quarta-feira, 27 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 271 - Por Luiz Domingues


A próxima cena a ser filmada, dita "picante", seria produzida no ambiente de um quarto de motel. Segundo o planejamento, haveriam de ser realizadas mediante tomadas rápidas, todavia a mostrar o casal de namorados fictícios na cama, aos beijos etc. Para tanto, a produção recorreu ao próprio, Beto Cruz, que era amigo do dono de um estabelecimento desse molde, na região do bairro do Jardim Bonfiglioli, zona sudoeste de São Paulo, nas margens da rodovia Raposo Tavares.  

Como a produção era toda amadora, exatamente como na filmagem no ambiente do bar Singapura, a garota que aceitou rodar a cena, era apenas uma amiga, e não uma atriz profissional. No bar, até que se portou bem, ao fazer cenas simples, como "namorada", entretanto, nessa hora do motel, ela teve bastante dificuldade, devido ao constrangimento inerente que esse tipo de cena traria, até para profissionais tarimbadas, imagine uma menina muito inexperiente e amadora. Ao prever tal situação sob constrangimento da sua parte, ficou acertado que os demais membros da banda não presenciassem as filmagens, exatamente para evitar assim uma aglomeração atrás da câmera, e criar-se o inevitável clima intimidador para a garota poder atuar. 

Ela de fato ficou bastante inibida, mesmo com uma equipe reduzida na locação improvisada, mas as cenas foram feitas, afinal de contas. Claro, em tais condições de iluminação e câmera com baixa qualidade, além do fato do set ser improvisado e com atores amadores, não haveria como produzir-se com um resultado satisfatório, porém, foi o que tivemos à disposição. 

Ao ir além, a analisar muito friamente e com o clássico distanciamento histórico, com vinte e oito de distância (ao escrever este trecho em janeiro de 2014), claro que toda a mentalidade esteve muito equivocada desde o início dessa produção, e se consideramos válido em tal ocasião, denotou claramente a existência de um acentuado sinal de desespero de nossa parte, em querer adentrar o mainstream. Pior ainda foi a concepção que achávamos adequada para lograr êxito em tal missão, pois uma música com o teor de "Saudade", em termos de letra, e um clip com cenas românticas desse teor e sob baixa produção, poderia ser o mais adequado para suprir a necessidade em face da visão sem muito apuro, mas por outro lado, se pensávamos em seguir os passos do "Whitesnake", eu devo realçar que aqui era/é o Brasil, e nesses termos, mais nos aproximávamos do Fábio Junior ou quiçá o Wando, se insistíssemos nesse caminho. 

Enfim, desde 1984, estávamos cegos pela determinação em ingressar no mundo mainstream da música, e todos os nossos esforços afunilaram nesse sentido. As várias e repentinas mudanças de estratégia, mostram isso claramente e nesse momento de 1986, que na verdade iniciou-se assim da entrada do Beto, ao final de 1985, pareceu ser enfim, o caminho mais fácil para atingirmos o nosso objetivo perseguido.

Corremos o risco enorme em darmos passos no sentido da cultura popularesca, que aos nossos olhos equivocados de então, sinalizara  ser a única solução naquele instante, e se serve-nos como consolo, não estávamos sós nessa empreitada. Bandas como: Salário Mínimo; Platina e Proteus, também estavam a buscar tal caminho. Por outro lado, bandas como: Rádio Táxi; RPM, Kid Abelha, Metrô e similares, faziam sucesso no mainstream, com esse tipo de abordagem Pop para as massas.

Bem, isso justifica o direcionamento desse clip para o romantismo, mas não o isenta totalmente de seu pecado cometido em direção ao mau gosto. A próxima cena a ser filmada foi marcada para um domingo, no período da tarde, e seria uma externa, com a participação da banda inteira, em uma avenida de grande circulação na cidade de São Paulo. Seria o nosso "dia do mico". E o foi, de fato...

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário