domingo, 26 de outubro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 174 - Por Luiz Domingues


Entretanto, antes de realizarmos a estreia oficial do Fran Alves, que seria no Teatro Lira Paulistana, tivemos um outro compromisso. No dia 26 de janeiro de 1985, fomos novamente ao Fofinho Rock Clube, no bairro do Belenzinho, na zona leste de São Paulo, onde já havíamos apresentado-nos em 1984. Sobre o que era o salão Fofinho naquela época, eu já falei quando mencionei a nossa primeira apresentação por lá. Desta feita, a nossa novidade óbvia foi a presença do novo vocalista, Fran Alves, além de uma carga mais pesada de nossa parte no trabalho, no afã em aproximar a banda do público Hard / Heavy oitentista. A presença do público foi boa, e o show bastante energético, ainda que os equipamentos de som e luz fossem totalmente inadequados. Dessa maneira, apesar do som ruim, e da luz de serviço acesa de forma ininterrupta, por ausência de uma luz decente de show, a apresentação valeu pela energia, que grande parte do público absorveu. 
É bom observar que ao imprimirmos peso extra no nosso trabalho, entrávamos no alcance do julgamento de um público novo, onde não éramos habitantes naturais. E pior que isso, tratava-se de um nicho cuja "tribo", era plena de maneirismos, com os seus códigos próprios de conduta, preconceitos etc. Portanto, esse foi um dos nossos erros ao tentar trilhar esse caminho, pois nunca seríamos aceitos nesse mundo, inteiramente, pois o público "headbangers", não haveria em reconhecer-nos como parte de sua "tribo". Esse foi um dos problemas, mas teríamos outros, que no decorrer da narrativa, descreverei com comentários análogos, certamente. 

Nesse show em específico, aconteceu uma coisa desagradável comigo, no campo pessoal, que é de pequeníssima monta hoje em dia, mas acho que vale a pena mencionar, para deixar o registro de que todo artista sofre esse tipo de assédio moral, e é sempre um transtorno lidar com esse tipo de questão inoportuna. O que ocorreu, foi que um rapaz, ligado à produção da casa, procurou-me nos bastidores, e insistiu muito para que eu arrumasse dois ingressos para ele e a sua namorada, assistir um show d'A Chave do Sol, no Teatro Lira Paulistana. A sua insistência passara dos limites, ao denotar uma pressão incômoda e desmedida, ainda mais ao considerar-se que estávamos ali a fazer o show, portanto, não pareceu uma coisa razoável que insistisse tanto em uma cortesia para outro show, em outro espaço. Bem, no Lira Paulistana, a minha cota de ingressos cortesia estava esgotada para o show de estreia oficial do Fran Alves, marcado para o dia 31 daquele mesmo mês, mas eu disse-lhe que poderia arrumar para uma futura apresentação, que eu sabia que logo seria marcada, mesmo que ainda oficialmente, não houvesse essa data fechada.

Quando a oportunidade surgiu, em abril de 1985, o rapaz apareceu no Teatro e de fato, eu lembrei-me dele e do seu pedido, e reservei os ingressos. Foram dois dias de shows em abril, e no segundo show, eu tinha já estabelecido uma reserva para a minha namorada na ocasião. Por um golpe fortuito, a minha namorada chegou de surpresa no primeiro dia de show, mesmo ao saber que o combinado fora assistir apenas o segundo show. Fiquei em uma situação incômoda, pois o sujeito do salão Fofinho apareceu com a namorada. Sei que eu tenho a minha parcela de culpa, pois nesse imbróglio, bastaria eu comprar o ingresso da minha namorada, e ceder os dois da cota de cortesia para o rapaz e a sua namorada, porém, o rapaz ao perceber a confusão, melindrou-se e teve uma explosão de nervos. Aos berros, passou a xingar-me e proferir pragas contra a minha banda, ao jurar, enquanto subia a escada do Teatro Lira Paulistana, que nunca mais tocaríamos no seu salão etc. Conclusão : todo artista sofre esse tipo de pressão inconveniente o tempo todo. Pessoas pedem ingressos; discos; souvenirs, e acham que essas coisas caem do céu, ou pior, que o artista tem a obrigação de atender tais pedidos o tempo todo, no afã de angariar simpatias.
E quando há uma negativa, explodem de forma desmesurada, ap melindrar-se e acusar o artista em ser "mascarado" ou até coisas piores... 


Bem, essa historieta adiantou a cronologia, mas achei o registro, conveniente aqui, no momento em que esse rapaz perturbou-me em pedir ingressos, sendo que estava ali a assistir o show, dentro do espaço onde trabalhava.

De volta à cronologia, o próximo passo, seria enfim a estreia oficial do Fran Alves n'A Chave do Sol, no Teatro Lira Paulistana. 


Continua...

 

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