quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 70 - Por Luiz Domingues

 

Nessa mesma época, recebemos um telefonema do departamento de jornalismo do SBT. Queriam que nós participássemos de um Talk-Show exibido no início da madrugada, e conduzido pelo famoso jornalista, Ney Gonçalves Dias. Achamos interessante por ter sido uma manifestação espontânea daquela emissora, e curiosa de certa forma, pois é público e notório que o SBT não dá espaço para outro espectro artístico do que o dirigido ao mundo popularesco, o seu alvo tradicional na busca pela audiência.

Entretanto, o referido talk-Show era bom, bem produzido e nesses termos, por quê não participar e divulgar o trabalho, ao centrar forças obviamente na divulgação da nova temporada que teríamos a cumprir no CCSP e no último CD ? Então, avisaram-nos que só poderiam receber uma dupla para representar a banda, o que consideramos ideal também, por que nesse tipo de programa, é inevitável que um ou dois membros falem apenas e os demais passem quietos pela entrevista, ao tornar as suas presenças meramente decorativas na tela da TV. Como não haveria número musical, combinamos entre nós que eu, Luiz Domingues e Rodrigo apenas, iríamos para representar a Patrulha do Espaço.

Uma viatura da emissora apanhou-nos no local combinado e assim que chegamos aos estúdios do SBT, às margens da rodovia Anhanguera, próximo à cidade de Osasco, fomos conduzidos ao camarim / lounge. Fomos tratados com bastante dignidade e desfrutamos do conforto desse espaço, com um ar condicionado muito forte, o que amenizou o forte calor de janeiro.

No camarim, confraternizamo-nos com outros convidados do programa que seria gravado. Estavam ali presentes os atores, Paulo Cesar Grande e Cacilda Lanuza, que promoviam uma peça teatral em cartaz, na cidade de São Paulo. Conversamos descontraidamente com ambos, que mostraram-se bastante simpáticos e até assistimos juntos um bom pedaço do jogo final do Campeonato Brasileiro de 2000 (disputado em janeiro de 2001, por conta de parte da arquibancada do estádio São Januário, do Vasco, ter desabado na partida final e assim determinando o adiamento para outra data, no caso, esse dia, 18 de janeiro de 2001).

E funcionários do SBT comemoravam eufóricos um fato inusitado : ao ministrar um golpe de arte marcial na Rede Globo, o presidente do Vasco na ocasião, Eurico Miranda, fechara um patrocínio pontual para esse jogo somente, e foi justamente o SBT ! Revelou-se portanto, uma afronta e tanto, pois o jogo foi transmitido para todo o Brasil, via Rede Globo, mas o Vasco exibia em sua camisa, um enorme logotipo do SBT... 

Até que uma produtora chamou-nos para a sala de maquiagem e quando voltamos ao lounge, o Paulo Cesar Grande caiu na risada, pois divertiu-se com o fato da maquiagem não ter feito nenhuma diferença... e não fez mesmo, pois apenas usamos o pó que inibe o suor dos refletores, o que é obrigatório para não causar constrangimentos em cena. Rimos também, pois foi uma cena engraçada e percebemos de imediato que a brincadeira dele houvera sido sadia. O casal de atores foi chamado primeiro e assim que terminou a sua participação, despediram-se de nós, ao convidar-nos para o espetáculo teatral que encenavam em São Paulo, naquele momento. Vou ficar a dever o nome da peça, pois realmente não recordo-me. Antes disso, encontrei um velho amigo, chamado : Luiz Antonio Galvão, nos bastidores do departamento de jornalismo do SBT. Eu o conhecia desde os anos setenta, quando ele ainda nem pensava em tornar-se jornalista, por mera coincidência dele ter sido amigo de primos meus.

Fiquei contente por verificar que chefiava o departamento de jornalismo na ocasião e de fato, durante os anos oitenta eu soubera que ele havia tornado-se repórter de TV, ao vê-lo a realizar matérias em reportagens de noticiários, então na TV Record. Agora, estava muito bem, como chefe do departamento no SBT, e eu fiquei contente por vê-lo nessa posição de destaque no telejornalismo. Então, uma produtora chamou-nos e levou-nos ao estúdio. Fomos colocados nas poltronas em frente ao apresentador, Ney Gonçalves Dias, que foi educado ao receber-nos.

Antes de começar a gravar, alguém da produção pediu-nos para escolhermos alguma música para tocar como "BG" (BG é uma sigla que radialistas e também o pessoal da TV, usa há décadas, e significa, "música de fundo", ou "Background" em inglês, daí a sigla "BG"). Escolhemos a música, "O Novo Sim", por ela possuir um caráter mais palatável ao padrão da emissora. Considerávamos que seria a mais "Pop" para não chocar o telespectador do SBT, pouco acostumado à uma banda de Rock. A entrevista começou e o Ney propôs perguntas previsíveis sobre o surgimento da banda, o papel de Arnaldo Baptista, etc.

Realmente não poderíamos esperar outra coisa de um pauteiro de sua produção, despreparado e com preguiça em realizar uma pesquisa mais aprofundada, e claro que nem foi culpa do Ney, que apenas leu as perguntas traçadas em sua ficha. Tudo corria bem, contudo, sem constrangimentos maiores, quando ele quis quebrar o protocolo e "cantar" uma música, a seguir a letra, mediante o encarte do CD. Ele improvisou esse desejo repentino, e não tivemos como dissuadi-lo para não levar a entrevista para esse constrangimento desnecessário. Portanto, ele pediu à produção para soltar a música e foi um momento de constrangimento quando ele enfim percebeu que não conseguiria nem balbuciá-la. Nervoso, ficou nitidamente embaraçado com o encarte na mão e a tamborilar na poltrona, com um semblante atônito. Naturalmente que ele esperava usar o encarte como "cola", mas não deu tempo de avisá-lo que o encarte não continha as letras das canções...

Eu e Rodrigo ficamos completamente sem ação e limitamo-nos a disfarçar a nossa expressão facial inevitável em termos de vergonha alheia. Ao terminar a entrevista mediante o aviso da produção, despediu-se e rapidamente saiu do estúdio, para dirigir-se ao seu camarim pessoal. Saímos e a produtora avisou-nos sobre o horário que tal atração iria ao ar. Despedimo-nos e fomos ao estacionamento onde a viatura do SBT aguardava-nos para cruzar a cidade, aoconduzir-nos de volta. Naquela madrugada, assisti no horário combinado, com o meu velho videocassete preparado para apertar as teclas : "Play & Rec" , mas simplesmente o programa não foi exibido. Como o SBT é famoso por promover atrasos mastodônticos na sua grade, pus-me a assistir, até desistir, por volta das 5:00 horas da manhã. Era para ter sido exibido, à 1:00 hora, afinal de contas...

O que aconteceu ? Será que ele, Ney, melindrou-se e mandou cancelar tudo ? Nesse caso, que culpa nós tivemos em seu embaraço ? E os outros entrevistados que também perderam tempo e queriam promover a sua peça teatral ? Nunca ficamos a saber o motivo de não ter ido ao ar e assim lamentamos muito perder uma tarde e noite praticamente, para nada, além do prejuízo na divulgação, pois mesmo o SBT a configurar-se como uma rede de TV que teoricamente não atingia o nosso público alvo, por outro lado, para uma banda marginalizada como era a Patrulha do Espaço, normalmente, não foi algo corriqueiro estar presente em um talk-show de uma emissora da faixa do sinal aberto e popular. Paciência, portanto. Foi frustrante não ver o programa ir ao ar, mas enfim, tratava-se de um programa que não agregaria público ao show, em profusão, e o seu alcance teria sido mais subjetivo. Portanto, absorvemos rapidamente esse quase desdém para conosco, e seguimos focados na mini temporada que faríamos no CCSP.


Continua...  

Nenhum comentário:

Postar um comentário