sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 51 - Por Luiz Domingues


Logo que chegamos, apesar do clube apresentar boas instalações e o equipamento disponibilizado, estar em ordem, ficamos ressabiados, pois a mudança de local do festival fora um indício de fracasso a vista, quase irreversível, naturalmente. E o produtor do show, um rapaz chamado, Reinaldo, estava em um estado nervoso bastante alterado, o que também não foi um bom indício. Passamos o som e no camarim, percebemos mais indícios negativos, então.

O rapaz, de forma súbita, entrou no camarim com a sua roupa toda amassada, e completamente pálido, para ter a seguir, uma crise nervosa em nossa frente ! Demos-lhe água e o acalmamos, quando ele contou-nos que acabara de ser agredido pelos seguranças que ele mesmo contratara para o evento ! Pior indício do que isso, impossível, pois quando um show caminha para o fracasso, é aconselhável que pague -se primeiramente a segurança contratada, pois caso contrário, a força bruta vira contra o produtor inadimplente... 

Os homens deram alguns tapas nele e evadiram-se do local. Ficara portanto, um perigo a mais, estar em um show, sem segurança alguma. E se houvesse um tumulto, quem colocaria ordem dentro do clube ? Nessa altura, já estávamos a temer pela falta da segunda parcela do nosso cachet, pois a primeira metade houvera sido depositada alguns dias antes, ao seguir a praxe profissional do show business, e esta parcela garantira as despesas da nossa viagem, mas a segunda parcela representaria o nosso lucro em risco...

O produtor do show a chorar no camarim, mediante uma crise nervosa por ter recém apanhado dos seguranças por motivo de falta de pagamento... o que esperar da continuidade desse evento ? Passados alguns minutos, tivemos mais indícios de que teríamos aborrecimentos, quando eis que um diretor do clube entra no camarim e fala ríspido com o produtor, ao cobrar-lhe o pagamento do aluguel do clube (Clube Canadá), sob a ameaça de apagar as luzes; retirar o público e convidar os artistas e equipe técnica a retirar-se de suas dependências.

Constrangido, o produtor propôs-se a conversar no gabinete da diretoria e pelo fato das luzes não ter apagado-se, deduzimos que ele disponibilizou um cheque, no mínimo. Mais uns instantes e entrou o dono do equipamento a exigir o seu pagamento, sob a pena de desligar e desmontar o P.A. Com esse clima, o Júnior também exerceu pressão, pois foi o único jeito de sairmos dali com o restante do nosso cachet em mãos e nessa altura, o que deveria ter sido um festival com uma multidão, revelou-se um fiasco de bilheteria. O produtor esforçou-se, e providenciou-nos um pouco mais da metade do valor restante. Foi melhor que nada e assim, aceitamos cumprir o show para o reduzido público presente naquela noite de 15 de julho de 2000. Sob um frio intenso e paradoxalmente sob a fervura de um festival pessimamente produzido, fizemos o show então para cerca de duzentas pessoas. Antes que o leitor estranhe, duzentas pessoas não é tão insignificante assim, mas a ideia inicial com o show ao ar livre, foi em termos de pelo menos cinco mil pessoas, mesmo com frio; geada e neblina... porém, antes de falar sobre o show, tenho outras histórias sobre tais bastidores...


Continua...

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