sexta-feira, 20 de junho de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 120 - Por Luiz Domingues


E precisávamos divulgar os shows...  lembro-me que conseguimos empreender duas ações diferentes nesse sentido, diferentes dos métodos tradicionais da época, que centravam as suas forças sempre nos cartazetes e filipetas. Conseguimos emplacar notas nos jornais de grande circulação e encomendar cartazes ao estilo : Lambe-Lambe. Ao contrário do método precário com o qual tentamos fazer uma divulgação nesses mesmos moldes em 1983, e cuja história pitoresca, eu já contei aqui, desta feita tínhamos verba e fizemos a coisa certa, ao contratarmos gráfica & colagem etc e tal. 

Todavia, não tínhamos condições em encomendar uma colagem de largo alcance, portanto, centramos as nossas baterias em alguns pontos da zona oeste de São Paulo, estrategicamente mais próximos do Teatro Lira Paulistana. E uma ação que consideramos estratégica por um motivo específico : queríamos sinalizar o quarteirão onde localizava-se o Teatro Lira Paulistana e por ter sido assim, decidimos confeccionar uma faixa, para colocá-la no cruzamento da Av. Henrique Schaumann, com a Rua Teodoro Sampaio, ou seja, no quarteirão onde ficava o Lira, na Teodoro. E de quebra, queríamos ter a exposição de um cruzamento com gigantesco movimento, a contar com milhares de carros e pedestres que ali passavam desde há muito tempo. 

Mas o insólito dessa ação, foi que a verba acabou e por só conseguirmos pagar pela confecção da faixa, ficamos sem o apoio inerente para colocá-la em um poste e sendo assim, esta incumbência ficou para nós mesmos, cumpri-la. Adivinhem quem foi o responsável por essa tarefa ? Claro, Zé Luiz Dinola, o faz-tudo da banda. O problema, foi que não tínhamos uma escada adequada para aquela altura, de um poste de iluminação tão alto. Foi então que em um dia de semana, um pouco antes da data da estreia que eu, Luiz Domingues; Rubens Gióia e Zé Luiz Dinola, protagonizamos uma cena de cinema pastelão, digna de um episódio d'Os Três Patetas... 

Primeiro, tivemos o constrangimento em ter que arrumar uma escada emprestada, ao pedirmos em várias lojas do entorno. Depois, a cena dantesca em segurarmos a enorme escada, com o Zé Luiz pendurado sob uma altura considerável, e sem nenhuma proteção. Fora a precariedade em não possuirmos ferramentas adequadas etc. Como se não bastassem tais percalços, fomos insultados pelos zombeteiros que sempre aparecem nessas horas, mas o que mais chateou-nos mesmo, foi a perda total do "glamour artístico", ao sermos flagrados nessa situação. Não pelo ato em si, pois não há nada de errado em estar a fazer um trabalho dessa natureza, mas por expormos a nossa falta de estrutura, porque estávamos a lançar o nosso primeiro disco; já tínhamos realizado muitas apresentações na TV; possuíamos matérias publicadas em jornais importantes e muitos shows já cumpridos.

Por outro lado, eu lembrava-me de uma entrevista que havia lido do Herbert Viana, dos Paralamas do Sucesso, naquela época mais ou menos (acho que na Revista Roll, não tenho certeza), onde ele contava que a vida fora "dura" para os Paralamas, antes de estourar no mainstream. Dizia que lembrava-se do tempo não muito distante, onde faziam shows na casa noturna : "Rose Bom Bom", em São Paulo (ficava na Rua Augusta), e que nessa época marcada por modestas oportunidades, em sua ótica, tinham que usar táxis na Rua Augusta, às 5:00 horas da manhã, pois não tinham estrutura para ter um transporte próprio... cáspite ! Pensava eu... eles reclamavam do que ? Tinham dinheiro para tomar táxi ! Quantas centenas de vezes vi-me em um ponto de ônibus, sozinho, durante a madrugada, a esperar um ônibus e com um baixo na mão ?



Continua... 

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