domingo, 31 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 300 - Por Luiz Domingues

A rádio 89 FM estava no ar desde o início de 85, ao tentar firmar-se no Ibope, e por conseguinte, a colocar-se como uma emissora exclusivamente dedicada ao Rock. Claro, a sua estratégia de atuação fora privilegiar o Rock contemporâneo, e com pouco ou nenhum espaço dedicado ao Classic Rock.

No mercado paulistano, estava mais forte nesse setor, a 97 FM, com muito maior audiência, ainda que fosse uma emissora de Santo André, cidade vizinha da capital e por conta disso, não poder ser chamada de paulistana, mas de paulista, na prática, mas isso foi o de menos, pois o grande problema mesmo, era não ser ouvida na cidade de São Paulo por inteira, por deficiência de sua infraestrutura técnica em termos de transmissão. Por não ter uma antena potente, não era alcançada em muitos bairros de São Paulo, e isso a atrapalhava certamente em seus planos de solidificação de mercado.

Por conta desses fatores, a 89 FM teve tudo para crescer e concorrer com a 97 FM, pois ainda por cima, apostava no Rock contemporâneo, e na década de oitenta, a aposta da 97 FM pelo Classic Rock, ainda que fosse um bálsamo para Rockers tradicionalistas como eu, foi mercadologicamente um suicídio, infelizmente.

Posto isso, o leitor há de se recordar que muitos capítulos atrás, quando enfoquei fatos ocorridos em 1985, eu contei um incrível caso a envolver A Chave do Sol com a 89 FM ( a música: "Anjo Rebelde" ao ser tocada em sua na rotação errada na vitrola...), todavia, nesse primeiro semestre de 1986, teríamos outra passagem, ainda mais significativa e produtiva de certa forma. Vamos aos fatos:

Não recordo-me se foi ao final de 1985, ou começo de 1986, mas através de um esforço de crescimento, a 89 FM contratou Rita Lee e Roberto de Carvalho para que tal famoso casal comandasse um programa semanal, chamado: "Rádio Amador". 
O casal vivia a sua laureada carreira Pop desde 1979, aproximadamente, e o seu auge de popularidade havia ficado para trás, até 1982 ou 1983, mais ou menos e dali em diante, só voltariam à baila com sucessos sazonais. Entretanto, em 1985, a percepção não foi essa, e o casal desfrutava de fama mainstream forte no imaginário popular e portanto, deter o passe de ambos foi um trunfo para a emissora, que aspirava crescer no ranking das FM's paulistanas, e esse é normalmente um mercado fortíssimo, disputado a tapas pela concorrência.  

O programa era simpático. 

Costumava tocar sons que o casal gostava, novidades modernosas ao sabor oitentista e bastante espaço para as sketches humorísticas da cantora, que notoriamente gostava de usar tal humor em suas aparições públicas etc. Sob uma ação promocional, Rita anunciou que estava a aceitar material advindo de bandas emergentes, e mediante uma audição que garantisse um mínimo de qualidade de áudio do material e do aspecto artístico/técnico de cada banda, tocaria o trabalho desses aspirantes à fama e teceria comentários.

Claro que deve ter provocado uma enxurrada de materiais a chegar à emissora, e uma equipe da mesma, deve ter feito mutirão para filtrar os materiais recebidos, e escolher as melhores bandas. Nesse caso, animamo-nos a levar o nosso material, também, mas em nosso caso, tivemos um dilema particular: levar o compacto, o EP, ou a demo-tape nova, onde a proposta de som foi montada especialmente a demonstrar o que queríamos impor doravante?

O fato de ser uma banda já no mercado, com dois discos lançados, tinha que ser enfatizado, é claro. Levar só a demo, implicaria em nivelar por baixo, ao denotar sermos uma banda iniciante, como seria o caso da maioria, que certamente abordaria a produção do referido programa.

Contudo, levar o compacto apenas, deixar-nos-ia na situação de expor a voz do Rubens como o carro chefe, e assim, ao ter a obrigação de fazer valer a voz do Beto, como era a atual formação daquela época, não interessou-nos, certamente. Mais inconveniente ainda seria pensar no lado B do compacto, com uma música instrumental e longa, cheia de firulas anacrônicas para o momento oitentista.

No caso do EP, pior ainda, pois queríamos esquecer aquelas músicas com teor a flertar com a sonoridade do Heavy-Metal, e claro, a tratar-se da voz de um ex-vocalista, que a despeito de ser um grande cantor, já não estava mais conosco, no caso, Fran Alves (e nesse instante a nossa obrigação e interesse foi divulgar uma nova fase da banda), e tendo portanto, um novo "frontman", a tratar-se de Beto Cruz.

Sendo assim, levamos em nossa investida, a demo-tape que acabáramos de gravar, com release, cópias das melhores matérias de nosso portfólio e claro, os dois discos lançados. O que fizemos, na entrega do material, foi enfatizar à produtora que nos recebeu, que os nossos esforços de divulgação estavam concentrados na demo-tape recém gravada, e que se aprovado o áudio de tal gravação, preferíamos que tocassem músicas da demo, e não dos discos, e claro que ela não deve ter entendido tal estranha predileção, mas como já enfatizei, tivemos os nossos motivos para tal.

Claro que a gravação dos discos detinha maior qualidade de áudio, mas a demo manteve um padrão mínimo para poder ser executada no rádio e portanto, estávamos confiantes que a produção a aprovaria para execução.

Então, em um dia qualquer de junho de 1986, que não me recordo exatamente qual foi, pois não consta de minhas anotações de época, fomos informados que a música: "Sun City" tocou no programa, e que Rita Lee havia tecido grandes elogios à nossa banda, e para ir além, havia comparado a nossa banda à banda britânica dos anos setenta, Bad Company.

Ora, quem conhece um pouco a história do Rock brasileiro setentista, sabe que na época de ouro de Rita Lee & Tutti-Frutti, foi público e notório que ela adorava o Bad Company, portanto, ficamos bastante entusiasmados quando recebemos a notícia de que ela tocara uma música nossa em seu programa, e elogiara-nos com uma referência que era muito querida por ela (e por nós, também, diga-se para reforçar). Sendo assim, forçamos a situação, e na semana subsequente, fomos in loco ao estúdio da 89 FM para tentar falar com ela, Rita, sob o argumento de que gostaríamos de lhe agradecer...

Continua... 

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