domingo, 31 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 299 - Por Luiz Domingues


De fato, o release que oferecemos, com o adendo de um histórico mais pormenorizado em anexo, serviu de base para o jornalista escrever a resenha que serviria para ele compor a nossa participação no poster. 

Foi interessante, portanto, que o jornalista em questão, tenha tido o cuidado de não copiar ipsis litteris o nosso release, como muitos o fazem normalmente (inclusive até hoje, no jornalismo cultural), quando vão realizar alguma matéria, apenas a aproveitar o texto oferecido pelo próprio artista. Tal expediente é claramente preguiçoso por parte de alguns jornalistas, e hoje em dia, com internet e google, não querer fazer uma pesquisa básica e prévia, é no mínimo lamentável.

Marcado o dia da sessão de fotos, nos dirigimos à redação da Revista Som Três, localizada nas imediações do trilho de trem na Lapa de Baixo, bairro da zona oeste de São Paulo, e caracterizado por ostentar em suas ruas, grandes galpões industriais.

A redação da revista Som Três ficava ali, sede da Editora Três, responsável não apenas por tal publicação, mas também, por seus posters e edições extraordinárias (cujo teor eu já comentei anteriormente), mas também por outras publicações famosas, entre as quais, a Isto É, (talvez a grande concorrente da "Veja", na área de política & economia nessa época), e a Revista Planeta, esta, especializada em esoterismo, misticismo & afins, e que reputo até serem os carros chefe da editora, tanto que existem até hoje, e no caso da esotérica, "Planeta", sem interrupção, desde 1972.

Bem, a ideia foi fotografar todas as bandas juntas, com os seus membros misturados para a composição do poster central, e sessões separadas para colher mais material, com o objetivo de compor as matérias individuais.

Assim que chegamos, confraternizamo-nos com as demais bandas. Ali, entre esses músicos presentes, todos eram amigos, e o clima foi descontraído, naturalmente. Lembro-me que na sala de maquiagem do estúdio fotográfico, o clima foi de total descontração e claro, muita brincadeira surgiu entre nós, por que não sendo artistas assumidamente orientados pelo apelo "glitter" ao estilo oitentista (pelo menos no "moderno" Hard-Rock da época), portanto, quase que a promover um revival "Glam" no visual, foi outrossim, uma questão contraditória, sem dúvida alguma.

E dentro desses parâmetros, e a considerar o machismo inerente em nossa cultura popular, claro que a brincadeira foi automática nesse sentido. Os técnicos presentes no estúdio fotográfico demonstraram a sua absoluta imparcialidade diante desse clima, e assim a não entrar nas brincadeiras do nosso grupo de artistas participantes da sessão fotográfica. 

Sobre a equipe técnica da editora, claro que estavam acostumados a fotografar muita gente esquisita (no bom sentido é claro), mas duvido que uma "fauna" daquela, formada por tantos "freaks", aparecesse no estúdio frequentemente.  Na hora do poster coletivo, a ideia dos membros das bandas se misturarem ganhou força.
Hoje em dia, acho que teria sido melhor dividir o poster central em quatro pedaços, por que seria mais produtivo para cada banda. Ali, aquele bando de cabeludos maquiados; misturados, e sem identificar-se com precisão, quem seria quem, pareceu ser contraproducente para as próprias bandas, enquanto divulgação. 

No entanto, o pessoal da produção da Som Três teve na ponta da língua, o argumento de que no encarte, o espaço individual de cada banda estaria assegurado etc. Foi verdade, e também foi verdade que a ideia de todos se misturarem, conferiu uma ideia fraternal, portanto simpática.

Isso também foi fidedigno e além do mais, ali todos eram amigos e estávamos acostumados a dividir camarins, estúdios de Rádio e TV e nos ajudar mutuamente, há tempos, portanto, não fora desagradável para ninguém a mistura, mas ainda acho que sob o ponto de vista do marketing, não foi produtivo para ninguém. 

No instante em que foram capturados dos clicks pelo fotógrafo, houve a disparidade fisiológica evidente, no enquadramento coletivo. O pessoal do "Abutre" era muito alto, ao estabelecer um contraponto com A Chave do Sol, por exemplo, onde o Beto e o Zé Luiz ostentam estatura mediana, e eu, Luiz, sou bem baixo, com apenas o Rubens, a se mostrar como o mais alto entre nós, e assim, a aproximar-se levemente dos irmãos Giudice. O pessoal do "Platina" também tinha porte alto na média, e o seu vocalista, Seman, é na verdade um gigante, com físico de fisiculturista.

Já no visual, todos pareciam seguir o Hard-Rock, pejorativamente conhecido como "Farofa", ou seja, a parecer californiano oitentista no visual, com exceção do "Centúrias" que mantinha o visual rústico em torno do uso do jeans básico, e a evocar, talvez, a simplicidade espartana do AC/DC. Em suma, pelo aspecto social, foi bastante divertida a sessão de fotos.
O poster chegou às bancas e vendeu muito bem. Recebemos a informação da cúpula da revista Som Três, de que estariam até surpreendida com o resultado apresentado na vendagem, por que estava a superar as sua projeções que foram baseadas no desempenho do poster que haviam lançado em 1981, com a Patrulha do Espaço e o Made in Brazil.

Cinco anos de defasagem entre os dois lançamentos, mas não podíamos reclamar, por que enfim a Editora Três dignou-se a lançar novamente artistas brasileiros, e lembrou-se de nós. Claro que no "momentum" que atravessávamos em 1986, foi um elemento a mais para nos animar muito. Tal poster representara a nossa face nas bancas de todo o país; e somou-se às matérias que pulularam com frequência em outras publicações; o clip lançado pela TV Cultura de São Paulo a conter a música: "Sun City", os shows de porte que estávamos a cumprir, rádios que nos tocavam em suas programações e/ou programas, o crescimento do fã clube, e outras novidades boas que aconteceram na mesma época, e das quais falarei a seguir. Antes porém, vou emitir mais algumas considerações sobre o poster da revista Som Três... 
Continua...
  

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