sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Kim Kehl & Os Kurandeiros - 1º/11/2014 - Sábado / 21 H. - Bierboxx - Pinheiros - São Paulo / SP

Kim Kehl & Os Kurandeiros

1º de novembro de 2014

Sábado  -  21:00 Horas

Bierboxx

Rua Fradique Coutinho, 842

Pinheiros

São Paulo  -  SP

KK & K :
Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado : Bateria e Voz
Luiz Domingues : Baixo

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 183 - Por Luiz Domingues


Mesmo em cima da hora, os shows aconteceram com um nível de produção bem satisfatória, bom apoio da mídia escrita, e a presença significativa de público. Nós tocamos duas vezes, pois houve um cancelamento de última hora de uma das bandas (Antro), e o Mário Ronco pediu que ocupássemos essa lacuna extra. 

Não foi nenhuma armação de nossa parte para tirar proveito, e assim tocarmos mais uma noite que o combinado. Jamais faríamos uma armação política e antiética desse nível, dentro da cooperativa, mas infelizmente, o fato d'A Chave do Sol ter obtido essa suposta vantagem, tal acontecimento suscitou comentários de desagravo por parte de alguns membros de outras bandas, associadas da recém criada organização, ao gerar-se uma sensação a envolver ciúmes e revolta. Atesto, que de fato, foi o Mário Ronco, quem solicitou-nos tal ação, e claro que aceitamos e assumimos o fato de que estávamos a obter uma vantagem diante disso, mas isentos de qualquer culpa por premeditação. 

O evento ocorreu entre os dias, 7 e 10 de março de 1985. Nós tocamos nos dias 7 e 8 de março de 1985. No dia 7, uma quinta-feira, dividimos a noite com o Gozo Metal, do baixista, Orlando Lui (ex-Rock da Mortalha). 

Por sorteio, ficou acertado que o primeiro show da noite, seria do Gozo Metal, e nós faríamos o segundo.  Com uma estrutura de cenografia boa, demo-nos ao luxo em começar o nosso show com as cortinas fechadas, a causar um frisson na plateia, com tal tipo de recurso cênico. 

Com o abrir suave das cortinas, a banda já estava  a mil por hora, com o Fran Alves a empreender uma grande atuação cênica, inclusive. No entanto, como fora uma quinta-feira, o público não lotou as dependências do ótimo teatro Arthur Azevedo. Todavia, por considerar-se ser um dia útil, e o fato em termos tido pouco tempo de divulgação, acredito que as cento e vinte pessoas presentes, pode ser considerado um bom público. E de fato, a minha lembrança foi em termos ficado satisfeitos com esse número, na época.

No dia seguinte, cumprimos então a data que era de outra banda. E por ser sexta-feira, claro que o público foi muito melhor. Trezentas pessoas ocuparam o teatro, e a vibração esteve bem quente nesse dia. O Mário Ronco dispensou o uso de sorteio nesse dia, por considerar que tocáramos na noite anterior como "headliner". Portanto, o "Centúrias", do amigo, Paulo Thomaz, ocupou tal posição, e nós tocamos na preliminar, o dito "open act". 

Lembro-me que tocamos todas as músicas novas, e que fariam parte do próximo disco que lançaríamos, e cujas gravações começariam ainda naquele mês de março de 1985. Foi ótimo tocar ao vivo esse material, para sentir a temperatura do público. E mesmo ao chocar alguns, que ainda não tinham computado a ideia de que as novas canções continham um peso extra, além do normal para o padrão do Hard-Rock. Todavia, ficamos muito contentes por constatar que a música : "Um Minuto Além", a nossa aposta em uma balada pesada, e com "clima de Rock in Rio", agradara em cheio o público. De fato, a interpretação do Fran foi para arrepiar... 

Aquele vozeirão não mostrou-se apenas potente e exoticamente rouco, mas a interpretação dramática que ele impusera, a um solo épico que o Rubens criou, tornou-a um clássico imediato da nossa banda. Uma curiosidade quase prosaica e inventada pelo Mário Ronco : em cada show, ele solicitou a presença de dois músicos de bandas da cooperativa, que não tocariam naquela noite, para atuar como apresentadores do evento. Portanto, tocamos na quinta e na sexta, e sendo assim, eu fui escalado para apresentar os shows do domingo, junto com o baixista do Eclipse. Nesse último dia do festival, tocaram as bandas : "Harppia" e "Salário Mínimo", e eu senti-me um apresentador do Oscar, a enfrentar o público, e a ter que falar algo minimamente inteligente, sem recorrer em pieguices, para não fazer um papel feio no palco. Nesse domingo, um personagem muito gentil, e que estava a usufruir a fama mainstream, ao estourar com uma banda bem calcada na onda do Pós-Punk, apareceu para assistir o show, e foi mega simpático com todos. Tratou-se do baterista dos Titãs, Charles Gavin, que mostrou-se muito solícito e apesar de ser um métier avesso ao que ele transitava, mostrava-se bastante interessado em conhecer o som das bandas, e dentro das possibilidades, ajudá-las ao máximo. 

Esse foi o meu primeiro contato com ele, mas em um futuro não muito distante, Gavin seria um amigo muito próximo d'A Chave do Sol, e a revelar-se uma pessoa muito bem intencionada, que tentou levar-nos para o patamar de cima, no mainstream. Eu revelo tal fato no momento oportuno da cronologia dos fatos. 

Para encerrar esta etapa, claro que comemoramos o sucesso súbito dessa empreitada da cooperativa, no Teatro Arthur Azevedo !
Tirante aquela ciumeira descabida pelo fato d'A Chave do Sol ter sido escalada para tocar uma vez a mais, ao substituir a banda "Antro", que teve de cancelar a apresentação por motivos pessoais de seus membros, todo mundo ajudou, imbuído em um espírito de mutirão, e o público foi ótimo. Estávamos animados com essa empreitada do Mário Ronco, que demonstrou poder de fogo, instantaneamente. Ainda a falar da reação em torno dos ciúmes, não posso deixar em revelar um outro fato engraçado ocorrido no soundcheck, no dia em que substituímos o Antro. O pessoal da banda que sentiu-se ofendido, pela escolha do Mário Ronco em nosso favor, apareceu em peso e os seus componentes perfilaram-se sentados nas primeiras poltronas, com o teatro vazio, e assim assistiram toda a passagem de som, em silêncio, mas a encarar-nos de uma forma muito inamistosa, como se fosse óbvia a nossa "culpa". Ninguém pronunciou uma palavra sequer, entretanto, tal atitude falou por si só. Claro, o tempo passou e essa bronca dissipou-se, mesmo porque, não houve razão plausível para ter existido. Eu tenho uma relação de respeito e amizade com o líder dessa banda, até hoje, que inclusive, considero um rapaz com excelente índole. Independente desse momento de animação com a cooperativa, e as ações de Mário Ronco, tivemos outros convites a aparecer nessa época. 

Na semana posterior, por exemplo, tínhamos marcado dois shows no Teatro Lira Paulistana, em um outro micro-festival organizado pelo produtor, Antonio Celso Barbieri. Todavia, antes de falar desse pormenor, no próximo capítulo eu desejo registrar um fato ocorrido alguns dias depois dos shows ocorridos no Teatro Arthur Azevedo, que na época, chateou-me, mas ao analisar algum tempo depois, tornou-se digno em constar no anedotário da banda, e quiçá da minha carreira inteira. Falo a seguir sobre tal fato...



Continua...
  

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 182 - Por Luiz Domingues


O fato, é que já sabíamos por intermédio do guitarrista e amigo, Hélcio Aguirra, que um empresário estava interessado em trabalhar com bandas da cena pesada de São Paulo. Segundo o Hélcio, o senhor em questão, tinha experiência no ramo desde os anos setenta, por ter trabalhado com bandas de bailes, principalmente, mas em algumas ocasiões, também com artistas focados na divulgação de seu trabalho autoral. Ora, não custava absolutamente nada, conhecê-lo, e ouvir as suas propostas, evidentemente. 

Portanto, na primeira vez que o vimos, na reunião de organização da segunda edição da Praça do Rock, da qual participamos, não foi possível conversar detalhadamente sobre o seu interesse pelas bandas, pois ele estava ali como um ouvinte, ao colocar-se como voluntário do evento : "Praça do Rock", tão somente. Contudo, uma reunião foi marcada para alguns dias depois, no seu escritório, e com a participação de diversas bandas da cena pesada de São Paulo, onde a ideia principal seria criar uma espécie de cooperativa formada por bandas, com esse senhor a estabelecer diretrizes, segundo a sua suposta experiência. O nome dele era : Mário Ronco, e tal reunião ocorreu ainda ao final de fevereiro de 1985, quando ele expôs as suas ideias para os representantes de cada banda que ali foi convidada. Nessa reunião, lembro-me de estar presentes componentes de bandas como : "Centúrias"; "Salário Mínimo"; "Eclipse"; "Harppia"; "Gozo Metal"; "Abutre"; e "Antro", além d'A Chave do Sol, naturalmente.

A ideia pareceu nobre, e simples para colocar-se em prática : todos cooperariam mutuamente, ao fornecer os contatos; ideias, apoio logístico etc. E para alinhavar a parte gerencial, entraria enfim, o trabalho de Mário Ronco e o seu assistente, cujo nome não recordo-me mais. De fato, a parte a envolver a ajuda mútua foi válida e fácil em ser executada, pois todo mundo imbuiu-se de muita boa vontade, e não haveria nenhuma restrição nesse sentido. E o projeto começou alvissareiro, pois o Mário Ronco apresentara iniciativas imediatas para impressionar os representantes das bandas, inclusive logo na primeira reunião. 

Rubens Gióia em meio a uma performance efusiva, ocorrida no show d'A Chave do Sol em agosto de 1984. Click; acervo e cortesia : Carlos Muniz Ventura

A primeira proposta foi ótima : ele tinha disponível, em mãos, algumas datas para organizar um micro-festival, no Teatro Arthur Azevedo, que era / é um ótimo e tradicional teatro localizado em um ponto nobre do bairro da Mooca, zona leste de São Paulo. Pertencente à Prefeitura de São Paulo, realizar show em tal ótimo teatro, foi uma boa a oportunidade para apresentarmo-nos com uma estrutura de som e luz, mediante boa qualidade técnica. Particularmente, nunca canso-me em dizer, que se dependesse de minha vontade, eu só tocaria em teatros, ao evitar apresentações em casas noturnas, certamente.

Claro que tal perspectiva proporcionou uma sensação eufórica generalizada em torno da proposta do senhor, Mário Ronco, e dessa forma, tornou-se a primeira ação da nascente, "Cooperativa Paulista de Rock", esse micro-festival, e como ação direta de cooperação, o apoio de todos, no tocante ao equipamento dos shows, na base do compartilhamento total nesse sentido, e também no esforço para a sua divulgação. O lado mau disso, foi que o tempo urgiu, ao mostrar-se muito escasso para uma divulgação adequada. No entanto, mesmo assim, na base da correria, e do improviso, conseguimos atrair um ótimo público. Falo especificamente sobre os shows, a seguir...


Continua... 

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 181 - Por Luiz Domingues


Com os preparativos da pré-produção em curso, estávamos animados com a perspectiva em gravarmos um novo álbum, e certamente que estávamos a apostar muito nesse segundo trabalho, por todos os motivos que já expus nesta fase da cronologia dos fatos. Porém, paralelamente, ainda vivíamos os ecos da boa onda em expansão proporcionada pelo primeiro disco, e claro que aproveitávamos cada gota que pudéssemos. Nesses termos, o próximo compromisso que tínhamos agendado, foi uma nova participação no evento : "Praça do Rock", que por sua vez, crescia, e a cada nova edição, atraía mais público e a sua infraestrutura melhorava.
Foto do Zé Luiz em ação, durante a nossa primeira participação no evento : "Praça do Rock", em agosto de 1984. Click; acervo e cortesia : Carlos Muniz Ventura

E por estar a crescer, atraía também pessoas interessadas em capitalizar o sucesso do evento, seja economicamente, seja pelo viés político. Lembro-me em ter participado, por exemplo, de uma reunião ocorrida na sede do Jornal do Cambuci & Aclimação (o simpático jornal que cobria o cotidiano desses dois bairros vizinhos, e que apoiava o evento), ao visar tomar ciência das questões a envolver a nossa participação. 
Essa foto a retratar-me, Luiz Domingues, também é da nossa primeira participação na Praça do Rock em agosto de 1984. Infelizmente, não tenho em meu acervo, fotos da segunda participação d'A Chave do Sol, em fevereiro de 1985. Click; acervo e cortesia : Carlos Muniz Ventura 

Entretanto, apesar da boa vontade das pessoas envolvidas, alguns deslizes eram inevitáveis, e nesse dia em específico, apareceu um deputado na reunião, que quis capitalizar politicamente o movimento, através do evento em si. Esse senhor chegou até a protagonizar um momento patético na reunião, ao subir, literalmente, na mesa, e improvisar um discurso inflamado, onde afirmou que as bandas de Heavy-Metal precisavam unir-se para pleitear melhores oportunidades do poder público em termos de fomento aos shows gratuitos ou outras benesses em contrapartida cultural etc. Foi muito constrangedor, primeiro porque eu normalmente sentia-me um estranho no ninho nessa história de bandas de "Heavy-Metal", e segundo, por estar a observar a manipulação política infiltrar-se em um evento que crescia espontaneamente, para miná-lo. 

Então, participamos do evento, no dia 24 de fevereiro de 1985. A estimativa da Polícia Militar, contabilizou cerca de três mil pessoas presentes naquela tarde / noite. Participaram também outro grupos, entre os quais : "Centúrias"; "Abutre" e "Gozo Metal". O nosso show foi energético e arrancou muitos aplausos da plateia, em sua maioria, formado por garotos e fãs de Heavy-Metal. Nesse aspecto, o Fran agradou em cheio a esse tipo de público, onde uma grande parcela o conhecia por sua atuação pregressa com a sua banda anterior, o "Ano Luz". O "Gozo Metal" era na verdade o "Côco Loco", com outro nome, ao constituir-se na banda liderada pelo então já bem experiente baixista, Orlando Lui (ex-Rock da Mortalha, nos anos 1970), e apesar do nome muito infeliz (aliás, ambos os nomes mostravam-se horríveis), para uma banda de Rock, tinha em seu líder, um grande batalhador. Ao ligar-se pessoalmente ao organizador oficial do evento, o também baixista, Dalam Junior, tornou-se um coprodutor associado, e daí em diante, trabalhou forte para tornar o evento, cada vez maior. Falo sobre tal assunto mais para frente, quando de uma terceira participação d'A Chave do Sol no evento. E nem só em constrangimentos a reunião na sede do jornal foi pródiga. Pelo contrário, nesse mesmo dia, conhecemos outro personagem que prometera ser importante para o métier do Rock pesado paulistano.

Continua...

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 180 - Por Luiz Domingues


Bem, no caso da letra de "Anjo Rebelde", a música houvera sido composta e fechada com essa letra em 1984, e já fazia parte do repertório da banda ao vivo, desde então, inclusive com direito à execução em programa de TV, conforme já relatei e publiquei o link dessa aparição, disponível no You Tube. Trata-se de uma letra escrita pelo Edgard Pucinelli Filho, que era um seguidor da banda, e que ao longo dos tempos, tornou-se roadie e membro da equipe de produção da nossa banda. 

Havíamos em princípio, apreciado essa letra, pelo seu teor em forma de ode ao Rock, inclusive ao relevar o seu exagero nítido. Hoje em dia, acho-a piegas, e não a usaria para musicar uma canção, mas naquela época, considerei (com a aprovação de todos), que encaixava-se na música, ao dar-lhe um tom épico, e que certamente viria de encontro à necessidade de mudanças estéticas que precisávamos promover, em nossa luta em buscarmos um lugar ao sol, no mercado. O Edgard ficou encantado com o convite para ter o seu poema musicado, e não pensamos que isso acarretaria em um aborrecimento posterior... 

Enfim, quando as negociações para a gravação do segundo disco avançaram com o Luiz Calanca, escolhemos "Anjo Rebelde" para constar no repertório do novo álbum. Mas foi nesse ponto em que  fomos surpreendidos, quando abordamos o Edgard, ao visar buscar a sua assinatura, e fornecimento de seus dados pessoais para a papelada burocrática do disco, as famigeradas fichas do "GRA". Ele agora estava com o discurso de que o poema não era apenas seu, mas havia uma coautoria. Insistia que tínhamos em incluir o nome de uma garota chamada, Miriam, que supostamente o ajudara a compor o poema.

Essa argumentação dele configurou-se obviamente em uma forçação de barra de última hora. Nunca soubemos o real motivo, mas a desconfiança foi evidente por tratar-se de uma intenção dele para impressionar a tal garota em questão, ao caracterizar o seu desejo em namorá-la ou coisa que o valha. No entanto, irredutível, Edgard não abriu mão em incluir a citada garota na parceria, ao recusar-se em assinar a papelada, caso o seu desejo não fosse cumprido. 

Sem saída, culminamos em ceder à pressão, e lá foi a documentação para o ECAD, com o nome da tal, Miriam, incluso, como "compositora" de Anjo Rebelde, em parceria com Rubens Gióia; eu, Luiz Domingues, e Edgard. Muito provavelmente, essa moça nunca interessou-se pela canção, e jamais deve ter recebido um centavo decorrente dos direitos autorais, porque nem devia saber como proceder para reivindicar o seu "direito". Nesse aspecto, o novo álbum já começara mal, com uma intromissão conceitual desse nível, sem nenhum propósito...

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Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 179 - Por Luiz Domingues


Após a realização desse show no Teatro Lira Paulistana, as conversas evoluíram para que voltássemos ao estúdio, e gravássemos então o segundo disco. Com a troca de vocalistas, e os planos malogrados para gravar uma demo-tape mediante qualidade, com o objetivo de levarmos tal material às gravadoras Majors, claro que a oferta vinda de Luiz Calanca, do selo Baratos Afins, foi muito bem recebida por nós. 
O produtor e dono da famosa loja Baratos Afins, Luiz Calanca

Se no primeiro trabalho, o compacto, trabalhamos sob um regime de cooperação, nos termos de cinquenta a cinquenta por cento, desta feita, ele quis bancar o trabalho sozinho, ao assemelhar-se a um regime adotado por uma gravadora tradicional. Lógico que baseado na situação financeira que tivemos naquele instante, somada à necessidade premente de um novo registro fonográfico, aceitamos a proposta de pronto, e aceleramos os ensaios para fechar o material. 

Músicas como "Ufos" e "Segredos", muito pesadas, e em nosso entender, capazes em atender a demanda de um nicho diferente de público que procurávamos, já estavam compostas e praticamente arranjadas. Decidimos incluir apenas uma música do repertório antigo da banda, chamada : "Crisis (Maya)", que fora um tema instrumental e que houvera sido exibida por três vezes no programa "A Fábrica do Som", exibido na TV Cultura de São Paulo. Apesar das mudanças significativas que pretendíamos executar, achamos importante conter um tema instrumental no disco, para manter um pequeno elo com o som antigo da banda, e essa música era sempre bem aplaudida nos shows. "Anjo Rebelde", foi outra música que estava pronta (já a tocávamos ao vivo, desde a metade de 1984), e a considerávamos, como um "Hard-Rock" estilo setentista, entretanto, quando o vocalista, Fran Alves assumiu os vocais, ela ganhou uma carga extra, e adequou-se ao que buscávamos, também, em termos de estratégia de marketing. 
Uma balada amena surgiu de última hora, graças a uma inspiração que o Rubens teve, quando criara um belo riff na guitarra. No entanto, não fora tão fortuito assim, pois estávamos impressionados com a possibilidade em possuirmos uma balada pesada, que contivesse a capacidade para atender a demanda desse público, mas que fosse ao mesmo tempo, palatável aos ouvidos de pessoas não aficionadas do Rock, e do Heavy-Metal, principalmente. E essa impressão foi bem óbvia, com o sucesso estrondoso de uma balada da banda germânica, Scorpions, chamada : "Still Loving You", que tocou nas rádios ad nauseum, por conta do Festival Rock in Rio, e também por alimentar o tema de uma novela da Rede Globo, simultaneamente. Nesses termos, trabalhamos com essa ideia do riff criado pelo Rubens, e com a intenção deliberada em buscar um resultado semelhante. Com a presença do Fran Alves, e a sua voz potente, além do seu poder em imprimir um estilo de interpretação dramático, deduzimos teria tudo para dar certo. 

A letra da canção foi desenvolvida pelo Fran. Por falar em sua estupefação ante as diferenças sociais gritantes observadas no mundo, certamente poupou-nos de uma letra romântica, a evocar o amor homem / mulher, o que seria esperado para uma balada tradicional. Claro que apreciamos a letra que ele escreveu, muito mais interessante e forte, ainda que pudesse sucumbir à pieguice, caso não tivéssemos o devido cuidado. Foi dessa forma que surgiu : "Um Minuto Além", uma música que trouxe-nos alegrias, ao tornar-se certamente, a melhor em termos de visibilidade que esse novo disco, ofertou-nos. Nos últimos ensaios, fechamos a derradeira canção surgida para o novo trabalho : tratou-se de mais uma música pesada, chamada, "Ímpeto", nutrida por uma outra letra escrita pelo Fran Alves. 

No caso de "Segredos" e "Ufos", usamos dois poemas escritos pelo poeta, Julio Revoredo. Gosto bastante dessas letras, e acho que ambas possuem versos muito fortes, com o poder filosófico de verdadeiros aforismos, até, e apesar da tradicional condição hermética com a qual o trabalho dele desenvolvia-se, existe um componente Pop nelas, por incrível que pareça. No caso de "Anjo Rebelde", a história dessa letra eu já comentei, en passant, em capítulos anteriores, mas eu acho que vale a pena esmiuçar um pouco mais, neste ponto da cronologia.

Continua...

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 178 - Por Luiz Domingues


O que ocorreu, foi que naquele específico dia, por algum problema técnico, algumas "sonoras" falharam. "Sonora", para quem não conhece o jargão do jornalismo radiofônico, são reportagens pré-gravadas, que são disparadas, geralmente a conter entrevistas e / ou boletins do cotidiano dos clubes de futebol. Como essas "sonoras", alimentavam o programa, a ocupar grande parte de sua duração, a produção ficou sem o que fazer para ocupar o espaço, e dessa forma, decidiram postergar a nossa participação, ao formular perguntas improvisadas. 
Contudo, o tempo pôs-se a passar e as "sonoras" de futebol não foram executadas por problemas técnicos, então, o Faustão, naquele seu jeito irreverente de portar-se, e na base do improviso total, resolveu que tocaríamos uma segunda música, para preencher o espaço vazio gerado por tal caos interno da parte deles. Até aí, tudo bem, pois estávamos a lucrar francamente com esse espaço aumentado sobremaneira, ao ganharmos quase meia hora de audiência, quando o normal teria sido entre oito a dez minutos, a contar com uma música e uma entrevista bem rápida. Entretanto, o sonoplasta, "Johnny Black", teve a brilhante ideia em sugerir ao Fausto Silva, que nós tocássemos ao vivo, bem naquela predisposição em torno do desafio : "quem sabe faz ao vivo".
Uma foto de uma guitarra "Chiquita" que achei na internet. A do Rubens, era de cor azul claro.

Como músicos genuínos que éramos, e não fabricados em escritórios de marqueteiros, preferíamos normalmente sempre tocar ao vivo, logicamente, contudo, sem noção alguma, ambos, Faustão e Johnny Black, ficaram cegos pela ideia, sem mensurar a nossa condição ali no improviso, pois como seria possível tocar uma música como "18 Horas", com uma guitarra apenas ? Pior ainda, eu nem era o guitarrista da banda, mas não adiantaria nada dizer isso aos rapazes, por que estávamos ao vivo, e isso seria ridículo para a imagem da banda, como uma prova de ineficiência de nossa parte a denotar amadorismo. Mesmo que estivesse o Rubens ali presente, o que ele poderia fazer, sem um amplificador, e com uma "Chiquita" em mãos ? E outra questão, ele faria um solo, ou ficaria a tocar apenas o riff principal da música ?

Naqueles segundos em que a proposta surgiu, tive uma ideia salvadora : afirmei ao sonoplasta, Johhny Black, que como eu estava preparado apenas para participar de uma dublagem, nem levara um cabo. Ele ficou, contudo, ainda mais instigado, e passou a vasculhar a cabine de som do teatro onde o programa era realizado, à procura de um cabo "P10". Foi então, quase certeza de que haveria por achar um cabo, e de fato, ele rapidamente o conseguiu. Nesse ínterim, o Faustão cravava-nos com perguntas, e para piorar as coisas, chegou subitamente um reforço de peso, na figura do locutor esportivo, Osmar Santos, para também estabelecer perguntas improvisadas, e assim ajudar a ludibriar a audiência. Uma das perguntas das quais eu não esqueço-me, e até achei interessante (pois pude expressar uma opinião forte, ainda que ninguém que ouvia aquele programa deva ter entendido), foi quando ao perguntar-nos o que estávamos a achar do Festival Rock in Rio, quis saber o que eu pensava das atrações : Go-Go's e Yes... ora, ora... justo uma pergunta com tal teor dirigida à minha pessoa... 

Pois eu disse que a diferença mostrava-se simples : uma banda era dirigida para crianças, e a outra, continha músicos de alto nível... falei alguma mentira ? 

Então, o Johnny Black chegou com um cabo "P10", velho, cheio de emendas mediante o uso de fita isolante... e assim, sem saída, tive que plugar e neste instante estava decidido a tocar o riff de "18 Horas" e a seguir produzir fazer ruídos com microfonias (aliás, como isso seria possível com a guitarra plugada em linha, e sem um amplificador para provocar o feedback ?), e assim a simular um solo performático. O que mais eu poderia fazer ? 

Mas o cabo P10 que o Johnny Black providenciou, estava arruinado, e falhou miseravelmente. Só lembro-me daí em diante,  do Faustão a proferir frases como : -"ô louco, problemas técnicos estão a minar-nos, meu"... ao fazer alusão ao fato das "sonoras" ter falhado também. E o mais engraçado, foi que o Johnny Black não desistiu e saiu a correr para a cabine, quando eu o vi com um ferro de solda em mãos, a tentar consertar aquele P10 putrefado... foi absolutamente hilário ! Ainda bem, não deu tempo para trazê-lo de volta ao palco, e o programa acabou... 
O humorista, Tatá, que fazia parte do elenco do Balancê, também

Bem, foi com certeza a nossa maior participação, em termos de tempo, no programa "Balancê"... e embora tenha sido um tanto quanto constrangedor, não ficou clima algum. Pelo contrário, os três, Faustão; Johnny Black & Osmar Santos, agradeceram o nosso esforço em prorrogarmos a nossa entrevista, e ao tomar conhecimento que teríamos um novo show em breve, convidaram-nos a voltar no programa, dois dias depois, para uma nova entrevista, e reforçar assim a divulgação do nosso show. Claro que aceitamos e dessa forma, voltamos naquele programa, no dia 31 de janeiro de 1985. Desta vez, resolvemos ir em trio, ao levarmos o Fran Alves, conosco, para que pudesse acostumar-se com tal dinâmica de entrevistas. Todavia, nessa segunda ocasião naquela semana, tudo ocorreu normalmente, com as sonoras de futebol a funcionar sem falhas, e a nossa entrevista a resumir-se a uma conversa curta, apenas para reforçar o convite do show, e a conter uma dublagem com o Rubens a pilotar a guitarra "Chiquita"; eu a fingir tocar bateria com um par de baquetas em mãos, e o Fran Alves a dublar a voz do Rubens, na canção "Luz".


Continua...

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 177 - Por Luiz Domingues


Ainda a falar sobre a estreia oficial do vocalista, Fran Alves, além da divulgação tradicional, tivemos também apoio de dois programas de TV. No mesmo dia do show, 31 de janeiro de 1985, havíamos comparecido novamente ao programa feminino e vespertino, "A Mulher dá o Recado", da TV Record de São Paulo. No período da tarde, no dia do show, gravamos o programa "Realce", da TV Gazeta, que foi ao ar às 18:00 horas, e que sempre oferecia-nos um bom apoio. No programa da TV Record, apesar de ter sido ao vivo, não esperávamos obter tanto retorno assim, visto que a sua audiência básica não era formada por Rockers, mas muito pelo contrário, por donas de casa, e certamente idosos. Contudo, achávamos muito válido aparecer em tais programas, pois mesmo ao posicionarmo-nos como uma banda de Rock sem concessões, queríamos angariar um público maior. Claro que um programa dessas características não fora o mais adequado para nós, mas eu ficava muito contente quando abria a caixa postal da banda, na agência do correio, e constatava a presença de cartas escritas por pessoas que estavam a elogiar-nos, exatamente por ter assistido-nos em programas dessa natureza, e neste em específico, rendeu-nos frutos nesse sentido. 
Por outro lado, vivíamos o mesmo problema de quando fizemos programas de TV com a presença do vocalista anterior, Chico Dias, ou seja, lá estávamos nós novamente, para enfrentar uma dublagem, onde um novo vocalista iria apresentar-se a fingir cantar, com o apoio do áudio oriundo da voz do Rubens em "Luz", proveniente de nosso disco. Nesse sentido, o fato de termos apenas um compacto simples, e com uma música cantada disponível, e a outra, a revelar-se um tema instrumental, limitava-nos naquele instante. 

A necessidade de um novo álbum, e com a voz do Fran Alves no comando, tornara-se urgente, também por esse aspecto televisivo. Nesse programa da TV Record, como de costume, tínhamos o compromisso em estarmos presentes no estúdio da emissora, às 8:00 horas da manhã. Não foi fácil portanto, estar com boa aparência e bom humor, prontos para entrar no ar, por sermos músicos, e naturalmente notívagos, mas todo sacrifício foi válido. Desta feita, optamos portanto pela não participação do Fran na apresentação, para não cometermos o mesmo erro já citado, que cometêramos com o antigo vocalista, Chico Dias.


Eis acima, essa aparição no programa "A Mulher dá o Recado", da TV Record de São Paulo, no 31 de janeiro de 1985.

O link para assistir no You Tube : 

https://www.youtube.com/watch?v=_xSsxMCtIbE
 

E na TV Gazeta, no dia seguinte, a tradicional "farra" cênica proposta pelo apresentador Mister Sam, proporcionou-nos mais uma divertida aparição. Desta vez, tivemos a oportunidade para executarmos as duas músicas do compacto, e pelo fato da canção, "18 Horas" ser instrumental, o Fran não participou, mas aconteceu algo hilário.

Como haveria necessariamente o solo de bateria, e o Zé Luiz faria a dublagem a usar uma caixa e um prato, naquela tradicional simulação que essas situações de TV proporcionavam às bandas nessas circunstâncias, principalmente nos anos 1980, o Zé Luiz criou uma loucura de improviso. No momento em que fomos gravar o bloco do programa onde dublaríamos a música, "18 Horas", o Zé teve a ideia de dispensar aquelas peças avulsas de bateria e pegou um cesto de lixo do estúdio da TV Gazeta, para usá-lo para "tocar". Claro que o apresentador, Mister Sam, adorou a iniciativa, e ali emendou uma série de brincadeiras hilárias, ao falar em "bateria invisível" e outras bobagens. E na hora do solo, que o Zé Luiz conhecia de cor, a sua gesticulação foi perfeita, como se estivesse a tocar de fato, e assim tornou tudo isso mais engraçado. 

Divertimo-nos muito, como sempre foi assim que estivemos mais uma vez no programa "Realce", da TV Gazeta. E certamente que esse programa ajudou-nos bastante na divulgação do trabalho. E também comparecemos em dois programas de Rádio, como ação de apoio ao show. Na verdade, foram duas entrevistas concedidas ao programa "Balancê", da Rádio Globo de São Paulo, onde o comandante à época, tratava-se do comunicador, Fausto Silva. 

Já havíamos participado de tal programa algumas vezes anteriormente, e nesse dia 28 de janeiro de 1985, especificamente, a banda foi representada por Zé Luiz e eu, Luiz Domingues, dentro daquele revezamento que havíamos combinado internamente, ao visar-se concedermos entrevistas em duplas, sempre que possível, para render mais nos programas radiofônicos, que tendiam a ser confusos, quando mais de duas pessoas eram entrevistadas. Todavia, como o programa contava com um público in loco, apesar de ser radiofônico, uma bizarra condição instaurara-se : os membros dessa produção pediam aos artistas musicais que dublassem, mesmo não ao fazer nenhuma diferença para quem assistia ali presente. Então, eu, Luiz; Rubens e Zé Luiz, geralmente levávamos um par de baquetas, e uma mini guitarra chamada, "Chiquita" (que o Rubens possuía), que mais parecia uma guitarrinha baiana, dessas de trios elétricos, simplesmente para facilitar as coisas. Então, combinamos para que usasse a guitarrinha na dublagem, e o Zé Luiz, fazer malabarismos com as baquetas, e dessa forma, ambos dublaríamos a voz do Rubens. Ou seja, uma bizarrice total... no entanto, tivemos um incrível azar nessa manhã de 28 de janeiro de 1985...


Continua...