quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 63 - Por Luiz Domingues


Geraldo "Gereba": 

Nunca mais vi o Gereba depois da frustrada tentativa em reativar o Terra no Asfalto, na metade de 1982. Sei apenas que ele faleceu anos depois, por conta de uma cirrose. Não tenho essa confirmação oficial sobre a época do ocorrido, nem onde foi. O que posso dizer para ilustrar sobre ele, acredito já ter expresso amplamente no capítulo inteiro, sempre que referi-me à sua pessoa. Para reforçar, o Gereba foi um talento bruto, sem nenhuma instrução musical. Era puro ouvido e sensibilidade. Seu estilo era brasileiro, e o seu ídolo máximo foi o Pepeu Gomes, de quem tirou todos os solos à perfeição. E tal como Pepeu, tocava sem nenhuma estrutura digna de seu talento. Usava uma guitarra da marca "Rei" (parecida com a da foto acima), uma grosseira réplica da guitarra Fender, modelo Jazz Master, mas verdade, longe da qualidade da norteamericana famosa, e a revelar-se, péssima. Portanto, ele nunca teve uma guitarra importada com qualidade. 

Outro ídolo seu, foi o Alvin Lee. Mesmo sem entender uma só palavra em inglês, ele adorava o Ten Years After, e sabia tocar muitas músicas, a reproduzir fielmente o som do Alvin Lee, de uma forma muito emocionante. Como ser humano, o Gereba era um rapaz com boa índole. Sujeito simples e alegre, o tempo todo. Foi, guardadas as devidas proporções, uma espécie de "Garrincha" do Terra no Asfalto. Prosaico e ingênuo em certos aspectos, porém um monstro pela sua criatividade e desenvoltura à guitarra, tal como o jogador das pernas tortas, o foi em relação ao futebol. Assim como quase todos os membros do Terra no Asfalto, fico a dever uma foto, pois nada tenho em portfólio, tampouco achei na internet.

Wilson Canalonga Jr. ou "Wilsinho":

 
Na primeira foto, Wilson em foto bem mais atual a atuar ao vivo pelo nordeste. O Wilson usou no Terra no Asfalto, um modelo de guitarra exatamente como esse da foto, acima. Tratava-se de uma guitarra da marca, Giannini, modelo "Pingo de Ouro", preta como a da foto. Era uma guitarra que a Giannini lançara no mercado ao final dos anos setenta, como réplica da guitarra britânica, "Vox", modelo "Tear Drop", imortalizada pelo saudoso guitarrista dos Rolling Stones, Brian Jones, nos anos sessenta, que a usou bastante. Mas aqui no Brasil, esse modelo da Giannini também era conhecido como "Guitarra Craviola" ou "Pingo de Ouro"
 
Quando deixou o Terra no Asfalto, início de 1982, o Wilson já estava imbuído de um objetivo pessoal: estudar música. E de fato, ele se matriculou no "Clam", a famosa escola dirigida pelos componentes do Zimbo Trio. 
 
Naquela escola, que era excelente pela sólida pedagogia baseada em cursos norte-americanos, a mentalidade era excessivamente jazzística. Nada contra, mas quem entrava naquela egrégora, tendia a afastar-se do Rock, ao criar paradigmas e preconceitos.  
 
Encontrei com ele em 1983, mais ou menos e verifiquei que a sua mentalidade já estava diferente, só a citar as feras do Jazz, etc. e tal. Depois disso, fiquei muitos anos sem notícias, até que o Edmundo, nosso amigo em comum, contou-me em 2000, quando esteve presente em um show da Patrulha do Espaço, que o Wilson havia mudado-se para o nordeste, há muitos anos, e havia desenvolvido uma técnica enorme na guitarra, a tocar Jazz, e nem queria saber mais do Rock.  
 
Em conversa que tive com o Aru, ele passou-me mais informações, para enriquecer esta narrativa. Foi quando eu soube por exemplo, que ele, Wilson, estava a morar no Recife e teve outra filha. E indo além, soube também que no início dos anos noventa, ele chegou a formar uma banda orientada pelo Rock Progressivo setentista, com o próprio Aru Junior, denominada: "Nave". Após alguns desentendimentos, o "Nave" foi conduzido adiante pelo vocalista, Roger Troyan, ex-“Yessongs” (banda cover do Yes, cujo guitarrista fora o Aru Junior).
 
Essa circunstância não foi muito agradável, segundo o Aru contou-me, com discórdia sobre o nome da banda, sendo que o fundador e criador do nome, fora o próprio, Aru. Mas o Wilson mudou-se para Recife e a sua predileção era mesmo, atualmente, e desde muito tempo, o Jazz. Ele continua casado com a Consuelo, que no tempo do Terra no Asfalto, era uma adolescente bem novinha, apenas.
Paulo Eugênio tinha razão, Wilsinho tinha traços faciais bem parecidos com o Paul McCartney
 
A falar do Wilsinho que eu conheci ao final de 1979, ele era um guitarrista iniciante, mas com muita vontade de desenvolver-se ao máximo, na guitarra. Se nos solos e harmonizações, ainda não era o grande músico que viria a ser depois, a sua participação como guitarrista base, violonista e backing vocals do Terra no Asfalto, sempre foi muito importante. 
 
No quesito humano, era um rapaz tranquilo, gentil e sempre disposto a ajudar as pessoas. Fanático pelos Beatles, tinha bastante semelhança fisionômica com o Paul McCartney e nas apresentações, o Paulo Eugênio brincou muitas vezes com ele, ao chamar a atenção do público para esse detalhe. 
 
Em 2012, acrescento que através do Aru Junior, o guitarrista, Wilson Canalonga Junior, descobriu o meu endereço no Facebook e adicionou-me. Fiquei muito feliz com essa solicitação de amizade, e claro que o aceitei imediatamente e dessa maneira fui direto ao seu “inbox”, e escrevi-lhe uma longa saudação, onde expliquei-lhe a minha determinação de estar a escrever as minhas memórias, e que havia um capítulo exclusivo para contar a trajetória do Terra no Asfalto. 
Na foto recortada acima, a persona de Wilson Canalonga Junior a tocar com o Terra no Asfalto em março de 1981. Acervo e cortesia: Cido Trindade. Click: desconhecido
 
Para encerrar, eu reforço o meu agradecimento ao Wilson, pelo companheirismo que tivemos entre 1979 e 1982, quando atuamos juntos no Terra no Asfalto.
 
Continua...

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