quarta-feira, 25 de junho de 2014

Trilhas - Por Tereza Abranches


E que cada luta,
cada tristeza e dança,
reencontro e luz,
que cada flor, charco e estrela,
sombra e aurora 
e cada montanha escalada ao vento...
Que cada batalha vencida,
cada derrota de limites,
que o medo e a coragem
na estrada que se trilha
de ascensão e de queda,
de enigma, claridade e treva
na busca insana pelo infinito...
Que cada ânsia de beleza,
mágoa, força e fraqueza
e cada furacão de desespero e dor,
resultem e resumam
hoje e sempre,
em somente,
e em tão somente
Amor !





Tereza Abranches é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Escritora e artesã, desenvolve também estudos sobre literatura e espiritualidade.

Com "Trilhas", nos aponta através de um belo poema, o caminho interior, como senda segura a ser percorrida.

Conheça seus trabalhos de artesanato, através desses links :

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Elo7: http://www.elo7.com.br/terezaabranches 

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domingo, 22 de junho de 2014

Luiz Domingues - Entrevista para o Blog Disciplina Frustrada !

Concedi entrevista para o Blog Frustrada Disciplina

Entrevistador : William Kusdra

Apoio : Web Radio Stay Rock Brazil

 http://disciplinafrustrada.blogspot.com.br/2014/06/entrevista-com-o-musico-luiz-domingues.html

Confira !

sábado, 21 de junho de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 125 - Por Luiz Domingues


No cômputo geral, os dois shows foram muito bons, em todos os sentidos. Na parte musical, tudo fluiu bem. Estávamos muito bem ensaiados e também muito motivados, por ser o lançamento de nosso primeiro disco. A ideia em encenarmos um show performático, com intervenções teatralizadas e sob a aura do teatro nonsense, deu certo, pois surpreendemos o público.

Muita gente elogiou, pois ninguém de fato, esperava um show com tais elementos, sequer a imaginar que não seria um show de Rock tradicional, com a banda a tocar, pura e simplesmente. No máximo a conter um cenário ou algum efeito pirotécnico, mas jamais esperariam por tantas coisas "esquisitas"...

Lembro-me de algumas pessoas a elogiar essa iniciativa, tais como : Luiz Carlos Calanca, da Baratos Afins, dono da loja e da gravadora pela qual estávamos a lançar o disco; Valdir Montanari, jornalista das Revista Rock Stars e Rock Show, além do programa de Rádio, Sinergia; Antonio Carlos Monteiro, jornalista da Revista Roll, entre outros.

 

Os nossos colaboradores também apreciaram muito. Todos que participaram, divertiram-se na produção. Do poeta, Julio Revoredo, à Edgard Pucinelli Filho; ao passar por Celso "Esponja" Bressan; Daniel "Papel" Negrão; Claudio "Capetóide" Carvalho; Iran Bressan; Carlos Muniz Ventura; Seiji Ogawa; Hélio, e Sergio "Borracha" Carvalho.

Também firmamos amizade com o técnico de áudio, Can Robert, que nos operar-nos-ia futuramente, tanto no próprio Teatro Lira Paulistana, em outras ocasiões, como em shows em outros locais, inclusive fora de São Paulo. A cúpula diretiva do Lira Paulistana também apreciou muito, e as  portas abriram-se para mais apresentações futuras que ali faríamos. 

Tudo aconteceu nos dias 30 e 31 de julho de 1984. O público no dia 30, foi composto por oitenta e cinco pessoas, e no dia 31, cento e vinte pessoas (muito bom, ao considerar-se que os shows ocorreram na segunda e terça-feira, "dias mortos" para produzir espetáculos musicais, ainda mais, show de Rock autoral de um artista independente e habitante do patamar underground da música). Cida Ayres, que era produtora do Língua de Trapo, deu uma ajuda e tanto na produção, ao auxiliar-nos na divulgação, inclusive.


Continua.. 

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 124 - Por Luiz Domingues


A terceira participação foi a mais produzida, apesar do material usado ser bem simples, improvisado mesmo. Consistia da entrada do "Homem Abatjour", com uma performance bem fantasmagórica, ao caminhar pelo palco e interagir com a plateia, ainda que sem exageros. Mais uma vez, a ideia foi dar um efeito nonsense, causar estranheza e sutilmente fazer uma analogia com o "Sol" da Chave do Sol. Durante a execução da música : "No Reino do Absurdo", o poeta, Julio Revoredo, entrou em cena com aquele paramento todo que eu descrevi anteriormente, mas não custa repetir : uma capa preta que cobria-lhe até os pés; um enorme abatjour acoplado em sua cabeça e por baixo, figurino preto para reforçar. 

O Zé Luiz (quem mais ?), preparou toda a engenhoca para acomodar na cabeça do Julio, com a respectiva armação para a lâmpada, e bateria que a alimentáva-a. A performance nos dois dias foi muito boa, e causou efeito. Foi difícil para o Julio, pois estava quase impossível para ele enxergar alguma coisa, fora o calor que o manto e a luz acesa na sua cabeça, proporcionavam. 

No primeiro show, da segunda-feira, ele assustou uma criança na plateia que saiu a correr, para arrancar risos de todos. Tratou-se do menino, Victor Dinola, sobrinho do Zé Luiz, filho da sua irmã, Elizabeth Dinola, que desenhara a capa do nosso compacto. Pelo fato de andar às escuras, praticamente, o Julio usou tal adversidade móvel como um trunfo à sua performance, ao caminhar com os trejeitos do personagem : "Frankenstein", clássico na interpretação do ator, Boris Karloff, o que foi ótimo para a performance.


Continua... 

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 123 - Por Luiz Domingues

 

O show seguiu normal até a quarta ou quinta música, não recordo-me ao certo, até que a segunda intervenção cênica ocorresse. E foi aquela que descrevi anteriormente, sobre a perseguição e captura de um estranho personagem. Os "atores" posicionaram-se naquele espaço físico do teatro, entre a entrada da arquibancada e o hall de entrada do mesmo. No primeiro dia, foi tranquila a entrada, pois não haviam muitas pessoas em pé naquele instante, posicionadas ali. 

A entrada em cena ocorreu durante o solo de bateria da música : "18 Horas", reforçada então pelo fato de que eu e Rubens estávamos quietos e fora dos focos de luz, com toda a ênfase do show no solo de bateria do Zé Luiz, nesse específico trecho. O personagem perseguido entrou e escondeu-se atrás do surdo da bateria, com o Zé Luiz a empreender o seu solo, e a esforçar-se para não esboçar reações de espanto pela ação dos atores. 

Os três perseguidores vieram a seguir, e fizeram uma simulação tensa, que causou um frisson na plateia. Lembro-me de ver várias pessoas a cutucar-se mutuamente para chamar a atenção uma das outras e até algumas a levantar-se da arquibancada do Lira Paulistana, talvez sob uma reação em espasmo de alerta, sem entender o que aquilo significava, exatamente. Como já disse antes, uma performance dessas poderia suscitar diversas interpretações na imaginação das pessoas. Do ponto de vista do espectador, seria totalmente plausível acreditar que aquilo poderia ser uma briga real e a perseguição iniciada na Rua Teodoro Sampaio, completamente alheia ao show. Nesse caso, essas pessoas estariam ali meramente por acaso, como em cenas de perseguição de filmes de ação, onde brigas acontecem em lugares inusitados em meio à pessoas que não tem nada a ver com isso. 

Não ocorreu nada errado, mas poderia ter acontecido, hoje eu enxergo essa possibilidade. Alguém poderia tentar intervir, por exemplo. E se houvesse um policial na plateia ? O instinto de um profissional desses seria o de agir, por exemplo. Além da possibilidade de uma instauração de pânico no ambiente. Bastaria uma pessoa a assustar-se e sair a correr, para deflagrar uma ação desse porte e nas condições precárias de escoamento do Lira Paulistana, poderia tornar-se uma tragédia. Hoje em dia, eu não arriscaria empreender uma sketch assim, em um show meu. Todavia, nada ocorreu de errado nos dois dias, e cenicamente a falar, causou um efeito muito interessante para o público.


Continua... 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 122 - Por Luiz Domingues


O som lounge ambiente, foi na verdade, o clima pré-show para fornecer o momento para começar a performance. Foi estratégico e cronometrado, combinado com o técnico do P.A., Can Robert, que tornar-se-ia doravante, nosso amigo e operaria a banda em alguns shows inclusive fora do ambiente do Lira Paulistana, também, no futuro. Já faz anos, o Can Robert é técnico fixo dos Titãs, e naquela época, trabalhava com Os Inocentes, e diversas outras bandas da cena Punk e do Pós-Punk. Todavia, apesar de sder um mundo antagônico ao nosso, Can era um sujeito que apreciava a sonoridade anos 1970 e sob segredo, sem que seus amigos punks soubessem, gostava de bandas Prog Rock setentistas, fator proibido naquele tempo... tanto que quando estava a operar o nosso som, ele enlouquecia com o som do Pink Floyd, que era o tema chave em nosso lounge e deixa para começar o nosso show. 

E a contagem, foi o tempo certo em executar-se um lado de uma fita K7, com sons escolhidos por nós, em torno de canções de bandas ao estilo Prog Rock e Jazz Rock setentistas, em sua maioria, e quando chegava no auge do grito do Roger Waters, na música : "Careful With the Axe, Eugene", do Pink Floyd, as luzes apagavam-se e o show começava. 

Fotos do poeta, Julio Revoredo, a mostrar eu, Luiz Domingues e Rubens Gióia, na saída de emergência do Teatro Lira Paulista, em julho de 1984.

Mas o público esperava que nós entrássemos e iniciássemos de forma tradicional, apenas a apanhar os instrumentos e passarmos a tocar, no entanto, o que viram, foi o Celso "Esponja" Bressan e o Claudio "Capetóide" de Carvalho, nossos atores amadores e voluntários, a entrar no palco, ao carregar um tapete persa, enrolado. E dessa forma, o jogaram-no ao chão e ao desenrolá-lo, saiu a exótica figura de Edgard Pucinelli Filho, a declamar o intrincado poema de Julio Revoredo : "A Formiga". 

As reações foram novamente díspares e interessantíssimas, tal qual a reação inicial causada pelo punhado de açúcar distribuído individualmente. Pessoas caíram na gargalhada; outras ficaram atônitas; um ou outro grito com a expressão : "Chave" (certamente a exprimir o desejo para entrássemos e fizéssemos um show de Rock tradicional e assim poupar-lhes em ter que presenciar um teatro nonsense...), além de pessoas a provocar diretamente o Edgard etc. Foi o que quisemos provocar, em princípio, como reação das pessoas. E nestes termos estávamos a lograr êxito. Todavia, nem tudo foi positivo... 
Rubens clicado pelo poeta, Julio Revoredo, na porta do Lira Paulistana, no dia do primeiro show de lançamento de nosso compacto, em 30 de julho de 1984. Click; acervo e cortesia : Julio Revoredo

Pelo fato de ser amadores, os amigos, Celso e Claudio, entraram em cena nervosos, com a adrenalina a mil, e não colocaram o tapete no chão com o cuidado com o qual ensaiaram na residência do Rubens, em ensaios prévios que promovemos. E sendo assim, quando o tapete tocou o solo, o Edgard soltou um grito a denotar dor e ao sair do tapete, com a sua face toda amassada e assustado, causou risadas. Até perceberem tratar-se de uma performance, demorou um pouco. 

Eu, Luiz Domingues, na porta do Lira Paulistana no dia do primeiro show de lançamento do compacto, em 30 de julho de 1984. Click, acervo e cortesia do poeta Julio Revoredo

E ele também gaguejou no início de seu monólogo, e só veio a conseguir o foco, alguns segundos depois. Contudo, no cômputo geral, foi uma excelente atuação, pois ele era performático naturalmente e carismático, sem dúvida. A seguir, as luzes apagavam-se e nós entrávamos e começávamos a tocar.


Continua...

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 121 - Por Luiz Domingues


E chegou o grande dia, do primeiro show de lançamento do nosso disco ! Foi no dia 30 de julho de 1984, e mediante um público pagante com oitenta e cinco pessoas, que fizemos o show de lançamento do nosso primeiro compacto simples, que repetir-se-ia no dia seguinte, 31 de julho de 1984. 

O início do show, que na verdade começava em seu preâmbulo, causou um efeito sensacional ! Nunca esqueço-me de estar em um ponto alto do camarim, que comunicava-se com a técnica, onde o técnico de iluminação trabalhava e de lá pude assistir tais reações sem que o público visse-me. O poeta, Julio Revoredo; Rubens, e Zé Luiz, também foram ver, e todos apreciamos muito, verificarmos as reações das pessoas. E eram diferentes, umas das outras, naturalmente... 

Como você reagiria, caro leitor, ao entrar em um teatro para assistir um show de Rock, e ser convidado a abrir a palma da mão para receber um punhado de açúcar ? Bem, a maioria o ingeriu, sob diversas formas, ao comer; lamber etc. 

Outros caíram na gargalhada; alguns esboçaram fazer expressão facial a denotar a estranheza e houve casos de recusas, o que também era esperado, pois muito gente não gosta de interagir em espetáculos ao comando de artistas, de uma maneira geral. O açúcar teve tudo a ver com o texto hermético criado pelo poeta, Julio Revoredo, que evocara o aspecto desse alimento, ao estabelecer uma analogia com as formigas, e também com A Chave do Sol, propriamente dita. Ouvimos também várias pessoas a conversar sobre esse estranho procedimento e assim, o nosso intuito inicial esteve cumprido, pois fomentamos algo diferente, para surpreender inteiramente a plateia. E quem incumbiu-se em fazer tal entrega ao público, foi o nosso amigo, Celso "Esponja" Bressan. Aliás, foi interessante pois mesmo não sendo um ator, foi convincente nessa performance. Mas outras surpresas ocorreram...
Eu aboli o meu apelido por muitos motivos, mas a confusão que isso gerava nos caracteres de TV e grafia nas publicações, sem dúvida que foi um deles. Aqui nesta nota do "Estadão", o 'agraciado" com a gafe não fui eu, no entanto. Imperdoável, por considerarmos ser um jornal forte do mainstream, e assim sendo, o que significou chamar o José Luiz como "Jorge" ?

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Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 120 - Por Luiz Domingues


E precisávamos divulgar os shows...  lembro-me que conseguimos empreender duas ações diferentes nesse sentido, diferentes dos métodos tradicionais da época, que centravam as suas forças sempre nos cartazetes e filipetas. Conseguimos emplacar notas nos jornais de grande circulação e encomendar cartazes ao estilo : Lambe-Lambe. Ao contrário do método precário com o qual tentamos fazer uma divulgação nesses mesmos moldes em 1983, e cuja história pitoresca, eu já contei aqui, desta feita tínhamos verba e fizemos a coisa certa, ao contratarmos gráfica & colagem etc e tal. 

Todavia, não tínhamos condições em encomendar uma colagem de largo alcance, portanto, centramos as nossas baterias em alguns pontos da zona oeste de São Paulo, estrategicamente mais próximos do Teatro Lira Paulistana. E uma ação que consideramos estratégica por um motivo específico : queríamos sinalizar o quarteirão onde localizava-se o Teatro Lira Paulistana e por ter sido assim, decidimos confeccionar uma faixa, para colocá-la no cruzamento da Av. Henrique Schaumann, com a Rua Teodoro Sampaio, ou seja, no quarteirão onde ficava o Lira, na Teodoro. E de quebra, queríamos ter a exposição de um cruzamento com gigantesco movimento, a contar com milhares de carros e pedestres que ali passavam desde há muito tempo. 

Mas o insólito dessa ação, foi que a verba acabou e por só conseguirmos pagar pela confecção da faixa, ficamos sem o apoio inerente para colocá-la em um poste e sendo assim, esta incumbência ficou para nós mesmos, cumpri-la. Adivinhem quem foi o responsável por essa tarefa ? Claro, Zé Luiz Dinola, o faz-tudo da banda. O problema, foi que não tínhamos uma escada adequada para aquela altura, de um poste de iluminação tão alto. Foi então que em um dia de semana, um pouco antes da data da estreia que eu, Luiz Domingues; Rubens Gióia e Zé Luiz Dinola, protagonizamos uma cena de cinema pastelão, digna de um episódio d'Os Três Patetas... 

Primeiro, tivemos o constrangimento em ter que arrumar uma escada emprestada, ao pedirmos em várias lojas do entorno. Depois, a cena dantesca em segurarmos a enorme escada, com o Zé Luiz pendurado sob uma altura considerável, e sem nenhuma proteção. Fora a precariedade em não possuirmos ferramentas adequadas etc. Como se não bastassem tais percalços, fomos insultados pelos zombeteiros que sempre aparecem nessas horas, mas o que mais chateou-nos mesmo, foi a perda total do "glamour artístico", ao sermos flagrados nessa situação. Não pelo ato em si, pois não há nada de errado em estar a fazer um trabalho dessa natureza, mas por expormos a nossa falta de estrutura, porque estávamos a lançar o nosso primeiro disco; já tínhamos realizado muitas apresentações na TV; possuíamos matérias publicadas em jornais importantes e muitos shows já cumpridos.

Por outro lado, eu lembrava-me de uma entrevista que havia lido do Herbert Viana, dos Paralamas do Sucesso, naquela época mais ou menos (acho que na Revista Roll, não tenho certeza), onde ele contava que a vida fora "dura" para os Paralamas, antes de estourar no mainstream. Dizia que lembrava-se do tempo não muito distante, onde faziam shows na casa noturna : "Rose Bom Bom", em São Paulo (ficava na Rua Augusta), e que nessa época marcada por modestas oportunidades, em sua ótica, tinham que usar táxis na Rua Augusta, às 5:00 horas da manhã, pois não tinham estrutura para ter um transporte próprio... cáspite ! Pensava eu... eles reclamavam do que ? Tinham dinheiro para tomar táxi ! Quantas centenas de vezes vi-me em um ponto de ônibus, sozinho, durante a madrugada, a esperar um ônibus e com um baixo na mão ?



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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 3 - Por Luiz Domingues


Acho incrível como pessoas esclarecidas não enxergam o óbvio ululante. Esse manifesto pela antimúsica criado por Malcolm McLaren, fora um mero golpe de marketing para promover a sua loja de artigos sadomasoquistas, e para tal intento, usara o Sex Pistols como garotos propaganda de seu golpe. Esse artifício em "chocar" com atitudes ultrajantes, foi para ter durado muito pouco tempo, mas o grande estrago mesmo, foi parte da mídia e os ditos "formadores de opinião", ao comprar essa ideia, e alçá-la a um patamar de superestimação exageradíssima. Com essa atitude, abriram não uma porta, mas um portal, para destruir todo o Rock e instituir uma interminável Era de obscuridade no gênero. Com a formatação do conceito de que "não era preciso saber tocar um instrumento, para ter uma banda", causaram um estrago sem precedentes, ao abrir espaço para o enaltecimento de pseudo-artistas, uma geração de músicos dotados com péssima condição técnica. Como enfatiza o próprio Ciro (inclusive já o vi a falar sobre isso, publicamente, em um documentário), foi uma geração de bandas "raquíticas". Pior e mais odioso do que enaltecer essa cambada de músicos péssimos, fora a agravante em massacrar, via mídia, a geração anterior. Nunca concordei com isso, é lógico !
Além de não achar razoável exercer o conceito de niilismo dessa forma, não conformo-me com o fato de agir-se deliberadamente para destruir a imagem do passado, pois é claro que trata-se de uma atitude fascista da pior espécie. 

Qualquer semelhança com um famoso romance de Ray Bradbury, não é mera coincidência. Não incomodar-me-ia em nada, que o Punk-Rock existisse, se não houvesse em seu bojo, toda essa execrável estratégia de marketing agressiva, e de viés nazifascista. 

Se apenas exercessem o seu direito em querer ser toscos e não aprender a tocar, tudo bem, para o meu conceito. Aceitaria democraticamente a diferença de mentalidade e eticamente, até apoiaria o fato deles ter esse direito ao livre arbítrio. Mesmo por que, só acredito em arte como expressão livre e espontânea. Pelo fato de não gostar da musicalidade ou no caso deles, ausência de, a minha opção respeitosa seria apenas baseada em não comprar discos ou assistir shows de tais artistas. Mas infelizmente não foi assim que os fatos de 1977, e sua decorrência, ocorreram. O fato de trabalhar acintosamente nesse sentido para execrar a música bem feita e executada, foi o que sempre incomodou-me. Eu gosto de muitos artistas que tem um espectro de atuação, baseado na simplicidade musical. Não tenho nada contra artistas que baseiam o seu trabalho sob um formato musical simples.


Na minha estante de discos, o T.Rex  vive em perfeita harmonia com o Gentle Giant. São extremos. Um é extremamente simples. O seu líder, Marc Bolan, morreu a saber fazer apenas seis acordes na guitarra, e só os básicos, nada sofisticados. 

O outro, é o supra-sumo da sofisticação musical. E o que os une ?
O mesmo produtor, um sujeito ítaloamericano, chamado : Tony Visconti. Portanto, eu nunca acreditei que a sofisticação musical deveria ser extirpada do Rock, como decretaram os seguidores de Malcolm McLaren. Em resumo : graças a instituição dessa mentalidade, o estrago criado foi enorme, e o tempo decorrido em consequência disso, inacreditável ! Reafirmo, tal mentalidade foi mega, ultra superestimada e o preço que pagamos por isso, é o de amargarmos trinta e sete anos (a publicar neste Blog, em 2014), de trevas no Rock, com raros e efêmeros lampejos de revitalização. Diante desse quadro, quando o Kim convidou-me para fazer parte da banda de apoio do Ciro, não que eu tivesse essa apreensão (mesmo por que, a minha insatisfação sempre foi institucional e jamais pessoal contra entusiastas dessa estética), mas por um breve instante, passou pela minha imaginação, que eu trabalharia com alguém daquela cena do Pós-Punk oitentista e daí, poderia esbarrar em controvérsias ideológicas. Contudo, essa pequena apreensão dissipar-se-ia, e pelo contrário, eu teria uma grata, muito grata surpresa ao conhecer enfim, o Ciro Pessoa...


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Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 3 - Por Luiz Domingues


Nesse recado, o Kim foi direto, e forneceu-me os seus telefones, ao convidar-me a ligar, e assim conversarmos mais detalhadamente sobre os seus planos imediatos. Um dos trabalhos, era obviamente integrar a sua banda, chamada como : Kim Kehl & Os Kurandeiros, com dois CD's lançados oficialmente, e uma infinidade de promos disponíveis pela internet. O trabalho seguia a linha básica do Rock'n Roll e do Blues, e assim, o som dos Kurandeiros também passeava pelo R'n'B; Soul; Pop; Country; Gospel; Folk, e demais derivados da raiz negra, norteamericana. Na ativa desde 1992, os Kurandeiros de Kim Kehl tinham bastante estrada & histórias.

E a outra proposta, surpreendeu-me : o Kim estava na banda de apoio do cantor / compositor, Ciro Pessoa, um ex-Titãs, e Ex- Cabine C, bandas oitentistas, e egressas da cena do Pós-Punk. 

Em princípio, achei exótico lidar com alguém dessa cena que sempre julguei ser antagônica aos meus ideais, mas claro que deixei preconceitos de lado, e aceitei conhecer o trabalho, e certamente entrar nele. Logo mais falo sobre a surpresa agradável que eu teria nesse contato com o Ciro, e muito pelo contrário, estabeleceria amizade instantânea com ele, e passaria a apreciar muito o seu trabalho solo, contido nos seus discos pós Titãs e Cabine C. Já estou a contar essa história paralela sobre minha a participação na banda do Ciro Pessoa, aqui no Blog 2. 

De volta a narrar sobre Kim Kehl & Os Kurandeiros, a minha conversa com o Kim foi muito positiva pelo telefone, e dessa forma, eu logo aceitei entrar na banda e trabalhar com ele. O baterista do "KK & K" era um velho amigo, que eu conhecia desde o início dos anos noventa, o Carlinhos Machado, um sujeito sensacional. Ele é uma das personalidades mais cativantes do métier do Rock paulistano, com mil histórias sobre os anos setenta etc. 

Eu o conhecera na loja do baixista, Sérgio Takara, quando ele, Carlinhos, também possuíra uma loja na mesma galeria da Rua Teodoro Sampaio. O Takara fora baixista dos Kurandeiros por muitos anos e lá em sua loja, eu também conheci o Kim, formalmente, nos anos noventa, embora o conhecesse de vista desde os anos oitenta. Portanto, entrar para o KK & K seria (e foi), muito agradável nesse aspecto, pois eu soube de antemão que não haveria nenhum problema de adaptação, ao sentir-me entre amigos, desde o início. E teve mais ! Naquele momento, o baixista em ação na banda, era o Glauco Teixeira, meu ex-aluno e um grande amigo, que aliás teceu várias considerações, em vários tópicos desta autobiografia, iniciada na plataforma da extinta rede social, Orkut. 
KK&K na Feira da Pompeia em maio de 2011, três meses antes de eu entrar na banda, e com Glauco Teixeira no baixo

Eu mesmo havia sugerido que ele entrasse nos Kurandeiros, tempos antes, ao fazer uma ponte, e agora, eu entraria no seu lugar, pois a agenda dele em sua outra atividade profissional, não estava a ajustar-se adequadamente à agenda dos Kurandeiros. Portanto, o KK & K tinha (e tem), um clima de irmandade muito grande para a minha história na música, e não só por esses músicos citados, mas por outros que citarei neste relato.

Esse contato telefônico ocorreu mais ou menos na metade de agosto de 2011. O Kim mandou-me arquivos, via E-Mail, de músicas para eu ir a preparar, mas com calma, sem previsão de estreia em curto prazo. O repertório inicial que recebi forjara-se em termos de Rocks e Blues, com pegada rítmica e harmônica, tradicional. Aparentemente seria simples para executar, mas eu sabia bem que no caso dos Blues, enganava-se o músico desinformado, que fosse "fácil" tocar, por conta da  sua aperente simplicidade harmônica. Na verdade, um Bluesman experiente, sabe bem quando alguém mete-se a tocar blues, e não é do ramo. Por isso, apesar de preparar o grosso das músicas, eu sabia que no momento crucial, haveria macetes aos quais, eu não tinha familiaridade para lidar com desenvoltura, e todo cuidado seria pouco. Porém, tudo ficou mais assustador, quando recebi o telefonema do Kim, em uma segunda-feira, dia 22 de agosto de 2011 ! De súbito, disse-me que o Glauco já não poderia estar presente no próximo show, e pediu-me para que eu empreendesse o "sacrifício" em encarar essa apresentação, já na quarta-feira subsequente, dia 24 de agosto.

-"Tudo bem, vamos lá"... respondi-lhe. Muito experiente e compreensivo, o Kim agradeceu e tranquilizou-me, ao dizer-me que ajudar-me-ia, e que falhas seriam relevadas, para eu tocar tranquilo. E assim, sem ensaios, fui para o meu primeiro show com os Kurandeiros de Kim Kehl...



Continua...