domingo, 31 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 302 - Por Luiz Domingues


Mais um pouco de tempo e apareceu enfim a "Rainha do Rock", no hall onde a aguardávamos. Simpática, serelepe e a brincar conosco, aproximou-se a dizer que "adorava cabeludos", para quebrar qualquer gelo que pudesse haver entre nós, sofridos artistas do underground, e ela, em contraste, consolidada no mainstream desde quando nós mesmos éramos crianças, apenas.

Ela mexeu com cada um, e a brincar comigo em particular, lembro-me que tocou nos meus cabelos, ao levantar uma mecha em meio à sua brincadeira carinhosa. E naquele tempo, a minha cabeleira não era só vasta, mas bem recheada, posso dizer com uma boa dose de saudade, aliás. Falamos muito rapidamente, onde ela reforçou a impressão que deixara no ar, ao dizer-nos considerar a nossa banda muito boa, e que nós havíamos lhe despertado a lembrança do Bad Company.

Agradecemos e tecemos rápidos comentários sobre o nosso trabalho, mas o tempo urgia e logo a produtora que nos atendera anteriormente estava desesperada a sinalizar que o intervalo estava para acabar e a Rita deveria voltar ao estúdio e reiniciar a sua locução. Diante da inevitável ruptura, ela nos desejou boa sorte, mandou beijos, e voltou de pronto para o estúdio. Saímos contentes com a abordagem. Acredito que nos dias atuais, seria impossível efetuá-la novamente, portanto, foi uma ação que podemos comemorar e muito.

Apesar disso, o resultado prático, não mudou a nossa vida, evidentemente. Tudo não passou da efemeridade de ocasião, e cabe uma reflexão de minha parte, nesta altura da minha vida e carreira, agora que estou muito mais experiente. 

Ao abrir um rápido parêntese, digo, que não obstante o fato de não ter alcançado nem 1% da fama que Rita Lee teve/tem, eu também passei (e ainda passo), muito pela mesma situação, ou seja, jovens aspirantes à carreira artística, a abordar-me à cata de uma avaliação de seus trabalhos, ou mesmo de contatos que supostamente acham que eu tenho para auxiliá-los etc. Dentro dessa perspectiva, hoje eu sei que a Rita, apesar de seu prestígio e fama à época, o que poderia fazer por nós, exatamente? 

Talvez o seu aval abrisse algumas portas, talvez até nos impulsionasse em alguns aspectos, mas dificilmente alcançaríamos o mainstream por conta da suposta ajuda dela, a não ser que se encantasse verdadeiramente, ao ponto de vir a tornar-se a nossa "madrinha", um autêntico "anjo da guarda", e colocasse a nossa banda como pauta de suas prioridades na agenda. Mas não foi o caso... 

Ela ainda era jovem, e a sua carreira prosseguia em sua rotina de shows; gravações de discos, compromissos de mídia etc. Apesar de eu achar que o seu "momentum" na carreira solo já havia passado, visto pela perspectiva histórica de hoje em dia, claro que ela, na época não teve tal percepção, e naturalmente tocava a carreira a achar sempre estar na crista da onda. E na base da percepção do artista em continuidade, a sua carreira seguiu com certa exposição midiática pelo menos até o início dos anos 2000, apesar do seu grande "boom" ter ficado mesmo para trás, até 1983, mais ou menos.

Portanto, claro que eu compreendo que não é assim que funciona, a não ser, como já disse, que o famoso em questão queira "comprar essa briga", por ter envolvimento emocional com o artista apadrinhado, ou por acreditar muito no seu trabalho. No caso da Rita, o seu elogio foi sincero e a comparação com o Bad Company, foi uma lisonja para nós, mas na prática, não mudou a nossa vida em nada.

E assim foi a nossa aventura no programa: "Rádio Amador", com o posterior contato com Rita Lee e o elogio público que nos fez, que foi muito lisonjeador. Poucos meses depois desse episódio, teríamos outro contato com ela, mas desta feita, de forma indireta, e aí sim, um pedido de ajuda formal foi feito e negado por parte dela. Mas sobre isso eu falo no momento correto da cronologia dos fatos.

A seguir, falarei sobre a nossa relação de amizade e cooperação com a banda Punk, "Os Inocentes", e como isso gerou uma história cheia de nuances interessantes.
Continua...
 

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