomes, mas em outras ocasiões também, insistiu nessa estratégia. 
Resenha sobre o show anterior, realizado em fevereiro, na revista Rock Brigade, nº 176, de março de 2001

A vantagem desta feita, seria que tocaríamos sozinhos, sem ter que dividir a noite com outro artista, e não haveria ensaio dos atores da trupe de Oswaldo Montenegro, portanto, teríamos mais tempo hábil para montar e fazer o soundcheck. Por outro lado, toda a despesa de divulgação correria por nossa conta, além do fato de que teríamos de usar forçosamente o precário P.A. do Teatro, pois no show anterior, o reforço trazido por fora, houvera sido providenciado pelo Golpe de Estado. E outra desvantagem, estaria na questão do tempo hábil para realizar-se a divulgação, bem menos confortável do que a do show interior e com a agravante do próximo ser em uma data bastante ingrata.
Continua...

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