quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 25 - Por Luiz Domingues


Às vésperas dos dois shows que faríamos no Centro Cultural, esmeramo-nos com a questão da produção, e divulgação do show. Foi efetivamente, a segunda grande campanha de divulgação em que empenhamo-nos, pois o show ao ar livre que fizéramos em setembro, não teve esforço de nossa parte. 

Colocamos todos os cartazes que pudemos imprimir, e o mesmo em relação às filipetas. Mas tivemos uma ótima nova em termos de mídia mainstream, de uma forma inesperada ! Poucos dias antes de nossas datas no CCSP, recebi um telefonema na minha residência, oriundo de um jornalista do jornal "Folha de S.Paulo". Ele propôs -me uma entrevista por telefone, o que aceitei de imediato. Perguntou-me sobre a volta da Patrulha do Espaço; se teria a participação do Arnaldo Baptista; se tínhamos novas músicas; planos para gravar um novo álbum com músicas inéditas; se tratava-se de uma "volta" para valer, ou representaria apenas alguns shows com caráter nostálgico etc. Mesmo surpreendido com esse interesse de um órgão mainstream, e historicamente avesso à égregora pela qual pertencíamos, coloquei-me à disposição para responder com o máximo de boa vontade, é claro. Ao final da entrevista, falei sobre o resgate que a banda pretendia fazer de volta às suas próprias raízes sessenta / setentistas, e citei alguns estilos dessas décadas, que fizeram parte de nosso espectro de novas composições. Encerrando, trocamos informações sobre a entrega de fotos promocionais, e eu fiquei contente, por achar que tratou-se de algo extraordinário ver a Folha de São Paulo a procurar-nos espontaneamente, por denotar estar a conferir-nos um estofo artístico, relevância etc. Providenciei pessoalmente a entrega de fotos, ao levá-las à redação da Folha, e fiquei esperançoso pela sua publicação. De fato, a matéria saiu no caderno de cultura desse jornal, o tradicional : "Folha Ilustrada". Qualquer artista no Brasil, sabe que sair citado na "Ilustrada", é sinal de status, e abre portas.

No entanto, mesmo sem eu ter mencionado de forma alguma, o jornalista inseriu a palavra "Heavy-Metal", em meio aos estilos que eu citei. Ora, claro que eu não menciotei tal estilo, pois eu fugia disso, e queria extirpar esse ranço que a banda agregou na sua carreira pós / 1985, mesmo não sendo um problema meu, visto que eu não fui um componente nessa época, mas tal particularidade incomodava-me. Para a minha inteira surpresa, infelizmente o jornalista "inventou", literalmente, tal citação e a publicou, indevidamente.
Claro, apesar desse lapso, não podemos reclamar por termos sido publicados no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo, uma autêntica raridade para uma banda não coadunada com o pesadelo de 1977. 

Quanto à produção do show, em termos técnicos, tivemos que providenciar algum equipamento extra para suprir as necessidades de palco, ao visar alimentar os teclados, principalmente. No quesito cenográfico, conseguimos os tecidos, e sob a supervisão da Claudia Fernanda, o cenário ficou bonito, dentro de sua simplicidade. 

Infelizmente, pela tessitura quase transparente do tecido usado, a questão da projeção de uma bolha psicodélica, ficou prejudicada.

Ficou bastante discreta a projeção, mais a dar um colorido do que o que sonháramos anteriormente em termos de projeção psicodélica, mas foi o tal negócio, fizemos o melhor que pudemos, diante de nossos parcos recursos materiais na ocasião.
O simpático Jornal do Cambuci & Aclimação deu força à banda, para honrar a sua tradição em apoiar a cultura, que vinha desde os anos oitenta, quando apoiava com entusiasmo o evento : "Praça do Rock", que realizava-se no Parque da Aclimação em São Paulo.

Um dado a mais para colaborar, foi a presença do super iluminador, Wagner Molina, que o Junior convidou a iluminar o nosso show, a constituir-se na ocasião em que o conheci, e anos depois ele tornar-se-ia o iluminador do Pedra.
Patrulha do Espaço, e o fã, Ivo Lima ("Cebola"), no camarim do CCSP, em dezembro de 1999

Ao contrário do show no Fofinho Rock Clube, ocorrido em agosto, o set list evitou as releituras, e focou no repertório próprio da banda, ao mesclar músicas de todos os discos, incluso canções da fase Arnaldo Baptista, e as novas canções, que fariam parte do álbum Chronophagia.

Foi nesses shows inclusive, onde executamos várias músicas ainda não tocadas ao vivo (algumas apenas foram tocadas no Fofinho), incluso : "Sendo o Tudo e o Nada", um tema progressivo cheio de partes, com quase nove minutos de execução. 

Esses shows ocorreram nos dias 9 e 10 de dezembro de 1999, quinta e sexta-feira, portanto dias difíceis para atrair um bom  público ao Centro Cultural, com a agravante de que o horário das 19:00 horas para realizar -se um espetáculo em uma metrópole como São Paulo, é um disparate, com milhões de pessoas presas no trânsito, bem na hora do rush. 
 


Mas, a despeito disso, conseguimos movimentar um público razoável : noventa pessoas na quinta, e cento e cinquenta na sexta. Animados com esses dois shows que foram bons, e que gerou uma repercussão inesperada, tivemos a boa nova de que havia uma data marcada para fora de São Paulo, a ser realizada na metade de janeiro de 2000. Seria um show na cidade de Praia Grande, litoral sul de São Paulo.
 


Sendo assim, com o movimento de borderô dos shows do CCSP, mais a perspectiva de um show com cachet fixo, para breve, o Júnior vislumbrou a possibilidade para entrarmos em estúdio para gravarmos o primeiro CD da nova formação.


 

O contato começou a ser feito nesse sentido e ao aproveitar uma oportunidade vislumbrada por conta de um outro trabalho feito por ele, Rolando, em termos de gravação de um show ao vivo, uma visita a um estúdio foi programada para o final do ano de 1999... 

Esses dois shows do Centro Cultural São Paulo foram filmados, não de forma integral, mas tenho planos para disponibilizar tais imagens no You Tube, em breve. Foram shows que animou-nos para virar o ano 2000 !

Todas as fotos ao vivo desses dois shows são de meu acervo pessoal, mas não há registro sobre quem foi o fotógrafo. Desconfio, por dedução, ter sido feitas pela Claudia Fernanda.

Continua...

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