sábado, 30 de agosto de 2014

Autobiografia na Música - Magnólia Blues Band - Capítulo 1 - Por Luiz Domingues

Inicio essa história recente, em minha autobiografia.

O guitarrista, Kim Kehl comunicou-nos logo no primeiro show dos Kurandeiros, em 2014, que o proprietário do Magnólia Villa Bar estava a formular uma proposta nova para nós. Ele sugeriu que a base dos Kurandeiros, estabilizada como Power Trio àquela altura dos acontecimentos, com Kim Kehl; Carlinhos Machado, e eu, Luiz Domingues, atuássemos toda quarta-feira, e juntos, com ele mesmo a atuar como tecladista, que apresentássemo-nos como um quarteto, a assumir a alcunha como : "Magnólia Blues Band", e assim apresentar em cada quarta-feira, uma convidado da cena do Blues brasileiro. O Kim ponderou que não haveria nenhum prejuízo à agenda dos Kurandeiros em outros shows, a não ser ali mesmo no Magnólia Villa Bar, onde a nossa rotina era tocar uma quarta por mês, aliás, rotina essa que perdurava bem antes da minha entrada na banda em 2011. 
O Carlinhos Machado aceitou de pronto, visto que para ele que tocava em seis bandas naquela ocasião, acumular uma eventual sétima banda não mudaria muito a sua vida agitada como músico, com shows pela noite, quase diariamente. Quem relutou um pouco fui eu mesmo, e explico. Argumentei ao Kim e Carlinhos, que uma situação era a paciência e companheirismo que tiveram comigo desde o início, ao relevar a minha demora em adaptar-me à banda, por algumas razões.
Entre elas, o fato de eu não ter escola dentro do estilo do Blues, e por conta disso, ter demorado a entender esse universo que parece fácil aos ouvidos menos atentos, mas tem muitos maneirismos, e em cima dessa prerrogativa, talvez os tais convidados, artistas da cena do Blues, não tivessem a mesma paciência, e pudessem acontecer climas desagradáveis em cima do palco. Claro que ambos desqualificaram os meus temores, e incentivaram-me a não pensar dessa forma derrotista, digamos, e pelo contrário, a afirmar que eu era capacitado para fazer parte do projeto etc. Enfim, como já salientei muitas vezes no capítulo dos Kurandeiros, a tal da "atitude jazzística", de empreender shows calcados em puro improviso, sem ensaios prévios, não era o meu modus operandi.
Não preparei-me para agir assim na carreira, e pelo contrário, a minha história foi calcada quase que em 100%, na atuação em bandas autorais, portanto, a minha orientação pessoal como músico, sempre foi a de tocar apenas o que eu mesmo criava. Com o respaldo dos companheiros, mas um tanto quanto ressabiado, aceitei participar do projeto, mesmo que em tese, estivesse por acumular mais uma banda na minha vida, de forma simultânea, o que foi algo também pouco provável em acabar bem, pois um conflito de agenda poderia ocorrer em qualquer instante. Naquela altura, janeiro de 2014, eu estava quase a completar trinta e oito anos de carreira, e nessas quase quatro décadas de atuação, só em poucos momentos eu tive problemas dessa monta. Todavia, mesmo assim, foram no início de carreira, e o acúmulo nessa ocasião, foi composto por situações tão incipientes, que mesmo quando chocaram-se, não apresentaram a gravidade que pudesse justificar um constrangimento muito grande. A pior situação que eu vivera na carreira, foi ao final de 1983, quando aceitei voltar ao Língua de Trapo, mesmo a estar muito firme com A Chave do Sol, que inclusive, ensaiava dar passos importantes na carreira, ao começar a deixar o seu anonimato inicial. Fora disso, algumas situações anteriores foram realmente bem menos graves. Agora, 2014, eu estava nos Kurandeiros; teoricamente fazia parte do "Nu Descendo a Escada", de Ciro Pessoa; e fazia parte do Pedra, que voltara em 2012, ainda que em princípio, apenas para finalizar o seu terceiro álbum inacabado. Acumular o Magnólia Blues Band nesse congestionado contexto, poderia insinuar uma loucura total, mas ao analisar bem, não seria assim tão insano, senão vejamos :
1) O MBB seria um desdobramento direto dos Kurandeiros, e não exatamente uma outra banda, portanto, nunca haveria um choque de agenda entre as duas bandas, somente por minha causa, mas curiosamente, os Kurandeiros jamais tocariam na mesma data, por razões óbvias...

2) O mesmo equivaleria ao "Nu Descendo a Escada", pois eu e Kim éramos componentes das duas / três bandas, e em breve ficaríamos ainda mais confortáveis, pois o Carlinhos Machado também ingressaria no "Nudes", portanto, as três bandas teriam o mesmo núcleo base a conter baixo; bateria, e guitarra.

3) Sendo assim, o choque em potencial, poderia ocorrer apenas com o Pedra. Mas no calor dos acontecimentos daquela momento, o Pedra estava empenhado em gravar o novo disco, e o "Nudes" estava parado em estado de hibernação, que só quebrar-se-ia em abril.

Então, o que pareceu ser uma loucura total, acabou por revelar-se plausível, e dessa forma, com todos ao aceitar o desafio, o primeiro convidado da Magnólia Blues Band, foi o guitarrista / cantor e compositor, Chico Suman. Fiquei ainda mais aliviado, pois conhecia-o, e sabia que não teria nenhum problema em tocar com ele, muito pelo contrário. Além de ser um sujeito excepcional, grande guitarrista e vocalista, tratava-se de um conhecido, e sua banda, "Suman Brothers Band", onde também atuava o seu irmão, Vitor Suman, como baixista, tinha um segundo guitarrista que era o Diogo Oliveira, nosso amigo de anos, e apoiador do Pedra, tendo inclusive feito a capa do CD Pedra II, além de diversos cartazes de shows; cenários de shows ao vivo, e até intervenções ao vivo como artista plástico, fora ter gravado uma cítara na canção : "Projeções", do mesmo disco em que criou a capa. 
Enfim, ter Chico Suman como primeiro convidado fora uma certeza de que seria uma noite muito boa para todos, e uma possibilidade para o projeto deslanchar. E particularmente, senti-me muito mais seguro por saber que não teria nenhuma preocupação em subir ao palco e tocar, pois tratou-se de um amigo que eu tinha certa liberdade, portanto, não haveria nenhuma possibilidade em haver alguma dificuldade com o primeiro convidado. E lá fomos nós : 15 de janeiro de 2014...


Continua...

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